Rio Maravilha
Manel, vamos pra festa?
Quando penso no Rio Maravilha lembro-me sempre do meu colega Manel, da Faculdade. O Manel era um tipo porreiro: dava-se bem com toda a gente, independentemente dos gostos de cada um, estava sempre pronto para a festa – achava que a música era um elo de ligação fenomenal entre as pessoas -, e nunca dizia que não a uns belos petiscos regados de bebida como deve ser (ahh, festas universitárias!). Pois bem, meus amigos, a isto chama-se espírito de grupo e foi precisamente isso que encontrei no novo Gastrobar da Lx Factory. Por isso, se querem travar amizade com este copincha, saibam mais sobre a sua personalidade, que facilmente nos conquistou.
Há muito tempo atrás, o espaço onde agora funciona o Rio Maravilha foi uma antiga sala de convívio dos funcionários da fábrica de fiação que existia na Lx Factory. Reza a história que por aqui se estreitavam laços com quem aceitasse uma partida de dominó ou uma sueca a sério. Ciente disto, a Mainside – empresa que gere a Lx Factory – decidiu mostrar os seus dotes na arte de reciclar espaços e conceitos (ponha-se os olhos na Pensão Amor) e abriu este Gastrobar cuja palavra de ordem é o convívio. E como é que se promove o convívio, minha gente? O Manel podia explicar. Para começar, boa música: o Rio Maravilha tem uma programação musical que aguça os sentidos e que põe a malta a socializar. De Quinta a Sábado, podes ouvir o DJ residente ou convidado e Sábado conta também com uma programação muito trendy – de seu nome Tropikos – a partir da meia-noite: o seu pequeno palco recebe artistas que nos dão música dos quatro cantos do mundo, com pinceladas de funk, soul e disco.
As mesas grandes com jogos de tabuleiro e projecção de video-arte também dão origem a ajuntamentos simpáticos e quem o diz é Roger Mor, Relações Públicas do espaço: «As mesas grandes permitem que se juntem dois ou mais grupos que metem conversa uns com os outros. O ambiente festivo e o movimento artístico ajuda muito a que isso aconteça». Não tivemos oportunidade de nos sentar nas mesas com jogos de tabuleiro impressos nos tampos, mas devo dizer que mexeram comigo, até porque é possível pedir dados para jogar, no final do jantar. Nunca perguntei ao Manel se gostava de jogos de tabuleiro, mas aposto que sim: não há como negar que uma boa partida faz parte da bela arte do convívio! E aqui se prova: independentemente dos gostos – mais virados para o tradicional, para as novas tecnologias, ou para os dois – há distracção para toda a malta.
No fundo, o Rio Maravilha faz jus ao conceito de Gastrobar: um bar onde não é obrigatório fazer uma refeição completa: basta entrar, pedir um ou dois petiscos, uma bebida e tirar proveito da companhia e das distracções que se vão encontrando pelo caminho. Ou então, comer como se não houvesse amanhã. Também é possível. E foi o que nós fizemos.
Quando os cocktails e a comida são os melhores amigos
Tenho que admitir: se há bebida que faz com que eu fique muito tempo num lugar, são os cocktails. Há todo um ritual que me cativa: a preparação, o facto de experimentar mil e uma variações, o aspecto visual de cada um e até o ritmo lento com que o bebemos, acompanhado de excelentes conversas. Posto isto, confesso-me adepta de qualquer bar que se dedique a este tipo de bebida, desde que o faça com qualidade. Podes entrar no Rio Maravilha só para beber um ou outro cocktail na primeira sala, mas aqui os cocktails acompanham-te até ao jantar. O barman Fernão Gonçalves e o Chefe Diogo Noronha (também da Casa de Pasto, no Cais do Sodré) aliam-se numa missão muito importante: harmonizar o sabor de cada cocktail de autor com o sabor de cada prato (de influência das gastronomias portuguesa e brasileira). E em abono da verdade, em equipa que ganha, não se mexe!
O Rum Sour de Ananás Braseado deu-nos as boas-vindas e apaixonou-nos de imediato pelo sabor a alecrim e paprika, mas sobretudo pelo sabor a fumado. Esta é, aliás, uma das características que eleva este Gastrobar a outro nível: a presença da brasa, quer na comida, quer na bebida. A utilização do Josper – o “ferrari dos fornos” – é uma homenagem à cozinha portuguesa e dá um travo a braseado a muitas das opções da carta e isso é, simplesmente divinal. Casamento perfeito com as Asinhas de frango com molho romanesco, que para além do sabor imperdível elevou a experiência de comer com as mãos e tornou-se no momento mais divertido à mesa: não custa nada, é pegar a asa com a mão, puxar a carne de uma vez com os dentes et voilá! Limpinho! Sai tudo de uma vez!
A seguir provámos o Whisky Fizz de Tangerina, Lima Kaffir e Ginger Ale, ideal para quem gosta de sabores mais cítricos e leves. Juntaram-se os Corndogs de Alheira, mais uma vez com um maravilhoso travo a fumado e acompanhados com um molho de couve portuguesa super equilibrado; os Crocantes de Polenta e Queijo – sim, farinha de milho e queijo funcionam muito bem e, neste caso, têm a vantagem de ser chocantes por fora e cremosos por dentro – e os Cogumelos na Brasa, folhagens da temporada, nata azeda e castanhas, um prato espectacular, fresco e equilibradamente agridoce. A estrela dos pratos principais foi o Arroz cremoso de pato, cheróvias e alho negro, de onde sobressai a cremosidade típica de um risotto, a textura chocante da cenoura e o sabor doce da cheróvia (uma raiz, com sabor semelhante ao da batata-doce).
A odisseia terminou com a chegada do Gin com infusão de chá preto e especiarias, uma bebida que não podia combinar melhor com a sobremesa Chocolate 70%, com crumble de alfarroba, sorbet de cacao e chá verde em pó. O sabor forte a chocolate – perfeito para quem gosta de cacau a sério – não podia ter melhor companhia do que o sabor amargo e leve deste cocktail, para não enjoar.
Uma vista romântico-industrial
«O rio é bonito pra caralho»!, lê-se no espelho de uma das salas do gastrobar. De facto, e dizendo-o de uma forma politicamente correcta – sou uma menina – não há quem resista a uma vista para o rio.
No caso do Rio Maravilha, o Tejo serviu mesmo de inspiração pelo facto de simbolizar a época dos Descobrimentos e o convívio dos portugueses com outros povos. Sim, pôr os olhos sobre o Tejo, a Ponte 25 de Abril e o Cristo-Rei – principalmente daquela esplanada tão simpática – é uma maravilha, mas há um encanto para além disso, que cativa todos aqueles que também já se apaixonaram pela Lx Factory. Há toda uma perspectiva fabril que nos leva para outras viagens e que nos fazem apreciar a personalidade mais crua de Lisboa.
Com tanta coisa boa, alguém diga ao Manel que isto é melhor que a Faculdade!
Morada: Rua Rodrigues Faria, nº103 | Lx Factory | Entrada 3, piso 4
Telefone: 966 028 229
Horário: Terça, 18h-02h | Quarta, 12h30-02h | Quinta a Sábado, 12h30-04h | Domingo, 12h30-18h
Créditos de fotografia: Rio Maravilha e Pedro Rodrigues
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