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Super Bock Super Rock 2023 – 13 de Julho

Para a Rua de Baixo, este ano o Super Bock Super Rock apenas teve um dia. E foi um dia bom, diga-se.

A chegada atempada ao recinto compensa. É fácil estacionar perto e evitam-se filas. O pessoal vai-se avulumando para Tara Perdida, no Palco LG, embora o recinto ainda esteja muito despido a esta hora, há uma legião dedicada à causa punk nacional e, em especial, aos Tara Perdida que já “andam há 28 anos aqui”, sempre em rotação elevada, mesmo a viver um dia de cada vez. Os hinos sucedem-se com a “batata frita pala-pala é uma tara de sabor” no coração de muitos dos presentes. O empenho não falha de parte e todos saiem satisfeitos no final.

The Legendary Tigerman, há muito que deixou de ser uma one-man-band e prepara-se agora para alargar o seu espectro musical. Best Youth e Kate faz parte das despesas, mas há mais convidados para além dela: Rebeca, Delila Paz, vocalista dos The Last Internationale, Anna Prior, baterista dos Metronomy e os “irmãos” Afonso e Rai. O SBSR foi o tubo de ensaio para o Tigerman experimentar o material novo.

070 Shake tinha no Palco Pull & Bear uma pequena multidão que a aguardava ansiosamente. Hip Hop é a matriz, sempre com uma forte componente visual a acompanhar a prestação de Danielle Balbuena, com recurso a projeções vídeo, onde saltam à vista algumas cenas de “Old Boy” (o original, japonês). São várias as influências que se descortinam nas canções que vão desfilando; há pop e há também beats mais pesados, que nos levam por terrenos que invocam o industrial ou electrónica. Tudo usado sem qualquer pudor e, verdade seja dita, bem doseado, como é o caso de «Guilty Conscience», onde o R’n’B nos pisca o olho. E houve ainda tempo para autografar um vínil e vários cartazes.

O arranque dos Franz Ferdinand conseguiu meter todos em sentido; «Matiné», «Walk Away» a mostrar que continua a ser uma belíssima canção ou «Do You Want To», numa versão em esteróides a puxar à pista de dança. A banda escocesa continua a ser uma máquina muito bem oleada em palco, e com uma perfeita noção dos seus limites, algo bem personificado na forma como Alex Kapranos se move em palco, longe da energia e agilidade de outros tempos, porque o tempo não perdoa (a ninguém!).

Era um dos concertos mais aguardados do dia por uma imensa minoria e a verdade é que os Black Country, New Road não desiludiram. Antes pelo contrário. Foi um concerto de uma beleza ímpar. Executado de forma sublime por seis miúdos com um talento incrível. Mas comecemos pelo princípio. «Up Song» a abir, cantada a plenos pulmões. «The Boy», bela e a refletir na perfeição a capacidade – única – dos BC,NR para colocarem uma canção a serpentear por ritmos, cadências e registos distintos, sem nunca perder o controlo. «I Won’t Always Love You», começa com Tyler Hyde de viola acústica em punho e termina numa cacofonia perfeita de sons que, quando juntos se tornam harmoniosos. O todo é maior que a soma das partes, “What does that say?”. Segue-se «Across the Pond Friend», que arranca num registo acústico com guitarras para evoluir para algo muito maior, com elementos que evocam música medieval, tudo ligado pela percussão. Mas quando pensamos que não melhora, eis que o piano e uns salpicos das cordas do violino surgem, mesmo antes de se entrar num crescendo controlado e quase etéreo. Por esta altura alguém se sente mal e o concerto pára para se distribuir água pelas filas da frente. Quando se confirma que está udo bem, o concerto prossegue. Vénia, porque são pequenos gestos que muitas vezes melhor demonstram a nossa grandeza. É a vez de «Pigs/Turbine» numa entrega arrepiante. No final temos «Dancers» e, novamente, somos unos, “Dancers stand very still on the stage”. O regresso em nome próprio é imperativo.

De forma a evitar sobreposição de som entre palcos, os concertos de Róisín Murphy, que deveria começar em simultâneo com The Offspring, foi adiado, o mesmo acontecendo com Father John Misty. Decisão acertada mas que poderia perfeitamente ter sido tomada logo à partida. Por este motivo, foi possível espreitar um pouco do concerto dos The Offspring, que no palco Super Bock Super Rock, entregavam aquilo que o público queria ouvir, e pelo meio houve até tempo para ensaiar covers dos Guns’N’Roses e dos Ramones, antes de se lançarem numa sequência que incendiou o público; «Gotta Get Away», «Why Don’t You Get a Job?», «(Can’t Get My) Head Around You», «Pretty Fly (for a White Guy)» e «The Kids Aren’t Alright», quando já nos deslocávamos para o Palco Sommersby para receber a diva.

Róisìn Murphy não tem nada a provar a ninguém; do alto dos seus 50 fantásticos anos consegue fazer com que qualquer vestido ou chapéu pareçam perfeitos. Junte-se a isso uma banda incrível, que ora está em modo electrónico, ora pegam em guitarras, baixos e puxam pela percussão para nos entregarem canções que tão bem conhecemos, mas em versões renovadas e frescas. Entre canções, troca-se o casaco ou chapéu e, a dado momento, até o vestido, sem que dinâmica se perca. Uma lição.

Quando chegamos ao Palco Pull & Bear, Father John Misty ja actuava e para nossa felicidade quando chegou a sexta canção arrancou numa sequência que deixou a plateia em êxtase e apenas terminou quando o concerto chegou ao fim. A saber: «Hollywood Forever Cemetery Sings», «Nancy From Now On», «Mr. Tillman», «Total Entertainment Forever», «Chateau Lobby #4 (in C for Two Virgins)», «Date Night», «I Love You, Honeybear» e, a fechar com toda a pompa e circunstância, «The Ideal Husband». No álbum mais recente, “Chloë and the Next 20th Century”, Tillman parece querer assumir um papel de crooner, mas há algo que falta. A sua essência brilha em pleno nas canções em que o papel de performer o “chama”. Nesses momentos contagia a plateia e todos ganhamos com isso. Mais um bom concerto.



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