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Sharon Van Etten @ Aula Magna (31.05.2022)

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Dia de regresso à Aula Magna, um local onde, por algum motivo, raramente assistimos a maus concertos, e este não foi excepção. Antes pelo contrário. Casa cheia para assistir à primeira data da digressão europeia de Sharon Van Etten, com álbum novo na bagagem, “We’ve Been Going About This All Wrong”. Mais denso e complexo, menos imediato que outros mas que cresce de forma consistente a cada audição. Um passo em frente na carreira da norte-americana.

A primeira ficou (muito bem) entregue a The Weather Station. A canadiana Tamara Lindeman, fez-se acompanhar apenas de um elemento naquela que foi a sua estreia em formato duo. Eram 21h em ponto quando ambas tomaram o palco para nos apresentar um curto, mas caloroso concerto, com o belíssimo “Ignorance”, de 2021, no centro das atenções. Canções como «Tried to Tell You», «Atlantic», «Robber» ou «Loss», surgiram em versões mais despidas, mas não menos belas, com a fantástica voz de Tamara, sempre segura de si. Houve ainda tempo para dedicar uma canção a Francisca Cortesão dos Minta & the Brook Trout, amiga de longa data desde que convidou Tamara Linderman para os acompanhar em tournée por Portugal há alguns anos. Dúvidas houvesse sobre a qualidade das canções, o silêncio na sala era absoluto durante as canções.

São 22h05 quando as luzes se apagam e um diálogo se faz ouvir no sistema de som, anunciando o início do concerto. A magnífica banda (provavelmente vão ler isto ou parecido mais vezes ao longo deste texto) entra em palco, com Sharon Van Etten a fechar o cortejo, com longa saia de cabedal, camisa e uma botas de salto, que lhe conferem uma presença segura e imponente.

“We’ve Been Going About This All Wrong” vai ser a principal fonte de canções do concerto. É evidente a vontade que Sharon Van Etten tem de mostrar as suas novas canções, naquela que representa uma nova etapa na sua carreira. «I’ll Try» garante uma entrada triunfal, a que se segue «Anything». “It could’ve been anything / I didn’t feel anything”. Por momentos vem à memória o concerto que deu no Lux há quase 10 anos. Outros tempos, bonitos, mas completamente distintos do registo actual.

À terceira canção vai para as teclas e atira-se a «Born», também do novo álbum, que termina num crescendo simplesmente fabuloso. São canções que soam bem ao vivo, têm força e personalidade. «Beaten Down» é a primeira visita a um passado, ainda que recente. Antes de «Comeback Kid», de “Remind Me Tomorrow”, se fazer ouvir, há tempo para um desabafo. “Foi bom sair dos EUA”. É fantástico ver Sharon Van Etten a soltar-se canção após canção.

«Save Yourself» leva-nos a “Epic” e o folk entra logo em cena e até a forma de cantar de Sharon Van Etten se altera. A banda que a acompanha é fantástica e o público pede que ela a apresente. Fá-lo-á mais tarde, mas trata logo de acrescentar que “são maravilhosos e que sem eles soaria aborrecida”.

«All I Can» marca a primeira de duas passagens por álbum incontornável que dá pelo nome de “Tramp”. 

Os sintetizadores são a grande adição nas novas canções de Sharon Van Etten. «Headspace» e «Mistakes» são dois bons exemplos disso mesmo. O mundo mudou ao longo destes últimos dois anos e pensar que isso não se reflecte no nosso dia-a-dia, naquilo somos, naquilo que fazemos, seria um pouco ingénuo da nossa parte. Pensar que isso não acontece também com os outros seria de uma extrema ingenuidade. Mudar pode ser bom. Crescer pode ser bom. Aceitar que isso acontece, é essencial. E isso é verdade ali. São as canções novas que melhor evidenciam a qualidade da banda que acompanha Sharon Van Etten em palco. Mesmo que nalgumas ainda seja notória uma procura de equilíbrio. Nada que belisque a entrega, porque é apenas uma digressão que está a começar.

Antes de se chegar ao encore é possível ouvir «Every Time the Sun Comes Up» de “Are We There” e «Far Away». O dia da criança está nesta altura a umas horas de distância, mas nós ali, na Aula Magna, esse local onde raramente se assiste a um concerto mau, parecemos crianças felizes. Segue-se uma chuva de aplausos. Menos do que isto seria um insulto.

No regresso há «Give Out», de “Tramp”, numa fantástica versão upgraded que merecia ser registada em estúdio e a fechar, quase a pedido de várias famílias, «Seventeen» a fechar. 1h15 perfeitas. Podia apenas ter durado um pouco mais.

Comecei este texto a dizer que “We’ve Been Going About This All Wrong” crescia após cada audição, e a verdade é que agora gosto ainda um pouco mais dele.

Texto por Miguel Barba e fotografia por José Eduardo Real.



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