Rock In Rio Lisboa 2014 | Segundo dia (29 de Maio)

Rock In Rio Lisboa 2014 | Segundo dia (29 de Maio)

O festival / concerto ou concerto / festival – a jogada perfeita

Este País à beira-mar plantado, chamado Portugal, esteve novamente nas bocas do mundo. Quem ache que a organização do Rock In Rio Lisboa não tem tipos inteligentes, engane-se. The Rolling Stones como cabeça-de-cartaz num festival é só motivo suficiente para estarem jornalistas da agência Reuters e de vários pontos do mundo presentes. Match Point. Comecemos com números e estatísticas pois é algo a que praticamente todos dão relevância – lotação esgotada (perto de 90 mil pessoas), 83% do público foi apenas para ver o grupo britânico e 53% do público era a primeira vez que estava na cidade do Rock. Assim se comprova que a música é motivo mais do que suficiente para unir as pessoas, talvez mais do que o futebol. E como um festival é isso mesmo – juntar pessoas – passemos então à reportagem propriamente dita.

Embora só se respirasse e visualizasse a imagem dos The Rolling Stones por todo o lado (quase conseguiu bater o record de selfies tiradas ao longo do dia), o segundo dia do Rock In Rio Lisboa teve outros concertos igualmente bonitos. A chegada ao recinto fez-se sem complicações e filas, mas a massa humana que se avistava no relvado do palco mundo já era notória. T-shirts com a frase “Lick Me”, corpos semi nus, até um senhor sentado num banco de plástico ao lado da interminável fila para adquirir um sofá insuflável – foi o vale tudo neste dia que se esperava longo.

O “nosso” Frankie Chavez fez as honras do palco Vodafone. Perto das 18 horas, o músico e compositor subiu ao palco, juntamente com João Correia na bateria, fazendo com que o blues e o rock se misturassem no ar e os corpos abanassem ao seu ritmo. «I Don’t Belong Here», «Love Gone», «Pshychotic Lover» e «Search» – ou “a música mais conhecida por passar na televisão a ilustrar um anúncio de azeite português” -, foram algumas das canções interpretadas conjuntamente com Nuno Lucas no baixo. Chavez fez-se acompanhar do seu mais recente disco “Heart & Spine” e os aplausos foram bastante ruidosos, assim como o volume dos amplificadores que deveria estar perto do limite. O cantor aproveitou para agradecer ao público e o convite por estar a partilhar aquele palco no dia em que os seus ídolos iam tocar, tornando “tudo mais especial”. Enquanto Chavez encantava, o público desfilava o seu charme entre roupas a rigor e copos de cerveja.

Aproveitámos e desfilámos também até à Rock Street onde um escocês, igualmente vestido a rigor, tocava gaita-de-foles, enquanto a guarda inglesa fazia continência. A afluência de público começava a complicar a circulação pelo recinto mas, mesmo assim, muitos eram aqueles que iam abanar a bunda enquanto se ouvia, num stand de publicidade, “quem não dança tem cu mole, quem dança tem kuduro”. Vale tudo round#2!

Enquanto aproveitámos para recarregar energias, surgem os rumores de que Bill Clinton e Bruce Springsteen estão no recinto para assistir ao concerto dos The Rolling Stones. Até o nome do Cristiano Ronaldo chegou aos nossos ouvidos. Ao vivo só vislumbramos o “Boss”, mas a restante imprensa já fez confirmar que o antigo presidente dos Estados Unidos da América estava realmente presente. Há que saber conjugar planos.

Êxitos em Português de Portugal, em Português de Brasil e com ritmos angolanos à mistura, o concerto decorreu em grande animação por parte dos artistas e, a julgar pela reacção do público, estes também gostaram. Foi uma boa maneira de entreter os presentes.

20 horas e a romaria no palco Vodafone recomeçou com a presença dos Triptides em palco. «Set You Free», um dos singles mais conhecidos do quarteto a abrir as hostilidades de uma lista de canções veraneantes, embora «Summer is Over» faça mais justiça ao tempo meteorológico que se fazia sentir. Em Português pouco treinado, o vocalista Gleen Brigman cumprimenta o público e afirma que o grupo está muito feliz por estar em Portugal – “Isto é incrível”, diz. Entre «Graveyard», «Tapestry», «Thrones of Stares» e «Colours», Gleen Brigman partilha o microfone com Josh Menashe fazendo assim um contraste vocal mediante as canções apresentadas.

Descendo os vales, desviando-nos das pessoas (que vamos sair na próxima!), eis que avistamos artistas de peso – os veteranos Xutos & Pontapés voltam a brindar-nos com êxitos como «Contentores», «Ai se ele cai», «Chuva Dissolvente» e «A Casinha». Zé Pedro (que apresentava a armadura de braço mais fixe de sempre!), Tim (o Xerife) e restantes companheiros, aqueceram os corações dos milhares de pessoas que aguardavam o seu lugar. Muitas delas aproveitavam para jantar e repor energias enquanto, ao mesmo tempo, cantarolavam uma ou outra música que lhes fazia sentido.

Depressa passou o tempo e o norte-americano Gary Clark Jr. sobe ao palco mundo oferecendo cor e harmonia com o seu blues. O artista, que já marcou presença numa edição do Super Bock Super Rock, regressou com a bagagem cheia de bonitas sonoridades, terminando a actuação com o poderoso «Bright Lights». Pelo meio, «If Trouble was Money», «Please Come Home» e «Things Are Changing» ecoaram pelo recinto da Bela Vista, mas já com a adrenalina no máximo para o que iríamos assistir a seguir.

23h45. Frio. Ondas de pessoas. Cabeças no ar. The Rolling Stones surgem após uma pequena apresentação vídeo. Mick Jagger, de casaco prateado, realmente parece um ser de outro planeta. Se há dois anos assistimos aos Maroon 5 a interpretar «Moves Like Jagger», nunca pensámos que iríamos assistir a esses moves de forma real. Milhares de câmaras fotográficas no ar para apanhar o melhor ângulo, quer de Jagger, quer de Keith Richards, quer dos ecrãs gigantes. A pintar o cenário do ponto de vista do público havia bandeiras de vários Países: Colômbia, Argentina, Itália, Reino Unido, Espanha, e claro, Portugal. Parecia um pré-aquecimento à Copa do Mundo de futebol! «Jumping Jack Flash», «It’s Only Rock’n’Roll» e «Live With Me» deram o mote para duas horas de espectáculo e performance.

Sem qualquer um de nós prever, e após um pequeno diálogo em Português muito bem conseguido: “Olá Lisboa, olá Portugal, é bom estar de volta. E não sei mais palavras em Português”, referiu Jagger (depois verificou-se não ser verdade pois falou muito mais em Português ao longo do concerto), Jagger chamou Bruce Springsteen para o acompanhar à voz e guitarra no tema «Tumblin’ Dice». Gritos, êxtase. O mundo podia ter terminado que ninguém daria conta. Os olhos estavam postos no centro do palco onde os dois músicos deram tudo o que havia para dar. E nem vamos aqui referir a questão da idade.

Posteriormente, e entre «Wild Horses» e «Doom & Gloom», Jagger e os seus movimentos que ultrapassam qualquer maratonista agradecem aos portugueses Xutos & Pontapés enquanto aproveita para chamar ao palco Gary Clark Jr para o acompanhar à guitarra em «Respectable». E assim exigiu – respeito! Seguiu-se «Out of Control» e «Honky Tonk Women» após apresentação dos restantes músicos que partilharam a sua magia com todos os presentes. Keith Richards, veterano guitarrista, aproveitou para espalhar os seus riffs de guitarra interpretando «You Got The Silver» e «Can’t Be Seen» dizendo anteriormente que «é bom estar aqui, mas é bom estar em qualquer lugar».

De harmónica em punho, Jagger regressa, agora com um casaco de fato de treino, interpretando «Midnight Rambler» e «Gimme Shelter». Jagger, de facto, não pára um segundo, um minuto. Nada. Mantém assim a jovialidade a que nos tem habituado desde o início da banda.

“Estão a divertir-se? Querem cantar comigo?”, questiona, enquanto o público grita em êxtase. Ainda houve tempo para especular se Portugal iria ganhar o mundial de futebol e que gostaria que a final fosse Portugal contra Inglaterra. Por nós, nada contra. Mas já ficámos a ganhar! Para o fim, as cinco melhores canções: «Start Me Up», «Sympathy For The Devil» – onde Jagger surge com uma imponente capa vermelha de plumas -, «Brown Sugar», «You Can’t Always Get What You Want» e «Satisfaction».

Ainda que tenhamos visto Jagger no tamanho de um polegar, a experiência foi memorável. Valeu a pena cada encontrão, cada compasso de espera. Dificilmente os The Rolling Stones voltam a Portugal, pelo menos em concerto. Mas que comprem por cá uma mansão e os possamos ver, nem que seja em fotos paparazzi. Obrigado Stones, foi um prazer conhecer-vos.

Fotografia por Graziela Costa. Fotos aqui: 25 de Maio; 29 de Maio; 30 de Maio; 31 de Maio;1 de Junho.



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