“Robopocalipse” | Daniel H. Wilson
Hollywood à perna
Desde a sua fase embrionária que “Robopocalipse” (Bertrand, 2014), a obra literária de Daniel H. Wilson, está em conversações para ser adaptada ao cinema. Os estúdios de Hollywood farejam estes blockbusters em potência mal começam a ser escritos, após amena cavaqueira entre agentes e editores. O homem que se responsabilizou pelo projecto, Steven Spielberg, decerto se assustou com a cifra que figurou no orçamento para efeitos especiais, dado que entretanto o filme foi adiado devido aos custos e por tempo indefinido.
Alicerçado no instinto de sobrevivência humano, o romance de Wilson aproveita relatos “orais” de uma colossal luta à escala planetária contra a ameaça robô encabeçada por Archos. Esta Némesis da humanidade é uma espécie de Skynet que se manifesta num holograma e voz de criança, porque se há algo a aprender com filmes como Poltergeist (lá está, produção do senhor Spielberg) é que as crianças conseguem ser assustadoras.
Seguimos de perto o relato vitorioso americano, japonês e inglês, cabendo aos chineses e russos o infortúnio das missões falhadas. Reunidos estão os ingredientes que dão aquele toque de trama multi-personagem/internacional que Hollywood adora, recheados de estereótipos que parecem persistir na cultura ocidental – é claro que o personagem japonês tem um androide sexual e é claro que os nativo-americanos gostam de conviver à volta de fogueiras.
Ao contrário daquilo que alguma crítica diz, “Robopocalipse” não nos faz pensar assim tanto na “nossa dependência da tecnologia”. Foca-se demasiado em sequências de acção e em suscitar imagens que farão o leitor virar página após página, sendo que não resta qualquer margem para reflexão filosófica. Ficamos com esboços de personagens numa trama que cumpre todas as regras do género, (bem) recriadas até à exaustão.
Este espécime de romancista labora a pensar no quão “adaptável” será o seu trabalho. Postas as coisas, a obra de Wilson partilha mais em comum com grandes referências do cinema de ficção científica norte-americano do que com literatura de género. Porém, se quisermos encontrar semelhanças, ou melhor, influências directas não creditadas, busque-se à estante “World War Z”, de Max Brooks, que ganha com vantagem pelo simples facto do Apocalipse zombie ser bem mais interessante que o dos robôs.
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