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Rita Vian @ Teatro Tivoli BBVA (26.10.2021)

O palco está praticamente nu. Apenas vislumbramos, ao fundo do canto esquerdo, a maquinaria que João Pimenta Gomes utilizará para dar corpo às palavras que Rita Vian debitará conscientemente ao microfone. Uma filosofia espelhada em todo o espectáculo, beneficiando de uma gestão comedida e perspicaz das luzes.

A protagonista entrou no palco com uma leveza que parecia contrastar com o que nos apresentará em seguida, como uma boa anfitriã abrindo as portas de sua «Caos’a». São constantes, aliás, os cruzamentos de sensações, que nos vão surpreendendo ainda mais devido à aparente simplicidade com que tudo está elaborado. A mescla do fado, e doutros cantares populares, com elementos e batidas electrónicas é a principal, claro está. Construções que nos remetem para o hip-hop e para o trip-hop, concebidas de forma sóbria, e que permitem que o holofote esteja continuamente apontado para a voz e palavras que Rita Vian emite imaculadamente. Ritmos que tanto nos permitem embalar e bater o pé na mesma cadência com que Rita cantarola, como criam cenários de autêntico suspense (como em «Diágonas», por exemplo).

Ajoelhou-se várias vezes a protagonista em palco, como se estivesse em casa, no seu quarto, local onde brotaram várias destas canções. Foi nesta postura que Rita Vian, maximizando o intimismo, nos brindou com «Sereia» e, pouco depois, com uma arrepiante composição caseira que entoa desde criança, e que somente descobriu mais tarde que se tratava de uma criação familiar. E a casa deste início de noite, o sempre belo Teatro Tivoli BBVA, estava recheado de familiares e amigos que não só obviamente a acompanham nesta caminhada, como também não quiseram perder pitada agora que os grandes palcos se tornam realidade.

Antes de reinterpretar «Tudo Vira» (para não nos deixar sem encore), a dupla em palco reconstruiu bem à sua maneira o fado «Carmencita», popularizado por Amália Rodrigues. Foi um excelente postal de despedida, sintetizando a forma como Rita Vian aborda o cancioneiro, num exercício ainda mais arrojado, trazendo-nos à mente o trabalho que Lina e Raül Refree têm executado.

Para além do repertório, ainda curto, Rita Vian brindou-nos com versões e inclusivamente um tema não editado, servindo perfeitamente para patentear que há algo de muito especial em si e nesta sua obra em crescimento. Catapultada e enriquecida, em boa hora, pelo toque de Midas de Branko, Rita Vian tornou-se claramente numa das brisas mais refrescantes da música nacional em 2021, não sendo de estranhar que nomes mais afamados pareçam aproximar-se vertiginosamente desta sua fórmula mágica (inserir emoji dos olhos).



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