Strange Boys
Crescendo jovem com o rock’n’roll.
No seu mítico artigo “Growing young with rock’n’roll”, em 1974, em que ficou inscrita na pedra a citação “vi o futuro do rock’n’roll e o seu nome é Bruce Springsteen”, o crítico Jon Landau escrevia sobre a sua relação com o rock e como precisava de se “sentir jovem” nessa noite em que viu o Boss ao vivo pela primeira vez. No fundo, o rock’n’roll é e sempre foi dos jovens. E bandas como os norte-americanos Strange Boys – seis miúdos com vinte e poucos anos, a cantarem sobre miúdas, festas ou miúdas e festas ao mesmo tempo – fazem-nos sentir jovens outra vez e recordar com nostalgia como eram bons esses tempos.
Foram esses mesmo Strange Boys que encontrámos a encabeçar o primeiro dia da edição deste ano do Barreiro Rocks (dez anos a darem-nos do melhor rock’n’roll possível e nós não nos cansamos de lhes agradecer – e mesmo assim nunca será suficiente), relaxados antes de entrarem em palco para um concerto que fez muita gente boa pensar o mesmo que Landau naquela noite de 1974, mas agora com outros intervenientes: “eu vi o futuro do rock’n’roll e o seu nome é Strange Boys”. São esses mesmo Strange Boys (Greg Enlow e Jenna Thorhill deWitt essencialmente, porque os restantes andavam para cá e para lá demasiado entretidos com outras coisas) que, a meio da nossa conversa, nos garantem que não se vêem juntos a tocar daqui a vinte anos. “De certeza que estaremos a fazer outra coisa e nem sequer vamos fazer nenhuma reunião”, assegura Greg Enlow. Porque o rock’n’roll é coisa de jovens.
Também Mick Jagger, quando era novo, dizia que preferia morrer a andar a cantar o “Satisfaction” com 50 anos. Afinal, já vai nos 60 e continua a fazê-lo. O truque, jura, é continuar a fazê-lo com o mesmo entusiasmo de quando tinha 20 anos. Ou seja, continuar a sentir-se jovem. Falamos nos Rolling Stones e Greg Enlow e Jenna Thorhill deWitt ouvem-nos pela milésima vez, já que toda a gente que escreve sobre os Strange Boys não se cansa de referir como eles soam aos Stones do início, quando andavam a resgatar os blues e a música negra dos Estados Unidos para os tops e as rádios inglesas e europeias. A banda não esconde a influência, que “gosta deles”, assim como de toda a british invasion, uma vez que “cresceram com isso”. Mas Greg Enlow assegura que não são fanáticos dos anos 60, uma “década muito importante porque marcou o início do rock’n’roll”, mas que “não foi diferentes das outras” em relação à importância para a música. “Cada década teve o seu papel na história musical”, acrescenta.
“Nós só tocamos música, não tentamos parecer com ninguém”, explica Greg Enlow, quando falamos também do psicadelismo dos 13th Floor Elevators e de toda uma panóplia de rock’n’roll que é a enciclopédia Nuggets. Vive-se é agora uma fase de grande visibilidade do rock’n’roll, especialmente do garage-rock mais lo-fi (e, enquanto conversávamos com os Strange Boys, entra no camarim um Ty Segall ainda encharcado no suor do seu primeiro concerto em solo europeu, cortesia do Barreiro Rocks – obrigado mais uma vez), em que as guitarras voltaram a ter o destaque da crítica musical. “Mas o rock’n’roll nunca morreu”, explica Greg Enlow, contrariando aqueles velhos do Restelo sempre prontos para meter mais um prego no caixão sempre que surge a oportunidade. Mas, em abono da verdade, diga-se de passagem que, sempre que aparece uma banda como uns Limp Bizkit, uns Puddle of Mud ou uns Nickelback, o rock’n’roll está a pôr-se a jeito.
Portanto, há uma nova vaga de rock’n’roll, onde os Black Lips continuam a ser os ponta-de-lança de serviço, devolvendo o rock aos jovens. Sempre aos jovens. E, por isso, os Strange Boys têm sido também comparados aos caóticos Black Lips. No entanto, são mais uma espécie de Black Lips sulistas, herdeiros de uma tradição americana dos Creedence Clearwater Revival ou mesmo dos Lynyrd Skynyrd, um legado que os Kings of Leon desbarataram por completo depois do primeiro grande álbum. É normal, ou não viessem os Strange Boys de Austin, Texas, bem no coração do sul dos Estados Unidos, terra de cowboys, de tipos com camisas de flanela sem mangas e do Ku Kux Klan, mas também um “sítio muito fácil” para os jovens que aspiram a uma carreira na música. “Em Austin há uma grande comunidade musical, que dá um grande apoio e suporte, com vários locais para tocar, muitas bandas de passagem em digressão e onde toda a gente se conhece”, explica Greg Enlow.
Há data em que está a ler estas linhas, os Strange Boys já devem ter entrado novamente em estúdio, para gravar o sucessor de “Be Brave”, um dos grandes discos de 2010. Além disso, há planos para o lançamento de um split com os Natural Child, colectivo rock-sulista-musculado de Nashville, pela Infinity Cat. E as novas músicas vão soar a quê? “Vão soar bem, gostamos de soar bem”, responde Greg Enlow. “Não queremos soar especificamente de uma maneira, queremos só gravar o que tocamos, somos só uns jovens a fazer música, rock’n’roll”, conclui. Cerca de uma hora depois, o mesmo Greg Enlow, Jenna Thorhill deWitt e o resto da banda subiam ao palco de Os Ferroviários para um grande concerto no Barreiro Rocks, sucedendo a outros miúdos que começam a dar que falar – os Demon’s Claws. E nós, mesmo sem uma necessidade específica de nos sentirmos jovens, voltámos a sê-lo. E é isso também o Barreiro Rocks: voltar a sermos jovens.
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