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Rodrigo Amarante @ Capitólio (19.04.2022)

Um momento único que fez aquelas centenas de pessoas que decidiram estar ali, numa terça à noite, sentirem-se as pessoas mais felizes do mundo.

São 21h em ponto. Naima Bock, membro fundador dos Goat Girl que, entretanto deixou para abraçar outros projetos, sobe ao palco do Capitólio. Uma voz grave e com um português surpreendentemente bom, com uma pronúncia vincadamente brasileira, onde passou a infância. São simples canções folk, com uns toques de jazz aqui e ali. Pelo meio surge um microfone que confere um reverb e um toque mais único às suas canções. 30 minutos que se foram tornando mais e mais ingratos, fruto do ruído vindo do fundo da sala.

Rodrigo Amarante tem em palco um microfone e um amplificador. Simples. Mínimo. Há também fumo, que viria a ser descartado a pedido do próprio, mais à frente; “Dá para desligar o fabricante de neblinas?”. São 21h45 quando Rodrigo Amarante entra em palco, de violão branco em punho e com uma leveza, que muito fica a dever a ausência da barba.

«Evaporar», dos Little Joy, que Amarante integrou juntamente com Fabrizio Moretti e Binki Shapiro, é a primeira canção e assenta que nem uma luva, “Tempo a gente tem / Quanto a gente dá”, numa altura em que, de uma forma ou de outra procuramos retomar velhos hábitos, mesmo que perante uma nova realidade. Seguimos para “Drama”, álbum grande de 2021, que marcou o regresso de Rodrigo Amarante às edições, oito anos volvidos sobre “Cavalo”. «Tara» tem aquele toque delicioso da bossa nova e a química é imediata. É como um embalo colectivo que prossegue em «Tango», que tem os coros garantidos e um simples e singelo “obrigado, gente”. Sorrimos.

Paramos em “Cavalo” e num sussurro escutamos «Nada Em Vão», canção bela e crua. Entre canções há sempre espaço para curtos diálogos e monólogos, onde ficamos a saber que inicialmente a banda deveria acompanhá-lo, mas que fruto das circunstâncias não foi possível. A decisão passou por vir a solo ou não vir. Nós ficamos gratos pela escolha. Regressamos a “Drama”, desta vez para escutar “I Can’t Wait” e durante pouco mais de três minutos os nossos corações batem num sincronismo absoluto. As canções, surgem todas elas em versões minimalistas, mas a voz e a presença de Rodrigo Amarante elevam-nas. Está sempre tudo certo. «Tao» é nos entregue com sua expressividade ímpar, deambulando entre o português e o inglês, mas sempre num registo seu.

«Cometa» é cantada em uníssono e arrepia. Segue-se «Tuyo» da banda sonora de Narcos. Nesta altura percebemos que perdemos por completo a noção do tempo. É altura de reencontros e de matar saudades. De amigos e das canções. Ouvimos «Um Milhão» e «Maré», esta última inicialmente dedicada a todos nós, mas depois com uma dedicatória especial para Moreno Veloso, que participa na canção e que, para nossa felicidade, estava ali presente. Cantamos todos, naturalmente. Há também os assobios e o jogo de anca, tudo certo. «Ribbon» é majestosa. Estas canções correm-lhe no sangue e nenhuma palavra ou nota nos deixa indiferentes.

«Tardei» surge no momento certo. Há coisas que sabemos que precisamos, mas quando as estamos a vivenciar, é que percebemos realmente o quanto precisávamos delas. Ao fim de quase 1h em palco recebe uma imensa e merecida ovação. No regresso ouve-se alguém dizer, “Toca aquela!”. Do palco é devolvido um sorriso de boa disposição. “Se eu esquecer eu me lembro”, diz antes de se jogar a «O Vento» de Los Hermanos. “Eu pensei que quando eu morrer vou acordar para o tempo”. O segundo regresso ao palco traz-nos a Orquestra Imperial, com «Pode Ser», canção da sua autoria. Mas a cereja no topo do bolo estava reservada para o fim, no terceiro regresso ao palco, quando Rodrigo Amarante diz que só toca se Moreno Veloso se juntar a ele. E assim foi. «Deusa do Amor» foi a escolha que fechou o concerto de forma perfeita. Um momento único que fez aquelas centenas de pessoas que decidiram estar ali, numa terça à noite, sentirem-se as pessoas mais felizes do mundo. “Todos cantando felizes de bem com a vida”. Quanto não vale isso?

Promotora: Sons em Trânsito



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