ROMEU E JULIETA
Nos dias bons em que o amor não mata… Romeu e Julieta é um poema de luz presente na própria ausência.
De 14 Fevereiro a 1 Março na Sala Garrett do Teatro Nacional D.Maria II
O clássico texto de William Shakespeare, com versão cénica e encenação de John Romão, a partir da tradução de Filomena Vasconcelos.
João Cachola e Mariana Monteiro são Romeu e Julieta… e correm vertiginosamente para um amor utópico sem finalização… ou para a morte.
“Boa noite,
Ide…
Buscar uma escada para o nosso amor trepar
Até ao destino mais alto!
Mais luz…
Está a falar mas nada diz.
Estranho amor…
Nasceu meu único amor, meu único ódio.
Amar pudesse eu…
Os teus olhos falam.
Amas-me!
Não jures,
Embora me faça feliz.
E eu a teus pés,
Pra te seguir pelo mundo fora,
A minha dádiva tem um limite de amar.
Onde estará Romeu?
Nem só dois morrem – há mais por consequência.
Como é que estás sem fôlego se o tens para me dizer que não tens?!
Que disfarce vos dei eu…?
Morte devorada pelo amor.
E que mal tem isso?
Sonho doce e lisonjeiro demais…
– Boa noite!
– Boa noite!!!”
É um facto que não importa os séculos que passem sobre esta história de amor – será sempre uma inspiração para interpretações diversas nas mais variadas formas de arte.
Nesta encenação inovadora de John Romão, existe o foco sobre dois conceitos – a velocidade e um questionamento constante do lugar do corpo na contemporaneidade. “Onde é que estão estes corpos?” Há uma dúvida permanente! E pelo meio da velocidade de tudo o que acontece em cena, numa ambiguidade inerte, somos arremessados para uma dualidade de sentimentos onde é possível confundirmo-nos e identificarmo-nos simultaneamente com a realidade dos nossos dias existencial e sentimentalmente.
“Antes, havia uma dualidade concreta – ou era luz ou escuridão; estou ausente ou estou presente; ou morro ou nasço… hoje, há imensas coisas que acontecem sem lugar concreto! É um não-lugar” – diz John Romão.
Todo o dispositivo visual é mágico por esse mesmo motivo – basta a luz e o efeito para criar uma parede cénica quase intransponível quando, na realidade, o simples mover de um braço num espaço mínimo, destrói o inatingível.
Toda a cena decorre durante a noite e indicia transgressão… “a força do teatro é ver a transgressão a acontecer à nossa frente… e seria o apocalipse se todos transgredíssemos ao mesmo tempo… ou não…!”
Nesta interpretação de Romeu e Julieta não vemos o mesmo amor romântico, mas vemos a mesma pulsão numa efervescência de sentimentos tão próximos e tão distantes, onde a ansiedade do beijo e do toque urgente existem de tal forma concreta que explodem numa concretização utópica do desejo não físico.
Se nos atrevermos a comparar esta peça com a velocidade e o individualismo dos nossos dias, na verdade, já não é mesmo necessário que algo aconteça fisicamente, para na verdade ter acontecido. Todas as novas tecnologias nos “teletransportam” para o que está a acontecer no momento sem ser necessário ter acontecido connosco ou de forma física, tanto nos aproximam como nos afastam, é um facto. No entanto, se nos auto-analisarmos de uma óptica exterior ao nosso corpo físico, quase podemos comparar-nos aos “deuses” com a capacidade de estarmos presentes em todos os lugares ao mesmo tempo mas sem estarmos fisicamente em lugar nenhum. E somos capazes de viver a uma velocidade vertiginosa. Fazer e viver tudo ou quase tudo ao mesmo tempo e pensamos saborear a concretização de tudo o que desejamos.
Romeu Montecchio e Julieta Capuleto, são dois adolescentes cuja morte acaba por unir as suas famílias em prol do mais puro e verdadeiro dos sentimentos de um amor juvenil.
Surge-me a pergunta:
– E “nós”? Deuses supremos de nós mesmos vivemos em prol de que amor? De que vida? De que missão? E será que os deuses descansam?
A única resposta que encontro nesta busca interior é:
– Nós?! Nós já não…! Mas os deuses verdadeiros sim… finalmente descansam em paz… porque nós lhes facultámos esse direito com esta sede insaciável de omnipresença em todos os nossos amores, vidas e missões.
Ficha Artística
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