rdb_scifilondon2010_header

Sci-Fi-London

“A vida em 2050”, 9.º Festival Internacional de Cinema Fantástico e de Ficção Cientifica. Londres, 2010.

Entre os dias 28 a 3 de Maio, ocorreu em Londres, no Apollo Piccadilly Circus, o Festival Internacional de Cinema Fantástico e de Ficção Cientifica, na sua 9.ª edição, onde o tema foi “A vida em 2050”. De entre longas-metragens, a curtas, workshops, conferências e Q&A a realizadores, neste Festival houve filmes para todos os gostos, premieres e “laboratórios cientificos”, nos quais a vida em 2050 foi investigada, numa espécie de prognose futurista.

Na senda de uma tradição recente, a direcção do Festival procurou dar destaque a um determinado país que tenha contribuido para o desenvolvimento do género da ficção cientifica. Este ano a escolha recaíu na Polónia, nomeadamente em Stanislaw Lem (autor da obra que originou “Solaris”) e na revisitação de algumas obras cinematográficas, com destaque para “The Hospital of Transfiguration” (Edward Zebrowski, 1979), “Test Pilot Pirxa” (Marek Piestrak) e “Golem” (Piotr Szulkin) e a curta “X” (Raphael Wahl, 2005), vencedora na categoria de melhor curta neste festival em 2006.

De entre a panóplia de filmes apresentados, irei debruçar-me somente em alguns, que despertam a atenção por um conjunto variado de motivos, quer seja pelo trailer, quer seja pela sinopse, ou, simplesmente, pelo realizador.

Assim, destaque primeiro para o filme que abriu o festival, “Splice”, de Vincenzo Natali, com Adrian Brody e Sarah Polley, nos papéis principais. Clive e Elsa, são dois cientistas que trabalham na pesquisa e desenvolvimento na junção do ADN humano e animal; conseguem, então criar uma especie híbrida, que depois de uma metamorfose, tem potencial para os destruir e aos que os rodeiam. A sinopse tem condimentos muito interessantes, com trilhos de suspense, horror movie e o toque sci-fi, no qual há ainda espaço para um twist final.

“2033”, de Francisco Laresgoiti, propõe, como bom filme sci-fi que é, uma dimensão futurista do México. Em tempo de pouca liberdade, a sociedade está convertida ao totalitarismo militar, cujo controlo da população é feito através de comida sintética. Pablo é considerado para ser o próximo lider, contudo, descobre, através de um carismático lider religioso, que o seu pai ainda está vivo e que foi feito escravo pelo Governo. Numa tentativa de salvar o pai, junta-se ao grupo rebelde, que tem por missão destruir o regime industrial-militar instituido. De acordo com a organização do Festival, este filme demonstra, por um lado, que o México é proficuo em bons filmes no género da ficção cientifica, e que, por outro, Cuaron e del Toro não são os únicos mexicanos capazes de fazer bons filmes. A ver…

Oriundos da Hungria, vêm “One” e “Transmission”, realizados por Pater Sparrow e Roland Vranik, respectivamente. Em “One”, a dimensão cientifica e surreal são devidamente explorados, quando, de forma misteriosa, todos os livros duma livraria que premeia por ter rariadades, desaparecem, sendo subsitituidos por “1”. Em “Transmission”, é explorado o pior pesadelo que pode acontecer à geração pós-MTV: um mundo sem televisão e sem computador. A história segue a vida de três irmãos que vivem juntos nesse mundo desconectado, e como a sua vida se vai desconstruindo, sobretudo quando um desses irmãos sofre de insonias, dado que já não consegue adormecer em frente à televisão.

“8th wonderland”, vem de França, com realização conjunta de Nicholas Alberny e Jean March. Qual é o poder do Facebook? Ou do Twitter? Antes de tudo, são redes sociais, das quais, o mundo já percebeu que são “armas poderosas” em termos de comunicação e fluência de informação. E se um grupo de pessoas, que partilhasse o mesmo ponto de vista sobre os mais variados aspectos politico-sociais, e se se auto-proclamasse um país virtual? É este o conceito por detrás de “8th Wonderland”, quando um grupo de pessoas decide direccionar a sua energia em termos de colectivo e usá-la no mundo real, através de partidas, como meter máquinas de preservativos em igrejas católicas. É um exemplo de como pode funcionar a democracia internacional, que transcende fronteiras, e, tal como todos os ideais, funciona perfeitamente, até que alguém decide que deve liderar. Não estando muito longe daquilo que poderá vir a ser uma possibilidade, “8th wonderland”, aborda essa perspectiva socio-politica, sem cair em estereotipos. Particularmente interessante, é a possibilidade de se tornar cidadão deste mundo virtual em www.8thwonderland.com.

De Vincenzo Natali (“O Cubo”), vem “Nothing”, que tem todos os ingrediente para se tornar naquele filme “relíquia”, dado que não há planos para distribuição, e o lançamento para DVD, também não está a ser equacionado. Talvez nos valha, neste caso, a internet…David e Andrew são amigos desde os nove anos, e partilham uma casa situada entre uma auto-estrada. Andrew sofre de ágorofobia e David é vendedor. Um dia o mundo desaparece. Literalmente. Fora do seu mundo, da sua casa, não existe nada, nothing, niente, zilch. O mundo que eles conhecem é agora uma eternidade de branco. Um experiência niilista, totalmente bizarra, que mostra que não há nada a temer, como também nada pelo que temer.

Neste Festival, muito aproximado, aliás, ao nosso Fantasporto, não há lugar para fretes, nem para quem-não-gosta-assim-tanto-de-cinema-sci-fi-mas-vai, até porque os preços não são muito convidativos (pelo menos, do ponto de vista português). Como todos os Festivais de cinema, o Sci-Fi London, à sua dimensão, catapulta para o grande ecran filmes que, por uma razão, ou outra, nunca seriam exibidos dentro do maistream sci-fi, sendo recambiados directamente para DVD ou salas com menor expressão comercial. E sabe tão bem ver um sci-fi movie numa sala grande, com um ecran gigante e com um som demolidor…



Existe 1 comentário

Add yours

Post a new comment

Pin It on Pinterest

Share This