SBSR 2012 | DIA #2 (6.7.2012)
Jogo de tronos
Ao segundo dia de concertos, o público do Meco aumentou (segundo a organização, estiveram no recinto 21 mil pessoas) para ver duas rainhas de reinos muito distantes: Lana Del Rey e M.I.A.. The Rapture e Friendly Fires ajudaram à festa, com óptimos concertos.
Tiremos já do caminho o assunto da noite, um momento de mútua surpresa: por um lado, Lana Del Rey, apanhada desprevenida por tamanho carinho; por outro, o público, que não esperava tanta proximidade por parte da bela americana. Caminhando pelo fosso do palco, Del Rey distribuiu beijos, abraços e autógrafos pelos fãs da primeira fila, ansiosos por tocar nesse ícone instantâneo que parece ter vindo de outro tempo: tudo na indumentária, pose e comportamento de Lana grita anos 60 – e a sua acessibilidade (um pedaço de «Video Games» foi cantado com a mão agarrada à de um fã) evoca a popularidade de figuras como Jacqueline Kennedy, que a cantora encarna no clip de «National Anthem», a canção de encerramento do concerto. Pelo meio, os restantes êxitos («Blue Jeans» e «Born To Die») e ainda o inédito «Body Electric. À luz dos anteriores desastres in loco, temia-se que a fragilidade vocal de Lana perdesse para a banda que trouxe a palco (violinistas, um teclista e um guitarrista), mas até as expectativas dos mais cépticos foram excedidas, já que, em 45 minutos de concerto, a cantora esteve segura de si e comunicativa como nunca ninguém a viu.
O início da madrugada foi comandado por M.I.A., ela que também tinha muito a provar ao público português, depois de uma fraca actuação no Sudoeste, há dois anos. Tendo entrado em palco 15 minutos depois da hora marcada (antes houve DJ set e projecção), a britânica de origem tâmil apresentou-se novamente com um bailarino e uma cantora de apoio – que, de quando em vez, teve direito ao protagonismo vocal. Em ambiente bollywoodesco, foram desfiados alguns dos seus maiores êxitos, como «Bucky Gone Down», «Paper Planes» e «Galang». A interacção com o público elevou a nota da actuação: em «Boyz», um fã pôde subir ao palco, para gáudio dos milhares que fizeram questão de estar presentes.
Anteriormente, o palco Super Bock tinha já oferecido dois excelentes concertos: os The Rapture fizeram a festa ainda de dia, mas entraram dispostos a mudar o constrangedor cenário do dia anterior. O público vibrou com a interpretação praticamente ininterrupta de canções como «In The Grace of Your Love», «House of Jealous Lovers», «Get Myself Into It», «Pieces of The People We Love» e, claro, «How Deep Is Your Love». Mais tarde, os Friendly Fires deram outra das actuações da noite. Ed Macfarlane deu, literalmente, o litro (à quarta canção, a camisa do britânico estava já encharcada em suor), dançando exuberantemente ao som de grande parte dos temas do segundo álbum do colectivo, “Pala”, e ainda alguns do longa-duração de estreia: «Jump In The Pool», «Paris», «Skeleton Boy» e «Kiss of Life». Estes rapazes de Hertfordshire merecem, definitivamente, estar no palco principal.
Destaque ainda para os Supernada, que inauguraram o segundo dia de festival. Manel Cruz, líder do projecto, esteve igual a si próprio – este bandido não foge aos Ornatos Violeta – e o público agradece. Rock, funk, punk e um inédito que a banda já havia divulgado no YouTube («Super Estrela») mereceram os aplausos da ainda modesta assistência.
A abertura do Palco EDP esteve a cargo dos bem-dispostos Tono, colectivo brasileiro que divertiu o público ao expor dramas da vida moderna em «Samba do Blackberry» e trazendo ritmos tropicais ao Meco, na voz de Ana Cláudia e na polifonia criada pelo baixista Bruno di Lullo, o guitarrista Bem Gil e o baterista Rafael Rocha, também ele vocalista. Seguiu-se Hanni El Khatib, qual Elvis do século XXI, enfant terrible de guitarra em punho, numa actuação poderosíssima, com os níveis de testosterona nos píncaros. Oh Land provou que da Escandinávia podemos sempre esperar alguma exuberância e muita simpatia. Nanna Øland Fabricius repetiu a proeza conseguida em Dezembro, na Vodafone Mexefest de Lisboa, espalhando boa disposição com o repertório do seu primeiro disco de originais. Prontos para fazer a festa com o último álbum, “L’Art Brut”, estavam os Wraygunn. Paulo Furtado é o xerife de um faroeste onde ninguém mais, em Portugal, se atreve a entrar. Sempre bem acompanhado por Raquel Ralha e Selma Uamusse, pilares essenciais desta fórmula de sucesso, o músico também conhecido como The Legendary Tigerman recordou ainda o sucesso «Go Go Dancer». A noite fechou com os sorumbáticos The Horrors, de quem esperamos sempre um pouco mais. A pesada instrumentalização relegou frequentemente para segundo plano a voz de Faris Badwan, mas ainda assim as centenas de pessoas presentes receberam bem as canções do mais recente álbum, “Skying”, e um dos highlights do disco anterior, “Scarlet Fields”.
Reportagem do primeiro dia do SBSR 2012 aqui; terceiro dia aqui.
Reportagem fotográfica por Graziela Costa do primeiro dia aqui; segundo dia aqui; terceiro dia aqui.
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