“Sira” de María Dueñas
Mudam-se os tempos, surge uma nova Sira
Sira, de María Dueñas (Porto Editora, 2021) segue os eventos após ‘Tempo entre Costuras’ à perfeição.Um mundo a recuperar das feridas da guerra, uma mulher marcada pela tragédia. Uma fénix renascida das cinzas.
Não foi aquela máquina de escrever que me arruinou o destino. Enganei-me ao pensá-lo quando ainda era jovem e ignorante; quando ainda não tinha guardado na memória palavras como violência, amargura, desolação ou raiva, e era incapaz de prever os sofrimentos que a vida me reservava.
María Dueñas demonstra, novamente, ser uma mestra da palavra, uma pintora cujo pincel transporta o leitor para os locais visitados por Sira. Com um enredo repleto de factos históricos bordados numa tapeçaria de alta qualidade, que prende página a página, e uma sublime atenção aos detalhes, como tece este tapete marroquino, salpicado com personagens históricos, localizações reais e situações factuais aliadas à ficção, faz com que o leitor se sinta ele próprio um espião, envolvido em algo muito secreto, enquanto observa à distância todas as decisões e caminhos tomados por Sira, nas suas novas aventuras, agora entre Jerusalém, Londres, Madrid e Tânger.
Enquanto em Tempo entre Costuras, surge uma Sira jovem, inocente, desesperada, atirada para uma vida de espionagem, enquanto explora o seu potencial como modista da elite; em Sira, está ao lado de Marcus, o seu companheiro de vida e de aventuras. Terminada a guerra, novas oportunidades surgem no horizonte, mas o destino volta a tecê-las, e o futuro promissor que Sira pensava ter, muda radicalmente. Vendo a sua vida de cabeça para baixo, e tendo que recomeçar sem saber bem por onde, surge uma Sira mais madura, mas igualmente teimosa e fascinante, de volta aos seus dias de espiã.
Envolvida em novas peripécias, eis que um espetro do passado volta para a atormentar no presente.

Ansiava por me afastar dos cenários da nossa furtiva existência, cheia de encubrimentos e de mentiras, por esquecer quem tínhamos sido e começar a mostrarmo-nos tal como éramos, de rosto descoberto, sem falsidades, sem incógnitas nem medos.
A outrora espiã e modista, deixa esses dias agitados para trás e parte, na companhia de Marcus, rumo a uma aventura diferente das que vivera até ali. Agora súbdita britânica por matrimónio, Sira já não é modista, nem espiã, mas apenas a esposa de um agente britânico estacionado em Jerusalém.
Os tempos são instáveis, a Palestina parece um barril de pólvora prestes a explodir. Quando um susto, acciona os mecanismos de defesa de Sira, esta começa a pesar os pós e contras de permanecer ali.
Com Marcus quase sempre ausente, e sem ninguém conhecido, que fale a sua língua, Sira sente-se mais à margem do que nunca.
De um dia para o outro, a sua vida muda e ela vai ter que fazer o que faz melhor, sobreviver em situações adversas através da sua sabedoria e capacidade de improvisação, digna de uma espiã.
Entre desgostos, novas amizades, a experiência da maternidade, novos riscos e caras conhecidas que ressurgem no pior momento, Sira vai demonstrar que já não é aquela menina frágil, mas sim uma mulher de garra.
Não, não foi um inocente mecanismo destinado a juntar letras que transtornou o meu destino. Oxalá assim tivesse sido, mas o futuro reservava-me uma sorte diferente.
Sira, de María Dueñas, é um romance histórico, decorado com toques de espionagem, sacrifício, devoção e sobrevivência. Com novos cenários e novos personagens, possui a mesma essência do livro anterior.
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