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Star Wars: Battlefront II

As cartas dizem que ainda não foi desta...

Determinado a corrigir os erros do passado, Star Wars: Battlefront II faz-se acompanhar por quatro vezes mais o conteúdo do seu antecessor, conteúdo esse que se iria estender às várias épocas desta adorada série – desde a das prequelas à mais recente, introduzida por The Force Awakens. Além de se fazer acompanhar por um modo história (finalmente!), esta sequela acrescenta também um novo e pertinente sistema de classes, todas elas altamente personalizáveis, graças a um robusto leque de armas e atributos que podemos levar para o campo de batalha. Porém, a cereja no topo do bolo, quando Battlefront II foi anunciado, refere-se à abolição da Season Pass e ao assegurar de que todo o conteúdo adicionado no futuro nos iria ser disponibilizado de forma gratuita. A EA ouviu os fãs… ou pelo menos assim parecia.

Esta sequela tinha tudo para ser uma grande homenagem a este universo tão apreciado pelos fãs. De um lado tínhamos uma narrativa que não podia ter começado melhor, com a protagonista Iden Versio a mostrar-nos a sua perspectiva como soldado imperial e do outro, um modo multijogador capaz de fazer as delícias dos fãs que almejavam replicar e fazer parte dos eventos mais emblemáticos do universo de Star Wars. Infelizmente e, sem vos estragar nenhuma surpresa, a história ficou algo aquém das expectativas. Apesar de ter começado muito bem e de me ter levado a cenários deslumbrantes, o facto é que a dada altura a história de redenção de Iden Versio começa a perder gás.

Volta e meia damos com a protagonista a assumir um plano secundário ou a simplesmente desaparecer de cena, dando lugar a outros protagonistas, como Luke Skywalker, Lando Calrisian e Han Solo. Claro que adorei reencontrar todas estas personagens, as missões de Luke e Lando são particularmente memoráveis, mas no final da curta campanha, com a duração de aproximadamente quatro a cinco horas, tive pena que Iden não fosse uma personagem ainda mais marcante e que as consequências directas dos seus feitos fossem omitidas graças a um salto para a frente no tempo.

Por muito que a história tenha pecado em termos de narrativa, no que toca à acção, cumpriu muito bem ao ajudar os jogadores a “tirar a carta” para o modo multijogador. Não os prepara, porém para o ingrato sistema de progressão que o acompanha e que, tal como está, recompensa a sorte dos jogadores e não a sua habilidade. De que forma? Através de lootboxes, mediante as quais podemos recolher Star Cards que iremos utilizar para aprimorar o desempenho da nossa classe de eleição, dando-nos acesso a novas skills, habilidades passivas ou upgrades. Isto, claro se tivermos sorte, uma vez que nestas mesmas caixas, além de podermos recolher cartas para outras classes, naves ou heróis, podemos também amealhar poses de vitória, emotes e por aí fora…

Mas a vantagem destas cartas é inegável e a sua aquisição depressa se torna obrigatória, pois os bónus percentuais que oferecem fazem uma enorme diferença. Desde uma mais rápida regeneração de pontos de vida, algumas Star Cards podem até oferecer uma maior capacidade de recolha de Battle Points. E isto é importante porque é com estes pontos que podemos ter acesso a veículos, classes especiais ou até mesmo heróis que rapidamente podem fazer uma enorme diferença na match que está a decorrer.

Basicamente, uma vez que a recolha de créditos (a moeda do jogo) é extremamente lenta, o sistema de progressão está feito para convidar o jogador a desembolsar dinheiro real se quiser realmente ganhar vantagem, ou simplesmente sentir-se competitivo no campo de batalha. Como se isso não bastasse, o uso dos créditos obriga-nos a optar entre o desbloquear de Heróis (como Darth Vader e Luke Skywalker) ou a aquisição de lootboxes e esperar que tenhamos (ou não) a sorte de nos sair uma carta de que precisemos. Nem o modo Arcade, que a início considerava como um dos pontos mais interessantes do jogo (ao oferecer um maior leque de missões a solo e co-op) é viável, uma vez que depois de cinco missões somos convidados a voltar 14 horas depois para podermos ganhar mais uns míseros créditos…

Este sentimento de frustração foi algo que os jogadores começaram a sentir logo na beta que antecedeu o lançamento deste jogo e não tardaram a fazer-se ouvir. O resultado foi um enorme e justificado tumulto que obrigou a Disney a manifestar-se contra esta prática e até a Comissão Belga teve de intervir, agora exigindo a abolição deste sistema de lootboxes na Europa, após deliberar considerá-las como jogo de azar. Por sua vez, face à animosidade dos jogadores, a EA resolveu suspender o acesso a este sistema de micro-transacções com dinheiro real. Só que não tendo havido qualquer reset, e tendo em conta o facto de ter sido possível desfrutar desse sistema durante toda a semana de acesso antecipado, se o campo de batalha já estava aí desnivelado, não deixou de estar. Aliás, mesmo sem o gasto de dinheiro real, era impossível não estar desnivelado, pois se quisermos progredir, ainda temos de depender da sorte para o fazer.

Sem este sistema de progressão a obrigar a aquisição de lootboxes, Battlefront II tinha tudo para ser uma experiência multijogador notável. Ainda que a progressão das classes seja lenta, como já referi, e de me obrigar a amealhar um enorme número de kills para desbloquear as armas seguintes, é inegável que cada classe confere uma interessante abordagem ao campo de batalha. Ainda que não seja fã do novo sistema de respawn, que constantemente me muda de esquadrão, e ainda menos do facto de os heróis não estarem restritos aos mapas das suas épocas, estes foram dois dos aspectos que imediatamente tive de aprender a contornar, para melhor poder desfrutar da viagem aos 40 anos da série a que este modo me convida.

Onde passei mais tempo, foi no modo Galactic Assault que coloca duas equipas de 20 jogadores num frenético e explosivo encontro e é verdade que este é um jogo capaz de oferecer experiências memoráveis: seja a controlar um Stormtrooper no castelo de Maz Kanata ou a pilotar um X-Wing, sobrevoando um enorme Star Destroyer no espaço ou no meio dos destroços de uma Death Star, enquanto tento esquivar-me e alvejar um Tie Fighter inimigo. O modo Star Fighter Assault é, de facto, também ele um dos pontos altos deste jogo, ainda que continue a achar que é um pouco difícil discernir alguns objectivos e que os seus mapas sejam, por vezes, demasiado extensos.

Só que, a cada morte que me revela as cartas do meu adversário, a cada mísera quantia de créditos que recebo após longas sessões a dar tudo por tudo para fazer a diferença no campo de batalha, é realmente uma pena que um dos jogos mais bonitos que a saga alguma vez recebeu esteja de tal forma contaminado por um sistema de progressão tão pouco gratificante e que compromete toda a experiência de jogo… Face aos eventos recentes a EA prometeu rectificações. Esperamos que a “força” esteja com Battlefront II e que ainda venham a tempo de salvar o seu enorme potencial. Mas tal como está, recomendo que esperem que a poeira assente antes de o adicionarem à vossa biblioteca.



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