Regresso a Ítaca
Uma amena cavaqueira num telhado
Criticar é fácil. Tem a ver com o gosto pessoal, com a personalidade de cada pessoa. Se algo não vai de encontro aquilo que pensamos ou idealizamos, damos por nós a sucumbir ao desejo de atirar pedras, a proclamar a nossa opinião. Mas é isto. Criticar é emitir uma opinião. Contudo, é bom que os críticos não se esqueçam: uma opinião não é uma vaca sagrada.
Hoje, na quase vazia sala de cinema, quando o filme “Retour à Ithaque” (título original) terminou e começaram a exibir os créditos, a primeira coisa que se ouviu foi: que estupidez, que perda de tempo.
“Retour à Ithaque” não será provavelmente um filme para o grande público e nem se calhar um para os grandes críticos de cinema. É demasiado despretensioso. Ora vejamos: história modesta, cenário paupérrimo, actores desconhecidos…. Nada parece abonar a favor deste filme realizado por Laurent Cantet – o senhor responsável pelo aclamado “Entre les Murs”. Mas quando o filme terminou e ouvi aquela crítica não consegui concordar com ela.
A história é deveras simples, sim, mas soa a honesta. Os actores são desconhecidos, é verdade, mas conseguem criar uma atmosfera de cumplicidade e por isso provam ser competentes na sua arte. A acção desenrola-se num telhado de um bairro pobre de Havana e não há qualquer mal nisso – “Twelve Angry Men” desenrola-se inteiramente numa sala de jurados e é um filme soberbo. Se considero “Retour à Ithaque” uma obra-prima do séc. XXI? Não. Claro que isto é a minha opinião, apenas outra entre muitas.
“Retour à Ithaque” é sobre uma reunião de amigos. E tal como numa verdadeira reunião de amigos, o grupo recorre ao baú das memórias e enche-nos com um diálogo fluido e envolvente e, sem nos apercebermos, o filme acaba. Isto também é cinema.
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