ROBES

A vida, de robe e ao som de uma marcha

“ROBES” é 3 em 1: Teatro, Vídeo e Instalação. Estreia dia 30 na Rua das Gaivotas6.

No escritório dos Artistas Unidos, Isabel, Diogo e Dinis, mantém os ensaios do espetáculo que estreia em menos de uma semana.

Há um sentido de cooperação nesta coletividade que não se encontra com muita facilidade, entre a encenadora e os dois atores: surgem as ideias, repete-se e tenta-se outra vez, porque acima de tudo é tempo de experimentação. Aquilo que se quer é que as palavras ressoem na mente de quem as proclama e de quem as escuta.

Aqui mais do que cenas ou diálogos, trabalha-se por cima do momento, do estado e das energias.

RDB: Fala-me um pouco do teu método como encenadora, para este espetáculo.

Isabel: Não consigo falar em “método” mas só te posso dizer que foi muito desafiante, a vários níveis. Primeiro que tudo trabalhar um texto próprio parece à partida mais fácil mas não é bem assim. Há uma espécie de liberdade enganosa que, por mais voltas que dês, vais sempre parar à mesma questão: mas onde é que eu estava para escrever isto? Neste caso, o texto do ROBES sofreu várias alterações… Inicialmente escrevi-o a pensar num monólogo e aos poucos tornei-o num diálogo entre dois homens mas creio que a raiz do monólogo/pensamento individual ficou sempre, o que também influenciou a forma como trabalhámos o texto. Quis criar uma espécie de dois universos paralelos no mesmo espaço, mantendo uma relação entre os personagens à mesma. Ao início, acho que, talvez por um pouco medo de exigir este formato aos atores e a mim própria, tentei ir pelo lado mais realista: dois homens, um diálogo dito “normal”… mas percebi que esse molde, por mais que funcionasse, não estava dentro do que eu queria experimentar, e que está também diretamente relacionado com o facto de termos também um vídeo (criado pelo Nelson) para o mesmo texto: ou seja, é todo um labirinto não só de reflexões, estares, pensamentos, mas da própria ideia, que se estende à vida.

“(..)mas há tanta merda a acontecer, que às vezes o melhor é mesmo estar parado. Estar de robe em casa a ver passar o mundo. O robe aqui como proteção, máscara quase, do que há lá fora”

De que forma é trabalhada esta (des)conexão entre os dois: o que está ao cargo dos atores e o que é marcado por ti?

Tentámos marcar o mais possível mas é verdade que do meio para o fim (e atenção que se trata de uma peça curta: cerca de 35/40 minutos), os atores estão mais livres e cada dia/ensaio é diferente. Não me faz confusão nem medo deixar esta parte do espetáculo “em aberto” porque confio nos atores, no que fizemos até aqui.

Porquê a escolha do Diogo e do Dinis para interpretarem este texto da tua autoria?

Conheço o Dinis há quase dez anos. Fizemos o liceu Camões juntos e fundámos, com colegas e a atriz Tânia Alves, em 2009 o coletivo teatral Telhado de Zinco Frio, estávamos ambos no 12º. Apesar de não ser ator profissional, é um rapaz cheio de uma graça ingénua e sincera. É uma pessoa de que gosto muito. Foi a primeira pessoa que eu pensei para este projeto e tratei logo de falar com ele, aproveitando que ele tinha acabado de regressar a Portugal depois de uma temporada na Irlanda. Já o Diogo, conheci-o numa figuração para um filme francês. Na altura, tinha acabado de ficar sem o ator para o outro personagem e houve qualquer coisa no Diogo que me interessou, um rapaz simpático, inteligente, uma voz brutal e com gana de fazer coisas. E eu gosto disso. Quando voltei a pegar na ideia do projeto, lembrei-me dele e propus-lhe. Não houve audições, nem leituras, nada. Foi um tiro no escuro. E correu muito bem!

“(…)um deles viu qualquer coisa que o mudou, talvez para sempre, ou não. Ele não sabe o que é, não sabe explicar, é paradoxal na descrição e ninguém o pode ajudar. E que coisa é esta? Queremos entrar no jogo e tentar perceber o que é ou também nos cansamos?”

Há algum tipo de crítica implícita neste texto, sobre a imobilidade para a qual o ser humano tem tendência quando está em “choque”? Ou pelo contrário, há uma abordagem à compreensão da mesma?

Sim, foi inevitável. Estamos perante dois tipos de imobilidade: a física, que carrega uma cabeça cheia de tentativas frustradas, acumulação de negativismos, falsos arranques e, por outro, uma imobilidade que está mais relacionada, a meu ver, com um corte na vida fora de casa, das quatro paredes; uma vida/atividade que se resume ao que se passa dentro, porque simplesmente já se desistiu do que há lá fora. Por outro lado, e como dizes e bem, há também uma certa compreensão desta imobilidade porque, e perdoa-me a expressão, porra, mas há tanta merda a acontecer, que às vezes o melhor é mesmo estar parado. Estar de robe em casa a ver passar o mundo. O robe aqui como proteção, máscara quase, do que há lá fora. Ouve-se falar da morte do pai de um, da mãe de outro, de prostituição, de cansaço… E no meio disto tudo volta-se ao assunto inicial: um deles viu qualquer coisa que o mudou, talvez para sempre, ou não. Ele não sabe o que é, não sabe explicar, é paradoxal na descrição e ninguém o pode ajudar. E que coisa é esta? Queremos entrar no jogo e tentar perceber o que é ou também nos cansamos?

Somos feitos daquilo que lembramos, bem aqui dentro de nós próprios, as conversas que não temos com ninguém a não ser connosco mesmos, com as nossas entranhas. Os cigarros que fumamos e as frases que rabiscamos e que mais ninguém lê. Somos feitos das conversas que temos sem o outro mas enquanto o outro lá está. Mas quem é o outro e porque está lá?

Robes

 

Há uma cadeira, uma bateria e uma mesa.
Há um “zig-zag circular” na nossa cabeça, silêncios reconfortantes e outros tantos tão desconfortáveis que urge uma desconexão dentro da conexão entre dois homens que não sabemos quem são, o que os une, de onde vêm e para onde vão.
Há algo que aconteceu, que não se esquece e uma música de marcha de escravos americanos que não podia ser outra qualquer.

Há tudo isto num espetáculo que traz ainda uma instalação vídeo, que ocorre em paralelo e em loop da peça de Isabel Milhanas Machado, com interpretação de Dinis Lourenço e Diogo Andrade, com estreia marcada dia 30 de Março, na Rua das Gaivotas6.
Na Rua das Gaivotas6:
30 de Março a 1 de Abril / quarta a sexta, 21h30
5€ (preço único)

reservas para: ruadasgaivotas@teatropraga.com

de Isabel Milhanas Machado
com Dinis Lourenço e Diogo Fernandes Andrade
vídeo: Nelson P. Ferreira
apoio técnico: Ricardo Silva

 

PASSATEMPO

 

Temos um convite duplo para oferecer para o espectáculo de hoje às 21:30. Basta preencheres o formulário e responder à pergunta: Qual o nome do colectivo teatral fundado por Isabel Milhanas Machado em 2009? (resposta na entrevista em cima)

 

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