Sónar 2013
Venham mais vinte!
O intitulado Festival Internacional de Musica Avanzada y Media Art está duplamente de parabéns: se por um lado celebrou as sempre especiais vinte primaveras, por outro a transferência do Sonar by Day do Museu d´Art Comtemporani de Barcelona (MACBA) para a Fira de Montjuic exponenciou a secção diurna para uma plataforma mais próxima da Sonar by night. A maior capacidade da Fira traduziu-se num número final de 121.000 (!) participantes contra os cerca de 80.000 nas ultimas edições, sem que este acréscimo fosse traduzido num aumento do caos em torno do festival. Se o volume de negócios gerado na cidade culé na “sonar week” estava avaliada em 52 milhões de euros, pela deloitte é quase certo que o vigésimo aniversário bateu os recordes.
As pistas mais amplas originaram uma melhor mobilidade dentro do recinto dando espaço a maior oxigénio, fundamental nestas situações, e mesmo a cadeiras de rodas e indivíduos com auxiliares de marcha no coração do dancefloor; as filas existentes outrora quando o nome do artista era de peso foram diluídas em excursões ordeiras de mudança “de pista”. Já ninguém fica de fora de nenhum show.
No SonarVillage, o open space do sítio com relva artificial, continua a revelar-se como o melhor espaço para dar um passo de dança ao ritmo do sol de Barcelona embebido por umas Estrellas Damm; por contraste existem dois espaços fechados próximos do Village: o SonarHall, um salão de concertos obscuro mais apropriado para um concerto com guitarras e baterias á mistura. Um bom exemplo foram os Liars, que actuaram em grande forma no primeiro dia, ou para uma performance mais sombria como os Darkstar, que hipnotizaram a plateia no dia término. No piso de cima – com acesso em escadas rolantes – o SonarDôme, um espaço que se aproxima mais a uma pista de dança e onde o experimentalismo é a palavra de ordem no Hall; aos comandos está de novo a Red Bull Music Academy.
Quem não estiver virado para um passo de dança poderá a qualquer altura visitar o SonarCinema ou outras da inovações este ano, o Sonar+D, plataforma que elevou o Sonar para um nível superior, trata-se de espaço didáctico que permite a qualquer um ter curtas reuniões de aconselhamento com os experts – dj´s, produtores musicais, equipa da Google, gestores de editoras ou mesmo equipa da ResidentAdvisor; no MarketLab são expostas as novidades e projectos artísticos relacionados com a tecnologia, música e modelos de negócio; Workshops mais direcionados para os produtores com lições gratuitas do TraktorPro; Conferências, debates e o Music Hack Day onde pelo terceiro ano consecutivo um grupo de 90 hackers criteriosamente selecionados teve 24h para construir a próxima geração de aplicações de música.
Sónar by Day
No primeiro dia só há mesmo o by day: podemos destacar a inspirada atuação de Gold Panda aliando, no Village, do microhouse ao glitch o Londrino, numa festa “warm up” que articulou para o resto do dia; o Liars estiveram, como já referido, em bom nível na “gruta” do Hall, realizando o concerto semelhante ao Primavera Sound Porto com Angus Andrews sempre na linha da frente com o seu noise post punk incaracterístico. Sebastien Tellier teve o momento sentimental do festival quando tocou “La Ritournelle”. Metro Area encheram por completo o Dôme, mas o grande momento tava guardado para Todd Terje e Lindstrom, a dupla norueguesa que acabou o primeiro dia em grande estilo rolando alguns dos seus clássicos e acabando com «I Wanna dance with somebody» da falecida Whitney Houston.
O segundo dia o Village foi altamente eclético, começando por Matthew Herbert dj set, seguido do novo espetáculo de Jamie Lidell, que a solo no meio das suas milhentas máquinas fez uma abertura fantástica para o happy metal dos berlinenses Modeselektor, potentes como sempre, que conseguiram segurar até a ultima o público com ânsia de saltar para o by night onde os Kraftwerk actuavam apenas meia hora depois. No terceiro dia o destaque vai para AlunaGeorge, que estará entre nós no Optimus Alive já esta semana. A dança sexy de Aluna Francis encheu o Village. Nota para o valenciano Nacho Marco que acabou por ser uma das surpresas das festividades. Muito antes tinham actuado os Chromatics a horas indecentes para estas andanças.
Se por um lado a alteração geográfica ficou a ganhar ao nível do espaço, por outro perdeu alguma da sua vertente urbana: deixamos de ter esplanadas e mercearias no Raval super-alimentadas pelo festival e começamos a ter uma praça de Espanha inundada de festivaleiros. Outra vantagem é a diminuição da distância entre o by day e o by night que ficou a uns curtos 15/20 minutos de autocarro e o facto de, quando by day termina, sermos brindados com o conhecido espectáculo de fontes e luz do Palau Nacional Parc Montjuic.
Sónar by night
Trata-se da secção mais mainstream: no by night o Sónar enche quatro pavilhões gigantes quase por completo, e ainda tem uns carrinhos de choque de impossível acesso á mistura – SonarCar – com Djs a anima-los (bien sur), multidões que quase impossibilitam chegar a frente dos palcos, bebidas mais caras, filas para entrar e sair, aliadas a milhares de gigawatts sonoros, mestres e gurus da musica electrónica (e não só) a tocar em simultâneo. O problema a esta hora é simples – onde estar?
Na primeira night destaque para o show 3D dos quarentões (de carreira) Kraftwerk: na entrada eram distribuídos óculos 3D como quem entra num cinema; os “avós” tocaram todos os clássicos, incluindo «We are the Robots» ou «Trans Europe Express», com projecções gigantes em 3D em três écrans gigantes de fundo. Também no SonarClub actou Skrillex com a camisola do Futbol Club Barcelona vestida, num espetáculo laser dentro de uma nave espacial. Entre Kraftwerk e Skrillex destaque para Bat for Lashes no SonarPub, para descontrair com a voz de espirituosa de Natasha Khan a destoar no meio das batidas de outros palcos. O menino-prodigio Nicolas Jaar encheu por completo o SonarLab. Richie Hawtin, apresentando o seu show de Enter no Space de Ibiza, juntamente com Maya Jane Coles e o espanhol Paco Osuna, acabaram por ser as estrelas do fecho da noite, onde o set memorável de Richie ficou marcado por uma explosão final de confettis pretos ao nascer do dia. Derrick May actuava mesmo ali ao lado e Diplo também.
A segunda noite teve como cabeça de cartaz os Pet Shop Boys, e a dupla synthpop provou que os 32 anos de carreira não passaram por eles, com os seus fatos glamorosos em constante mudança, e os seus bailarinos inquietos formaram sem dúvida o cartão-de-visita do Sonar 2013. 2manyDjs acturam no seu formato habitual com projecções alusivas aos álbuns que iam misturando. Paul Kalkbrenner, o mister berling calling repetente, apareceu em jeito de provocação com a camisola do Bayern Munich no SonarClub. Jurassic 5 no SonarPub foram uma lufada de ar hip-hop no meio de tanto beat. Busy P celebrou os dez anos da sua Ed Banger records e quem melhor para representar a editora francesa que ele próprio e os Justice. A finalizar o by night a escolha foi entre Seth Troxler, Luciano e o presente em todas edições do Sonar: Mister Laurent Garnier, hard choice indeed.
Venham mais vinte!
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