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Samuel Úria @ Teatro Ibérico

"Nem lhe tocava".

O Teatro Ibérico foi o espaço privilegidado para a apresentação ao vivo do novo trabalho de Samuel Úria e “Nem lhe tocava” é o título daquele que é, talvez, um dos mais fundamentados e audaciosos letristas da sua geração.

Do disco, composto por doze faixas, fazem parte convidados especiais (B-Fachada, Celina da Piedade, Miriam Macaia, Jorge Cruz e Luís d’Os Golpes) e Nélson Carvalho, Tiago Sousa e Tiago Guillul na produção.

Apesar das malas feitas desde A FlorCaveira para a Valentim de Carvalho (ver entrevista na edição de Janeiro), na bagagem continua a existir o molde de invulgaridade que vem ecoando e surpreendendo nos últimos três anos; o concerto de dia 16 foi vital para manter acesa essa realidade.

Consumir a sua existência sem dela fazer parte não será com grande certeza tarefa fácil para Samuel Úria. Atento, analista, elegantemente provocador, as letras ouvem-se amiúde, interpretam-se no despojo do seu ritual e nós, fiéis da profanação sagrada nas suas prementes inquietudes, somos embalados nessa configuração.

É Miriam Macaia ao som de violino, com o tema «Ouverture», quem acende a candeia.

Com Samuel Úria e Miguel Sousa já no palco o tema seguinte, «Nem lhe Tocava», que  assume o papel de anfitrião do disco, é como um prelúdio atento e preparado a tudo o que daí possa surgir.

Entre marcas de gospel e o assentar mais enérgico nos confins do rock´n´roll com o recurso contínuo e constante ao recurso de estilo contorcido nos limites das suas plurais significações ainda se revisitaram «Ensina-me a Amar», «A Grandiloquência do Roque Enrole», «Something» (com Jónatas Pires aos comandos de guitarra e coros), «Segredei-te ao Ouvido» e «Barbarella» (com Miriam Macaia de novo a ajudar o cenário).

O single «Não arrastes o meu caixão» (com Celina Piedade no acordeão), «Teimoso» e «Diabo» teve direito a acompanhamento de b fachada e Jorge Cruz.

Reservam-se ainda pela memória as «No Cover», «Água de Colónia da Babilónia» (com b fachada), «Rua da Fonte Nova 171» e «Batuta e Batota», todas do novo disco.

Se há concordância na ideia do assumir, sem preconceito, do chavão ou expressões mais ou menos idiomáticas reforçada por Samuel Úria, em conversa antes do espectáculo acerca deste recente álbum, já no selo ou fama, quase global, de ”baladeiro alternativo” terei de discordar, já que este senhor vai para além do baladeiro indie pensante e introspectivo. Ele acende a candeia mantendo a chama da evasão e fazendo-a eclodir com tudo o que a nova música tem (ou devia ter) de melhor: a ligação orgânica às realidades mundanas – e não só – a visão integrada de fulgores e ambivalências dispersas e a captação da energia tão tensa (do rock) como fraseada das suas raízes (neste caso o gospel).



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