Sangam
Charles Lloyd com Zakir Hussain e Eric Harland no Porto.
Onde: “Noites do Palácio” – Jardins do Palácio de Cristal, Porto
Quando: 14 de Julho, 22:30
Integrado no programa das “Noites do Palácio”, o veterano jazzman Charles Lloyd apresentou pela primeira vez ao público português o seu projecto Sangam que, desde 2004, percorreu já alguns dos mais importantes palcos mundiais. Desde a década de 50, o lendário saxofonista Charles Lloyd tem percorrido as várias facetas do jazz, atravessando ao longo da sua carreira tanto os standards mais clássicos e melodiosos com frequentes incursões pelos territórios musicalmente mais avant garde – explorando o hard bop, post bop e experimentando a fusão do jazz com outros géneros musicais.
É justamente na veia destes crossovers anteriores que surge o projecto Sangam (termo que assume múltiplas definições: confluência, união ou ponto de encontro), para o qual Lloyd – que aqui se ocupa de todos os instrumentos de sopro (saxofone alto e tenor, flauta baixa e alta e o instrumento tradicional húngaro tarogato) e do piano –, reuniu o famoso percussionista Zakir Hussain – por muitos considerado o melhor tocador de tablas do mundo – e o jovem baterista (e também pianista) Eric Harland, com quem tem vindo a colaborar no seu Lloyd’s Quartet. Perante uma audiência repleta, este verdadeiro trio de luxo apresentou, a algumas centenas de pessoas, quase duas horas de música, nas quais o ritmo constitui um ponto de partida para a construção de intrincados e longos temas, plenos de variações rítmicas e melódicas.
A articulação entre a bateria de Harland – mais grave – e as tablas de Hussain – de uma tonalidade mais aguda – é simplesmente perfeita, recheada de momentos ritmicamente complexos que criam a ponte entre as sonoridades indianas e os ritmos mais africanos. Hussain demonstrou claramente as suas qualidades de excepcional tocador de tablas, desenvolvendo longos solos de percussão, plenos de melodia. Aproveitando os desafiantes ritmos que os seus companheiros lhe iam fornecendo, surgem finalmente os instrumentos de sopros de mestre Lloyd – o autor da maioria das músicas do projecto -, num registo de improvisação muito free-jazz que, ao contrário do que se poderia esperar de um líder de projecto, não impôs demasiado.
O “segredo” para que Sangam resulte tão bem foi, pareceu-nos, o espaço que cada um destes virtuosos instrumentistas tem aqui para brilhar individualmente, mas também enquanto membros de um colectivo. Alternando entre tempos mais rápidos e composições mais vagarosas – como o belíssimo «Nataraj», cantado por Hussain, com Lloyd ao piano e Harland nas percursões – este foi um concerto que foi fluindo tranquilamente, deixando a música respirar e conquistar o público. Assim, no final do alinhamento estipulado, os músicos acabaram por ser “obrigados” a regressar por duas vezes ao palco, perante uma audiência rendida a Sangam!
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