Rentrée Discográfica

Depois do Verão, os novos discos que verdadeiramente interessam, em listagem e análise na RDB

Época tradicionalmente de poucos lançamentos discográficos, o Verão transporta consigo uma maior sede de concertos, representados maioritariamente pelos inúmeros Festivais que, um pouco por todo o mundo, ocorrem nesta época. Lançamentos discográficos de grande relevo, esses, ficam guardados para o pós-Verão, essa altura de retorno às normalidades que dá pelo nome de rentrée (se existe na política, porque não existir na música também?).

Por ora, e já nos escaparates, há a registar o regresso de Bob Dylan (com o seu melhor registo de originais em muitos anos), um magnífico disco pop da autoria de Justin Timberlake, o regresso à boa forma dos Basement Jaxx, o novo abanão nas pistas de dança que é a novidade The Rapture ou a banda-sonora para um filme (ainda) não visto que é “Idlewild”, dos Outkast.

Para breve, temos segundos discos dos The Killers e Scissor Sisters e novidades de Beck e Jarvis Cocker (sem os Pulp, disco a solo). Já para não falar em compilações de R.E.M., Oasis e Echo and the Bunnymen ou nas reedições (versão deluxe) de alguns discos dos Pulp. Em campo luso, estreias de U-Clic, Slimmy e Linda Martini merecem destaque inevitável, isto sem esquecer o segundo de originais dos Loto e um disco (e DVD) ao vivo dos The Gift. Mas mais, muito mais.

Por ora, fica o destaque alargado a três projectos de cariz mais alternativo (com horizontes sonoros diferentes) e, na opinião pessoal do escriba, ainda não devidamente aclamados:

Susanna and the Magical Orchestra – “Melody Mountain” (Rune Grammofon/AnAnAnA)

Um disco de versões que, pasme-se!, dá bom nome aos discos de versões. Porquê? Simples. Susanna e Morten Qvenild (dos Jaga Jazzist) pegam em temas de gente de quadrantes musicais tão distantes como AC/DC, Scott Walker ou Prince e concentram todas as canções num único disco de uma solidez enorme e uma beleza não raras vezes indescritível. “Melody Mountain”, segundo trabalho do duo, contextualiza temas de outros em momentos únicos e, arrisca-se dizer, próprios. Individuais. Susanna e a sua orquestra mágica, o nome perfeito para um disco essencial. Para além do mérito óbvio de tomar como suas canções de outras gentes, “Melody Mountain” abre ainda portas para os caminhos percorridos pela editora Rune Grammofon, numa viagem que não será curta, longe disso, mas trará ao de cima outros nomes fundamentais com ligação a áreas como o jazz. Imperdível.
 
Bright Eyes – “Noise Floor (Rarities: 1998-2005)” (Saddle Creek/Popstock)
O título diz quase tudo. “Noise Floor (Rarities: 1998-2005)” consiste num apanhado de raridades, lados-b e faixas não editadas de Conor Oberst e companhia. Faixas, uma boa parte delas, à partida entregues ao quase abandono e aqui reunidas enquanto anestesia perfeita para a espera do novo de originais do projecto. Depois de três discos em 2005 (dois de originais e um ao vivo), 2006 aparenta ser um ano mais calmo por estes lados, com a edição desta compilação e a preparação de um novo punhado de temas a editar enquanto álbum apenas na Primavera de 2007. “Noise Floor (Rarities: 1998-2005)” não será, certamente, a porta de entrada perfeita para o mundo de Conor Oberst e companhia. Contudo, para conhecedores e apreciadores é um mimo e para novos aventureiros, pese a peculiaridade da edição, o risco é capaz de valer a pena. E atenção à edição em vinil que contém diversas canções extra.

Serena-Maneesh – “Serena-Maneesh” (Honeymilk Records/Popstock)
Desconhecidos até ver em solo luso (aparte eventual descoberta de melómano convicto), “Serena-Maneesh” data já do ano passado mas somente por estes dias vê distribuição nacional assegurada. E já dizia o provérbio: mais vale tarde do que nunca. Noruegueses de origem, os Serena-Maneesh apresentam-se, com o seu homónimo álbum de estreia, como uma das mais felizes novidades europeias em matérias de rock. Canções com nervo, intensas, à flor da pele, devedoras da escola My Bloody Valentine, mas com aulas posteriores sob a batuta de gente como Jason Pierce. Canções duras, tão belas quanto complicadas de assimilar e digerir. Um pequeno (grande!) soco no estômago cada vez menos comum – a surpresa marca aqui presença, em temas assentes nas influências certas mas já dignos representantes de uma banda de elevada maioridade. O disco perfeito para quem acha que poucas coisas interessantes se fizeram depois de “Loveless” (My Bloody Valentine) e “Nowhere” (Ride).



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