SBSR 2012 | DIA #3 (7.7.2012)
Choque de gerações
No último dia da 18ª edição do Super Bock Super Rock, o recinto ficou finalmente mais composto, muito por culpa de Peter Gabriel – acompanhado pela New Blood Orchestra – e Skrillex, que actuou, ao contrário do previsto, no palco EDP. Aloe Blacc, The Shins, Little Dragon, St. Vincent e Regina Spektor também abrilhantaram a noite.
Quando Bebe subiu ao palco principal, pelas 19h00, sentia-se já uma mudança nos ares do Meco; de todos, o alinhamento deste dia era o que atraía um público mais heterogéneo, de miúdos a graúdos. Viram-se, por isso, muitas famílias na Herdade do Cabeço da Flauta, mas, ainda assim, a espanhola de sangue na guelra não se coibiu de oferecer uma performance ousada e sensual – “Não estamos na missa, pois não?!”, atirou a cantora em jeito de provocação. O ambiente animado do palco Super Bock contrastou com o do palco EDP, inaugurado por Perfume Genius; o tímido Stephen Hadreas foi distribuindo sorrisos entre canções, sempre sentado ao teclado – ora sozinho, ora com o apoio de um segundo teclista e de um baterista. Não há dúvida quanto à beleza das suas composições, mas o tom intimista acaba por perder impacto num festival. Esperamos poder ouvir os temas de “Put Your Back N2 It” em sala fechada.
Aloe Blacc lançou-se numa performance repleta de boa disposição, frequentemente interagindo com o público. O americano mostrou que tem muito mais para oferecer que o êxito «I Need a Dollar» (que, aliás, foi o último tema a ser tocado), incentivando toda a gente a dançar com o restante repertório de “Good Things”, interpretado com grande competência pela excelente banda de suporte.
Os Little Dragon foram responsáveis por um dos melhores concertos da noite e de todo o festival: a banda sueca liderada pela excêntrica e simpática Yukimi Nagano foi além da simples execução das canções de “Ritual Union” e transformaram o palco secundário – que neste dia teve as suas maiores enchentes – numa gigantesca pista de dança, munidos de dois sintetizadores, uma bateria e um cowbell.
O Meco foi palco do último concerto da digressão de Peter Gabriel com a New Blood Orchestra. Os 50 músicos em palco recriaram clássicos do fundador dos Genesis e também algumas canções de outros ilustres conhecidos – o momento alto da actuação foi marcado pela entrada de Regina Spektor em palco, com quem Peter Gabriel cantou «Après Moi», do seu disco de versões “Scratch My Back”. O aparatoso espectáculo, também muito rico a nível visual (foram projectadas várias imagens num painel colocado acima dos músicos), foi bem recebido pelos fãs – que, no entanto, pareciam esperar um outro Peter Gabriel, mais exuberante.
Pela primeira vez em solo nacional, os The Shins entraram a abrir com «Caring is Creepy», do disco de estreia “Oh, Inverted World”. Dá gosto ver James Mercer em palco, cuja simpatia parece genuína. No entanto, desde esse primeiro e aclamado registo, muita coisa mudou: da formação inicial resta apenas o vocalista e, portanto, “Port of Morrow”, embora bem recebido pela crítica, foi recebido pelos fãs com alguma hesitação. De qualquer forma, a prova dos nove foi tirada ao vivo: o colectivo entende-se e soa bem. «Simple Song» ganhou mais força face à versão de estúdio, assim como as restantes canções do novo álbum. De qualquer forma, foi uma pena encontrar tão pouca gente frente ao palco principal. Os americanos mereciam uma recepção mais calorosa.
Do outro lado do recinto, St. Vincent espalhava já o seu charme. Se não temos nada a apontar à voz de Annie Clarke, é o seu virtuosismo na guitarra que nos entusiasma verdadeiramente. O concerto, ainda assim, falha em tornar-se memorável – ou assim julgávamos, antes da americana se ter lançado, por duas vezes, em crowdsurfing. Temos rock star.
Num registo completamente diferente, Regina Spektor também encantou o público ao piano, mas também ela merece um concerto em nome próprio. Os fãs agradecem, sobretudo aqueles que se aperceberam da chegada de um público mais interessado na actuação de Skrillex, que entretanto transitaria do palco Super Bock para ali. Entre uma homenagem a Adam Yausch, membro dos Beastie Boys que faleceu este ano, e a constante marcada de posição (“My name is Skrillex”, não estivesse alguém ali ao engano), o DJ americano deu ao público aquilo que se esperava: dubstep hardcore, com o dedo sempre no play. O público saiu satisfeito.
Este Super Bock Super Rock deu-nos bons concertos, mas a falta de público acabou por influenciar negativamente a (falta de) entrega de alguns dos nomes maiores do cartaz. Ainda assim, esperamos que em 2013 o relvado esteja ainda mais resplandescente e que o alinhamento mantenha a sua consistência – porque o pó, esse, não deve assustar ninguém.
Reportagem do primeiro dia do SBSR 2012 aqui; segundo dia aqui.
Reportagem fotográfica por Graziela Costa do primeiro dia aqui; segundo dia aqui; terceiro dia aqui.
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