SBSR 2009 – Lisboa
... ou um concerto dos The Killers com uma razoável primeira parte.
A comemorar 15 anos de existência, o SBSR voltou a modificar a sua estrutura e apostou em dois grandes nomes para a edição deste ano, transformando um festival em dois concertos com várias primeiras partes. Depois da desilusão causada pelo cancelamento dos Depeche Mode na passagem do SBSR pelo estádio do Bessa, existia uma grande expectativa em relação à vertente alfacinha do festival, que teve lugar no Sábado, dia 18 de Julho no Estádio do Restelo. Ao contrário do que costuma acontecer no Restelo, foram poucos aqueles que saíram desiludidos do estádio porque os The Killers estiveram à altura das expectativas e proporcionaram um excelente espectáculo.
Adaptado para receber o festival, o estádio do Restelo acabou por ser uma boa solução no que diz respeito à qualidade do som, que muitas vezes sai prejudicada neste tipo de eventos. Infelizmente um festival deste género necessita de outro tipo de condições e nesse aspecto existem algumas falhas graves a apontar. As poucas casas de banho existentes (foram aproveitadas as existentes da parte do estádio) provocaram filas enormes, sendo que a certa altura não existia qualquer divisão entre homens e mulheres. Ao contrário do que aconteceu há uns anos (lembram-se da noite dos Pixies?), não faltou cerveja (menos mal) mas a comida foi muito escassa sendo que o lendário Psicológico foi transformado em 4 pequenas bancas que não conseguiam despachar o público esfomeado. Embora estas criticas tenham de ser feitas é importante também realçar a existência de um local privilegiado para o público com deficiências motoras, que assim pode assistir aos concertos em boas condições.
A PRIMEIRA PARTE
Depois da passagem pelo Tivoli em Dezembro do ano passado (integrados no Super Bock em Stock), os Nova Iorquinos The Walkmen proporcionaram o primeiro momento de interesse no fim de tarde no Restelo. “You & Me”, disco editado no ano passado, foi a principal referência num espectáculo que mostrou que a banda também funciona bastante bem outdoors, longe do seu habitat natural. Destaque para a voz e postura de Hamilton Leithauser que, a espaços, conseguiu fomentar a reacção do público, um pouco apático perante a tarde solarenga de Sábado.
Depois de ter os seus minutos de fama num anúncio televisivo, Brandie Carlile deve ter comprado casa em Portugal, tantos foram os concertos que a cantora Norte Americana deu no nosso país. A sua presença no cartaz deste festival apenas se compreende com a procura por parte da organização de agradar a gregos e troianos porque na realidade a sua música em nada se enquadra nos gostos da grande maioria dos presentes. A verdade é que “The Story” conquistou alguns dos presentes que cantaram com ela do início ao fim e que verteram lágrimas ao mesmo tempo (mesmo ao meu lado um conjunto de turistas chorava compulsivamente). Sendo a única música conhecida do público presente que ouve a RFM, Brandie Carlile tentou ainda captar a atenção de todos os outros com covers de Radiohead (“Creep”), Johnny Cash (“Folsom Prison Blues”) e Leonard Cohen (“Hallelujah”). Nesta altura muitos procuravam trincar alguma coisa ou ocupavam o seu tempo no karaoke a cantar a “Mila” de Netinho, que se ouviu dezenas de vezes ao longo da noite.
Após a monotonia, regressou o rock com os suecos Mando Diao que editaram este ano um novo disco de estreia, “Give me Fire” onde se encontra o seu primeiro verdadeiro single rock fm, “Dance with Somebody”, tocado no final do concerto, com um exagero enorme na repetição do refrão mas que foi muito bem recebido pelo público. A postura rock & roll que seria de esperar constante para um festival com estas características foi por vezes manchada com passagens por um pop insonso e por uma homenagem quase lamechas a Michael Jackson. Felizmente que a banda tem boas músicas como “Gloria” e “Give me Fire” e fez o favor de agitar o público que já merecia um abanão.
E depois veio Duffy e duas raparigas que pareciam gémeas e quase iguais à própria, todas estupidamente idênticas a bonecas de porcelana e com algumas dificuldades de movimentos. Logo após a primeira música a sua voz aguda começou a irritar e nem mesmo o seu mega hit “Mercy” foi capaz de criar alguma agitação. Quarenta e cinco minutos que, no programa, deviam ter sido noventa, um concerto sem sal, mal enquadrado no alinhamento do festival (seria provavelmente um bom nome para o Cool Jazz de Oeiras ou Mafra), que nem teve direito a um encore.
O CONCERTO
Devido ao curto concerto da inglesa, os The Killers, que tinham o seu concerto programado para a meia-noite, anteciparam a entrada em palco meia hora. Não é normal que num festival de Verão os concertos sejam antecipados, com a agravante que muitos espectadores apenas foram ao Restelo para ver a banda de Las Vegas.
Bastaram os primeiros sons para se perceber que a ansiedade dos muitos fãs dos The Killers iria transformar-se em histeria. “Human” abriu um concerto/espectáculo pop/rock muito bem alinhado, com efeitos cénicos ajustados (o ecrã gigante a acompanhar os temas funcionou realmente bem) e que musicalmente percorreu a carreira dos The Killers e os seus maiores sucessos.
Brandon Flowers é um vocalista competente. Surgiu em palco bastante alegre, contagiando todo o público. A setlist escolhida ajudou bastante para o sucesso do concerto, sendo que a maior surpresa foi a presença da excelente cover dos Joy Division, “Shadowplay”, que a banda criou para a banda sonora de “Control”, filme de Anton Corbijn.
Foi notório que as músicas de “Day & Age”, o último álbum da banda, eram do conhecimento dos presentes, e que, surpreendentemente, temas como “Spaceman” (que foi tocado duas vezes de seguida, exageradamente) foram recebidos de uma forma mais efusiva que alguns dos temas de “Hot Fuss”, disco de estreia da banda e marcante na história pop/rock do início deste milénio. Este foi provavelmente o concerto Sing-along de 2009. Por momentos foi praticamente impossível ouvir Brandon Flowers a cantar (para quem assistiu, como a RDB o fez, no meio da multidão), sendo substituído pelas vozes dos milhares de pessoas que assistiram ao concerto e que parecia que tinham as letras das músicas presas na garganta há anos e que só agora as puderam libertar.
A primeira parte do concerto terminou com um full version medley de três dos temas mais emblemáticos da banda: “Read my Mind”; “Mr.Brightside” (que só não levantou pó porque por baixo dos nossos pés existia uma carpete) e “All These Things That I’ve Done”, terminando em beleza com o público a entoar “I’ve got soul but I’m not a soldier” já com a banda a abandonar o palco.
O encore ficou marcado por três momentos. A excelente “Jenny Was a Friend of Mine”. A operação de charme de Brandon Flowers para o público português: “Peço desculpa por termos demorado tanto tempo a vir cá e prometo que não demoraremos tanto a regressar”. “When We Were Young”, uma das poucas passagens por “Sam’s Town” (ficou por tocar “Bones”) que fechou um concerto que ficará na memória de todos os fãs durante muito tempo e que provou que os The Killers já são uma das bandas de estádio da actualidade e que foram a escolha certa por parte da organização para a edição deste ano do SBSR.
Esperamos que para o ano o festival não se resuma só a um concerto.
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Sinceramente cada vez simpatizo menos com os The Killers…a mudança de sonoridade é no minimo assustadora, esta nova música Are we Humans, só me faz lembrar a mudança drástica e para mim triste dos Daft Punk quando lançaram o Around the World…
Os the Killers tal como muito boa coisa, chegaram demasiado tarde.
David … os Daftpunk lançaram "Around the World" em HOMEWORK, um dos discos mais marcantes da música electrónica. O que realmente é dificil é encontrar a sintonia perfeita entre o comercial (que passa nas rádios mais pop FM) e o bom gosto e originalidade. Concordo que os The Killers deste novo disco não são os mesmos mas ao vivo dão um grande espectaculo e isso é irrefutável.
Pedro,
O Around the World era no Homework (1997) a faixa feita para ser um hit de Rádio e em 1997 não o foi. Aliás o Around the world passou ao lado da maior parte das pessoas na altura era possivelmente a pior faixa do FANTÁSTICO album. Posteriomente começou a passar na TV na Radio e foi massificada, mas acredito que nasceu para isso (para mim continua a ser a falha daquele albúm).
Os verdadeiros "hits" como Rock n Roll, Revolution 909, Da Funk, Rollin & Scratchin, Burnin, Indo Silver Club, Alive e esses sim que incendiaram muitas pistas nos anos 90, quando ainda o Kremlin mandava os últimos suspiros de vida…e o Lux começava a respirar (1998).
Quanto aos Killers, muito sinceramente não gosto do último albúm. Quanto ao "Are we Humans" é uma sonoridade extremamente comercial mesmo para pegar de ouvido, não é a toa que se apanhares um taxi hoje em dia muito provávelmente tens o Taxista a fumar um cigarrinho e a cantar "are we humans are we dancers la la la". :D
Quanto aos The Killers ao vivo, nunca vi não posso opinar :)
Atenção isto é uma opinião pessoal :) e o Homework para mim será sempre dos melhores albuns de música electrónica de todos tempos :)
Abraço,