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SENSIBLE SOCCERS @ CULTURGEST (16.02.2022)

Foi na pretérita quinta-feira que os Sensible Soccers se apresentaram na Culturgest, com duas produções de Manoel de Oliveira na bagageira, propondo uma performance em que sonorizariam em tempo real essas mesmas filmagens do mestre português. E o povo da capital reagiu em peso, acabando mesmo por esgotar a sala da Caixa Geral de Depósitos a poucos dias da realização do concerto. E que agradável foi voltar a sentir o burburinho social à porta do edifício, que esperamos que assinale definitivamente o fim deste período pandémico.

A relação entre os Sensible Soccers e as artes representativas já não é nova, isto para além da costela cinematográfica que atravessa todos os seus registos discográficos. No entanto, o colectivo originário de Vila do Conde decidiu assumir a relação em disco, tendo-se dedicado no seu quarto LP, “Manoel”, a imaginar uma banda-sonora para os tais dois filmes de Manoel de Oliveira, que decorrem por entre diversos quarteirões da cidade do Porto: “Douro, Faina Fluvial” (1931) e “O Pintor e a Cidade” (1956).

A banda apresentou-se no actual formato quinteto, instalada numa espécie de semi-fosso do auditório da Culturgest, de costas para a audiência, sinalizando que o foco das atenções nesta noite deveria ser a projecção das imagens recolhidas e concebidas pelo realizador português. À imagem de “Manoel”, a viagem arrancou ao som da sublime «Cantiga da Ponte», movendo posteriormente a mira da Ponte Luís I para a restante zona ribeirinha, ao longo da qual Manoel de Oliveira deu destaque às diversas tarefas da faina do Douro, e também doutras relações mais sociais e até afectivas. E, nas faixas assinadas pelos Sensible Soccers, conseguimos notar a diferença de tom entre esses dois mundos, o profissional e o social, além de também transparecerem sonicamente o ritmo e a dureza da vida quotidiana daquelas gentes portuenses.

Na segunda etapa do cine-concerto, durante a qual foi projectado “O Pintor e a Cidade”, as atenções rumaram a zonas mais sociais e nobres da Invicta, focando-se igualmente num dia-a-dia menos pesado, embalado pelos passos do pintor António Cruz, incluindo igualmente actividades de lazer de fim-de-semana, como o jogo no antigo Estádio das Antas ou o concerto filarmónico no coreto do jardim. E é notório a mudança de rumo das composições dos Sensible Soccers, que imediatamente acorrem também a estes espaços distintos da cidade, tornando-se igualmente menos graves, e acentuadamente mais cosmopolitas, sublinhando as diferenças sociais e de modernidade registadas entre uma e outra obra.

Além de estreitarem os laços entre o cinema e a banda, com o exercício assinado em “Manoel”, os Sensible Soccers comprovam simultaneamente que se movimentam de forma inteligente e interessante entre discos, conseguindo ainda consumar obras conceptuais sem que nunca sintamos as eventuais amarras das diferentes temáticas na criatividade deste colectivo.

Final com merecida ovação de pé, por toda a sala. A noite terminou com a sessão de autógrafos pós-actuação, com os fãs a dirigirem-se às dezenas à zona do merchandising.  



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