Smog
O homem certo no local errado.
Bill Callahan esteve em Portugal. O Club Lua recebeu a apresentação do mais recente disco dos Smog, “A River Ain’t too Much to Love”, perante uma plateia bastante bem composta por fãs incondicionais da banda, muitos curiosos e alguns espectadores ocasionais que devem ter caído de pára-quedas no espaço do Jardim do Tabaco. Para os primeiros não desiludiu, para os segundos não acrescentou quase nada, para os últimos era completamente indiferente quem estava em cima do palco, o importante é que havia agitação numa segunda-feira à noite.
Muito se fala da necessidade de novos espaços para realizar concertos em Lisboa com uma capacidade média. O Club Lua (embora o infeliz nome), parece ser uma solução viável. Para além de dispôr de bons acessos, é suficientemente grande para proporcionar bons espectáculos. Mas não Smog. A música de Bill Callahan precisa de um ambiente mais intimista, vive muito do silêncio, é necessário sentir cada palavra e acorde que é debitado e não coabita com o barulho de fundo de uma máquina registadora ou conversa de café. Bastante longe da intimidade do Lux.
Mesmo assim o concerto foi bom. Não foi espectacular mas foi agradável. É difícil imaginar que um “jovem” como Bill Callahan tenha um passado recheado de discos e música e que tenha atingido uma maturidade invejável. Com uma voz grandiosa e um registo bastante semelhante àquele que encontramos em disco, Callahan apresentou, na íntegra, o mais recente disco de originais, “A River Ain’t too Much to Love”, tendo como convidada especial Joanna Newsom, sua namorada.
As músicas são contos, simples de vocabulário, mas intensos no seu sentido. A voz e a guitarra de Callahan encaixaram na perfeição no som das teclas de Joanna mas muitas vezes sofreram de uma percussão demasiado estridente e exagerada, quando se pedia alguma leveza e sensibilidade.
Do alinhamento do concerto, felizmente que não faltou «The Well», uma das melhores passagens de “A River Ain’t too Much to Love”, já no segundo encore, solicitado com afinco por grande parte dos presentes.
Faltou ao concerto alguma dose de eloquência, alguma improvisação que não estivesse nos planos, alguma interactividade com o público (desculpem, mas ainda tenho o Andrew Bird na cabeça) que transformasse um concerto bom e quase certinho num momento para mais tarde recordar. Talvez o local não tenha sido o ideal, talvez o dia não fosse o mais propício, ou talvez Bill Callahan seja mesmo assim. Dúvidas que só serão dissipadas quando regressar a Portugal.
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