“Snowden” de Oliver Stone
O herói da era da tecnologia
Dois anos depois de se revelar ao mundo, Edward Joseph Snowden chega esta semana às sala de cinema como uma personagem, interpretada por Joseph Gordon-Levitt, que relata os episódios que o levaram a revelar os segredos de uma das maiores organizações de vigilância americana. Para uns, Snowden é visto como um traidor, mas para outros, como para Oliver Stone, foi um herói cuja integridade e genialidade merecem destaque na sétima arte.
Este filme mostra como num período de poucos anos uma pessoa pode mudar completamente a sua opinião a ponto de a tornar válida perante o mundo inteiro. E obedece a uma ordem cronológica, desde um Snowden patriota que quer defender o seu país até um Snowden que entrega de mão beijada quantidades de documentos que expõem os abusos de vigilância da organização para a qual trabalhava – NSA (National Security Agency).
O nome é praticamente um resumo do que podemos ver. Este homem tornou-se mediático depois da sua atitude altruísta e mais ainda, depois de se revelar como principal responsável pela difusão dos documentos que circularam em todos os meios de comunicação em 2013/2014 depois de se encontrar com determinados jornalistas ingleses num hotel em Hong Kong. Altruísta, no sentido em que desistiu do bem-estar financeiro que o trabalho lhe dava e da sua relação de longa data com Linday Mills (Shailene Woodley). Se bem que, neste drama, o trabalho e os princípios de privacidade que a organização rompe são algo que absorve e que afetam a sua saúde. E quando há problemas que insistem em ocupar a cabeça, a única forma de a livrarmos deles é tomar uma atitude que alivie a consciência. E as consequências fazem parte do pacote de qualquer decisão tomada.
Apesar de Gordon-Levit não ser muito semelhante com Snowden, o trabalho de caracterização e o desempenho do actor são um dos melhores aspetos a ter em conta nesta longa-metragem. Uma das primeiras coisas que ressalta é o registo de voz, muito mais grave do que o habitual noutras personagens interpretadas em filmes anteriores. Tudo o resto, edição, montagem, luz, enquadramento, também ajudam a enaltecer a personagem, mas é trabalho do ator construir uma personagem empática e nesse sentido, está aqui um bom trabalho.
Há um momento (spoiler alert!) em que ele diz que não quer que os media se centrem nele, mas sim naquilo que lhes entrega. Este filme, enquanto meio artístico, é a perpectiva do seu realizador e parece servir como meio de defesa de Snowden, que até hoje se encontra exilado fora do seu país. Já na minha perspetiva enquanto espectadora, pode também ser uma forma de sensibilizar os cidadãos ligados à net sobre o modo como a nossa privacidade pode ser invadida com um simples click.
Baseado nas obras “Os ficheiros Snowden: a história secreta do homem mais procurado do mundo” de Luke Harding e “Time of the Octupus” de Anatoly Kucherena, faz ainda referência a cenas do documentário Citzenfour e da TED talk de março de 2014 onde falou sobre direitos de liberdade na internet através de um robot de telepresença e que nos traz um final surpreendente…
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