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SBSR – Dia #2

Dia nacional.

Novo plano de ataque. Em virtude das dificuldades verificadas no dia anterior decide-se outra abordagem. Apanha-se o comboio em Entrecampos em direcção a Coina (2,95€) e de seguida o autocarro que pára mesmo à entrada do recinto (2,5€). Uma hora e 5,45€ depois chega-se ao recinto. Menos mal quando comparado com o dia anterior.

Noiserv. Acompanho a carreira do David Santos há bastante tempo e estaria a mentir se dissesse que não tinha dúvidas quanto à capacidade de Noiserv se aguentar num palco principal. Não porque não tenha capacidade mas simplesmente porque é grande de mais para um músico apenas (e da Diana Mascarenhas que tão bem complementa as suas actuações a desenhar em tempo real). Pois bem, não só provou que estava enganado como contou com uma excelente moldura humana que tão bem conhecia a sua música e o acompanhava. Se houvessem dúvidas, estas teriam ficado desfeitas ali mesmo. Há muito que Noiserv passou a fronteira do lado da promessa para o lado da certeza.

B Fachada. Posso parecer um pouco repetitivo mas o que fazer? Ficar calado? O som estava péssimo. Felizmente a boa disposição de Fachada consegue remeter este aspecto para o segundo plano nas nossas mentes. A primeira paragem tem lugar em «Há Festa na Moradia». O sentido de humor de Fachada é uma constante ao longo de todo o concerto. Nenhuma oportunidade de lançar um comentário ou uma piada, por vezes em jeito de provocação – “Quanto menos falar mais cantigas!” – , é desperdiçada. A frase que se segue já terá sido dita e escrita por muitos mas não será com certeza isso que a tornará menos verdadeira. Poucos são os que tratam o português como o B Fachada o trata. É por isso que ao olhar em volta se vêem sorrisos nas caras das pessoas enquanto os temas de “É Pra Meninos” e “B Fachada” – os dois álbuns mais requisitados – são apresentados. Para o final está reservada uma pequena pérola do “Fim de Semana no Pónei Dourado” que dá pelo nome de «Zé». Não falha, este Fachada.

Portishead. Casa cheia para receber Beth Gibbons e companhia. Os dez minutos de atraso com que o concerto começa acabam por beneficiar os que se atrasaram ou que sentiram maiores dificuldades em chegar-se à frente. Os Portishead têm uma postura reservada em palco mas o aparato cénico existe e não deixa ninguém indiferente. No palco, por detrás da banda, está uma tela gigante que vai projectando imagens à medida que os temas vão desfilando para deleite dos mais de trinta mil que estão ali. Com o evoluir do concerto fica-se com a certeza que a imagem desempenha um papel fulcral, complementando a música de forma perfeita, nunca lhe retirando, por um momento que seja, qualquer protagonismo. A devoção e entrega entre banda e público é imensa, ao ponto que Beth Gibbons, conhecida pela sua postura reservada, já perto do final não resiste em descer do palco para cumprimentar o público das primeiras filas e a soltar um “You’ve been fantastic!” que transborda sinceridade. Durante aquela hora e tal que o concerto dura, a cena Bristol volta a parecer actual, como se nunca tivesse perdido protagonismo, prova de que os Portishead estão bem e recomendam-se. Terão sido inclusivamente aqueles que foram menos prejudicados pelo som, fruto da sua música, plena em carga emocional e que recorre muito a sons mais graves. Um bom concerto que mesmo assim não me consegue fazer deixar de pensar no que teria sido num recinto fechado em vez de ao ar livre…

Arcade Fire. A NATO até tinha uma base na imediações, mas desta vez nada iria impedir os Arcade Fire de voltarem actuar em Portugal perante uma multidão em delírio. Antes mesmo de o concerto ter início estava visto que a noite estava ganha. Nem mesmo o som mau – sim outra vez – lhes iria retirar isso. O início é feito com um trailer, como que a antever o filme que se seguiria, em dezassete cenas, ou canções se assim o preferirem. «Ready to Start» a abrir e o mote estava dado. Win Butler não perde tempo para se dirigir ao público: “We’ve been counting the days”. Acho que não era o único na mesma situação. Por entre os comentários simpáticos e por vezes algo graxistas, e que muitas vezes nos deixam na dúvida quanto à sua sinceridade (atenção que me refiro ao geral e não aos Arcade Fire em particular) houve um que ganhou pela sua originalidade. Butler perguntou se não queríamos ensinar outros países a formar multidões. Por aqui decidiu-se optar por acreditar na honestidade do comentário porque os coros foram, nalguns momentos, arrepiantes no melhor dos sentidos. O som podia estar mau mas a voz do público esteve à altura e a banda fez questão de se manter ao mesmo nível. O alinhamento distribuí-se pelos três longa-duração da banda, com “The Suburbs” no centro da actuação, mas foram os temas de “Funeral” e de “Neon Bible” que elevaram os momentos que tiveram lugar  na Herdade do Cabeço da Flauta, junto ao palco Super Bock, a um nível ímpar. «Keep the Car Running deixa-nos sem forças nas pernas. «No Cars Go» faz-nos fechar os olhos e sonhar. «Haiti» faz-nos dançar. «Rebelion (Lies)» e «Wake Up» são hinos. No final nós gostámos, eles gostaram e todos gostaram. O som é que estava mau… Ah pois é!



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