Rua aos Quadradinhos
Homem Aranha: Azul.
Jeph Loeb soube cedo na vida o caminho que queria seguir e, se conquistou o seu grande sonho de escrever sobre o seu super herói preferido, o Super-Homem, não deixa de ser irónico que, alguns dos seus melhores trabalhos tenham sido feitos sobre Batman, como o aclamado “The Long Halloween” vencedor de dois prémios Eisner, incluindo o de melhor série de 1999.
Depois do sucesso atingido na DC Comics, com livros como o mencionado “The Long Haloween” ou “Dark Victory”, a dupla Jeph Loeb e Tim Sale iniciou um novo projecto bastante colorido na Marvel Comics, criando livros como “Daredevil: Amarelo”, “Hulk: Cinzento” ou este muito interessante “Homem-Aranha: Azul”. E porquê azul e não outra cor? Muito simplesmente porque esta é uma estória de amor e tristeza, de perdas e saudade, porque esta é uma estória azul.
A origem do Homem-Aranha sempre teve o seu lado dramático. Começando no dia em que, por um capricho, deixou escapar o homem que viria a ser responsável pela morte do seu tio Ben, teve de aprender da pior forma que “com grande poder vem grande responsabilidade”.
Mais tarde perdeu o primeiro grande amor da sua vida, quando o Duende Verde (Norman Osbourne) atirou Gwen Stacy de cima da ponte de Brooklyn, atormentando-o durante anos, pela dúvida se ela já estaria morta antes de ser atirada ou se seria ele o responsável ao ter usado a sua teia para impedi-la de cair. Também aqui, como é demonstrado no livro, a morte de Gwen poderia ter sido prevenida, quando Peter tem a oportunidade de escolher entre salvar o Duende ou deixá-lo às portas da morte. Questiono-me no entanto se um verdadeiro herói tem mesmo essa escolha. Mas chega de falar em tragédias, esta estória não pretende recordar a morte de Gwen Stacy, mas sim recordar a vida.
“Homem-Aranha: Azul” é por excelência uma estória carregada de sentimentos nostálgicos, a começar na dedicatória aos clássicos, Stan Lee, Steve Ditko e John Romita Sr., passando pela arte de Tim Sale que nos remete para o estilo de desenho dos anos 50 e terminando na própria estória em si, onde, através dos pensamentos de Peter Parker, recordamos o seu primeiro grande amor e de como ele e Gwen Stacy “quase não se apaixonaram”.
Estamos no dia de São Valentim e por alguma razão Peter decide gravar esta estória, talvez porque mereça ser lembrada ou porque simplesmente, como ele menciona, “as pessoas permanecem em nós enquanto nos lembrarmos delas”. E através das suas palavras somos remetidos para o tempo em que Peter iniciava a sua vida universitária e se encontrava na fase de transição entre Peter marrão e Peter Popular.
Em qualquer estória de amor existe sempre um triângulo amoroso, e neste caso a competição é elevada. Por um lado, Gwen Stacy e, por outro, Mary Jane Watson, curiosamente a futura esposa do Homem-Aranha. É claro que enquanto Peter se aproxima destas duas raparigas, o Aranha tem de lidar com problemas maiores e descobrir quem anda a reunir vários vilões na tentativa de o matar.
E porque azul é a cor dos Blues e do Jazz, não deixa de ser muito interessante a ideia dos autores terem escolhido clássicos da música Jazz para dar nome aos capítulos desta saga. As próprias letras das canções estão no livro e encontram-se em perfeita sintonia com este Aranha azul e melancólico. Para aqueles que quiserem ouvir as músicas enquanto lêem o livro, os autores também aconselham quais as versões, como uma «My Funny Valentine» de Lorenz Hart e Richard Rodgers interpretada por Miles Davis e John Coltrane ou uma «Anything goes» de Cole Porter interpretada por Ella Fitzgerald.
Uma vez perguntaram-me porque gosto tanto deste livro. A resposta é muito simples: porque é uma estória de amor azul. E afastando-nos um pouco do Jazz, já diziam os Placebo: “All alone in space and time, there’s nothing here but what here’s mine, something borrowed, something blue, every me and every you.”
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