Rock In Rio Lisboa 2014 | Quarto dia (31 de Maio)
A primeira surpresa e a confirmação – entre o sublime, a magia e a entrega total
Sexta-feira, vésperas de fim-de-semana, yeah! O sol a espreitar e a raiar em pleno Parque da Bela Vista onde se ansiava pela banda canadiana Arcade Fire. No dia do Rock In Rio Lisboa em que “apenas” 47 mil e 500 pessoas estiveram presentes – um número em muito inferior comparativamente aos restantes dias do certame – houve uma bonita surpresa: a neozelandesa Lorde.
O dia começou com os lisboetas Capitão Fausto no palco Vodafone, que desde o início do festival nos tem apresentado música nacional e para todos os gostos. O novo trabalho “Pesar o Sol” marcou presença, como não poderia deixar de ser e o público mostrou-se bastante receptivo. Mas, entretanto, o relógio marcava as 19 horas e indicava o início da homenagem ao grande mestre António Variações no palco mundo. Ao longo dos anos, têm sido muitas (e de variadas formas) as homenagens ao falecido cantor que marcou toda uma geração musical. Em palco marcaram presença a fadista Gisela João, Linda Martini, Deolinda, Rui Pregal da Cunha, Paulo Pedro Gonçalves, Flak e Samuel Palitos. Os músicos iam rodando entre si, consoante as canções interpretadas – desde «Quero é viver», «Anjinho da Guarda», a «Adeus que me vou embora» e os inatingíveis êxitos «Estou além» e «O corpo é que paga». Tudo corria de forma muito bonita até à actuação de Deolinda, inclusive. O conceito geral da homenagem fez sentido, mas as interpretações foram bastante díspares. Mas, opiniões à parte, esperemos que Variações, onde quer que esteja, esteja bem e feliz por todos nos lembrarmos dele com muito amor e carinho. Tal como disse Rui Pregal da Cunha, e com toda a razão, “O António tinha uma coisa incrível… Só fez músicas que todos os portugueses conhecem”.
Rumamos novamente ao palco Vodafone, onde o vaivém se torna uma romaria. Pelo menos a subida da colina faz-se sem grandes correrias, empurrões e pisadelas, visto que o número de pessoas por metro quadrado era diminuto. Os Wild Beasts, grupo britânico que tem tido maior expressão nas rádios nacionais, trouxe na sua bagagem os seus quatro discos editados. O público, esse, estava bastante rendido à comunicação do vocalista Hayden Thorpe que não poupou elogios ao nosso País, desde o vinho às raparigas. Confessamos que não vimos pessoas ferozes em palco, nem muita animalidade. Foi sempre tudo tão tranquilo, excepto o som, cujos graves quase faziam rebentar o coração.
Passando à frente, eis que as luzes do palco mundo abraçam o negro da noite. Ao fundo emerge uma figura vestida de branco, lábios roxos e sapatos pretos com plataforma. Lorde, a menina de 17 anos mas com um carisma do tamanho do universo, é recebida em apoteose por um público expectante. Com dois EP’s editados e o longa duração “Pure Heroine”, Ella Yelich-O’Connor dirige-se à plateia de forma humilde e apresenta-se acompanhada por mais duas pessoas – um baterista e um teclista / sintetizadores. Já dissemos que a miúda tem carisma? Presença? Repetimos! Por entre canções, tais como «Glorry and Gore», «Biting Down», «Tennis Court» – à qual houve uma chuva de aplausos e gritos -, e «White Teeth Tennis», Lorde agradece a Lisboa e ainda acrescentou que os seus amigos, os Arcade Fire, lhe tinham dito que o público português era excelente e que tinham razão. Danças dionisíacas, electrizantes, contagiantes, letras que viram hits em formato automático, Lorde continua a ser um fenómeno por entre os demais. Tudo decorre de forma intimista e corre-lhe musicalidade nas veias. Eis que chegou a hora de «Royals» e «Team» onde a chuva de confettis brindou de alegria os olhos de todos os presentes e com eles deu por terminado o concerto acompanhado com «A World Alone». No final do concerto houve quem perguntasse: Lana Del Rey ou Lorde? Respondam vocês. Apenas podemos acrescentar que Lorde veio e venceu. Corações ao alto!
Entre trocas de lugares com o público e com fé para chegar o mais perto possível do palco mundo, quando demos por nós estávamos junto às grades, tal como em 2011 no Super Bock Super Rock. O que mais queríamos ver? Arcade Fire, pois está claro. Enquanto os roadies preparavam a parafernália de instrumentos e acertavam os reflectores / holofotes, ouvíamos como pano de fundo a chamada cumbia que prometia um cenário festivo. Ainda tentámos procurar o boneco reflector que costuma fazer anunciar o grupo, mas nem sinais dele; surgiria mais tarde. Uma voz portuguesa fez anunciar os canadianos e assim surgem os primeiros acordes de «Reflektor» após a introdução de um pequeno vídeo. Posto isto seguiu-se «Flashbulb Eyes», «Neighborhood #3 (Power Out)» e «Rebellion (Lies)» em forma épica com o público a gritar de forma aterradora. “Funeral” foi o primeiro disco do grupo e rapidamente os catapultou para a fama. Seguiu-se “Neon Bible” gravado no interior de uma igreja, mas que não teve a receptividade esperada. “The Suburbs” continua a ser considerado o melhor disco da banda e, em 2013, “Reflektor” surge para, mais uma vez, divergir opiniões. Trata-se de um disco mais dançável, mais desprendido, e isso comprometeu alguns fãs. Contudo, é esta reinvenção da banda que mais nos agrada, sem nunca perderem a misticidade que os caracteriza. Win Butler é um imponente mestre-de-cerimónias que sabe muito bem causar impacto, enquanto Régine Chassange esbanja felicidade, sorrisos e uma doçura intermináveis. Os restantes elementos do grupo também parecem divertir-se e assim se faz uma festa – em colectivo.
«Joan Of Arc» faz as delícias de todos, «Rococo» acaba por esfriar o ambiente, mas depressa aquece com o hino «The Suburbs» no qual Win Butler refere que esta é uma música sobre a saudade. Após duas tentativas de interpretar «Month Of May», Butler avança para um momento a cappella para «My Body Is a Cage». Seguiu-se o maravilhoso «Neighborhood #1 (Tunnels)» e «No Cars Go» – escusado será dizer que estas duas canções provocaram quase um cataclismo de emoções com toda a gente a cantar e a pular. Mais uma vez, Régine volta a encantar com «Haiti» e a tocar pandeireta com fitinhas, seguindo-se as duas melhores canções de “Reflektor” – «We Exist» cujos ecrãs transmitiram uma coreografia simples e «Afterlife», onde surge o mirrorman no centro do público. Neste mesmo local, posteriormente, encontra-se Régine e um esqueleto que a acompanha em sintonia com a voz de Butler na interpretação de «It’s Never Over (Oh Orpheus)» e «Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)».
Como diz o ditado, o que é bom acaba depressa e nós só queríamos voltar atrás no tempo para que tudo começasse de novo. «Normal Person» glorificou-se e eis que surgem os “The Reflektors”, ou melhor, os gigantones que caracterizam a própria banda. Por debaixo de um desses gigantones encontra-se Lorde que ainda toca sintetizadores em «Here Comes The Night Time», em que o tornado de confettis sobrevoou as nossas cabeças (houve quem ainda tivesse ingerido alguns dos papelinhos) tornando a «Wake Up» ainda mais arrebatadora.
No fim, também nos questionámos: qual foi melhor? Este concerto ou o de 2011? Não conseguimos responder. Igualmente épicos, maravilhosos. Um trabalho de performance excelente que resulta sempre bem, seja qual for o registo dos próprios. Apenas esperamos que, numa próxima, os Arcade Fire actuem num local em nome próprio. Aguardamos por isso!
Fotografia por Graziela Costa. Fotos aqui: 25 de Maio; 29 de Maio; 30 de Maio; 31 de Maio;1 de Junho.
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