Street Fighter V

Street Fighter V | Análise

Uma jogabilidade impressionante num jogo que, tal como está, não agradará a todos!

Ao longo dos seus vários anos de existência que a série Street Fighter – uma das mais aclamadas séries de jogos de luta (talvez até a mais influente) – não se conforma. Muito pelo contrário, tem vindo a ser refinada e sujeita às mais diversas alterações. Com o passar do tempo, a componente Online passou a ser uma obrigatoriedade no género mas a Capcom não se esquecia, ou dava a entender que não se esquecia, do jogador casual (com menos tempo para polir a sua jogabilidade) ou muito menos dos jogadores que a têm acompanhado desde alturas em que a competição era feita apenas em salões de jogos, ou localmente com amigos. E por localmente refiro-me ao aconchego do nosso lar, em alegre “rebaldaria” com direito a um lanche “daqueles” feito pela mamã para acalmar os ânimos.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” tem sido um ditado que, felizmente para alguns casos e infelizmente para outros, cada vez mais tenho tido em mente ao analisar novas entradas de séries que acompanho, muitas delas desde a sua origem. Street Fighter é uma delas. Apesar de ter jogado os primeiros jogos da série, foi Super Street Fighter II Turbo que me agarrou e me fez nunca mais largar a série. Não sei quantas vezes derrotei o poderoso M. Bison mas nunca me esqueci da sensação que tive ao ver pela primeira vez este poderoso vilão caído aos pés de um desconhecido e furioso lutador de cabelos vermelhos e fato preto. Apesar do foco principal da série ter sido cada vez mais direccionado para a vertente competitiva entre jogadores, os menos competitivos ou até mesmo os jogadores que queriam descansar e aperfeiçoar a sua técnica de forma mais pausada tinham ao seu dispor conteúdo capaz de os entreter durante largas horas sem terem de recorrer ao modo Online.

Street Fighter IV seria um óptimo exemplo desse balanceamento de conteúdo, não fossem as várias edições complementares com um grau de conteúdo discrepante, aos olhos de muitos, em relação ao preço de que se faziam acompanhar. Chegamos assim a Street Fighter V, lançado no dia 16 deste mês de Fevereiro para PC e no mundo das consolas um exclusivo para a PS4. Um jogo onde é notório o refinar da jogabilidade, tão característica da série e que, a cada lançamento, tem sido capaz de oferecer novas dinâmicas aos jogadores, de modo a que a experiência saiba sempre a novidade e onde a habilidade prevalece sobre a sorte de principiante.

12 lutadores regressam à série mas como a farta barba de Dhalsim indica, os tempos mudaram e isso faz-se notar assim que pegamos na nossa personagem favorita. À falta de Feilong, que tal como Sagat e muitos outros não marca presença neste título, ao jogar com Ken reparei que agora sim os seus movimentos diferem dos de Ryu. Sim, Ken sempre foi mais ágil em termos de movimentos, mas a animação que agora o acompanha marca que, finalmente, Ken deixou de estar na sombra do seu melhor amigo. Outra surpresa para quem regressa à série é que Vega e Charlie Nash (que faz o seu regresso da série Alpha!!!) deixaram de ser chargers. Para garantir a fluidez do combate agora, para desencadearmos um dos movimentos especiais destas personagens já não precisamos de primeiro manter pressionada, durante breves segundos uma direcção e logo a seguir a oposta, juntamente com o botão de murro ou pontapé. Estas personagens estão mais perigosas do que nunca, principalmente nas mãos dos jogadores mais experientes, mas sobretudo estão em pé de igualdade com as restantes. Já que estão a explorar personagens não podemos deixar de reparar nos quatro novos lutadores. São eles F.A.N.G., Necalli, Rashid e Laura. F.A.N.G. é um dos novos generais de Bison e é talvez o personagem mais difícil de dominar. Extremamente defensivo e cruelmente ágil, nas mãos dos mais aptos é capaz de envenenar um adversário durante toda a duração do combate, conseguindo sempre manter uma distância de segurança. Já Necalli, descrito como um emissário dos deuses, procura selvaticamente as almas dos lutadores mais fortes. Puramente ofensivo, é capaz de ataques e movimentos devastadores sobretudo quando desencadearem o seu V-Trigger que resulta num autêntico deleite para os olhos. Rashid traz consigo o domínio do vento para derrubar o adversário, é extremamente ágil e das novas personagens foi a que mais gostei de experimentar. Laura é também interessante. Diria mesmo que a carismática irmã mais velha de Sean Matsuda é bem chocante… depois percebem o que quero dizer.

Graficamente este é um título que não desilude, as personagens estão incrivelmente detalhadas e o mesmo se pode dizer dos cenários que trazem consigo uma interactividade bastante interessante. É pena é que não sejam muitos mas a interactividade que temos com eles compensa em muito. Não há nada do que acabar no canto de um cenário com um poderoso pontapé e projectar o adversário para dentro de um autocarro. Mas se há algo que fala mais alto em Street Fighter V é a jogabilidade. Neste aspecto, este é um jogo exemplarmente intuitivo. Assim que começamos o jogo temos acesso a um tutorial onde nos são explicadas as principais novidades. Ficamos a perceber que os especiais EX têm agora o nome de Critical Arts, e que ainda são impressionantes visualmente, mas é a barra V a grande estrela deste jogo. Esta vai-se enchendo de acordo com os golpes que infligimos e é quando está cheia que podemos desencadear um movimento único para cada personagem. A isto chama-se um V-Trigger e tanto pode ser um golpe especial, um aumento temporário às habilidades de uma personagem entre outras variantes. Mas esta barra pode ser utilizada para desencadear um uma V-Skill, um golpe também ele único para cada personagem e que pode carregar a barra V ou um V-Reversal. Este último, gasta uma porção da barra e serve sobretudo para os momentos de maior perigo ao permitir-nos executar um contra-ataque.

O leque de 16 personagens pode saber a pouco mas acreditem que cada personagem traz consigo uma diferente forma de jogar e pensar Street Fighter, oferecendo uma complexidade capaz de fazer inveja aos demais jogos do género. Infelizmente, sem ser no modo online não há muitas opções que nos ofereçam um desafio capaz de nos permitir aprimorar e compreender um pouco melhor a jogabilidade que este jogo oferece. É intuitiva, claro, mas participar em combates online sem o mínimo de preparação implica que seremos rapidamente destruídos pelos jogadores veteranos, sem que daí consigamos retirar algumas conclusões. Offline os jogadores podem contar com o modo Story mas por enquanto pouco tem para oferecer. Uma vez que só em Junho é que chegará o verdadeiro modo história com direito a cinematics em Anime, por agora, temos apenas um leque de prólogos para cada personagem que se divide entre três a cinco combates de apenas um round. É interessante saber o que move algumas das personagens, sobretudo as novas mas é fácil cair no aborrecimento. Os diálogos surgem em imagens com arte conceptual e algumas são até bem interessantes só que os combates são extremamente fáceis. É pena que não possamos mudar o grau de dificuldade. Fora o modo história, temos o modo Survival, aqui já podemos mudar a dificuldade e neste caso recomendo que escolham uma das mais altas, pois na Normal só lá para o adversário vinte e tal é que a IA começa a dar mais luta. Também aqui, os combates são apenas de um round e no final de cada surge uma lista de atributos. Destes podemos escolher apenas um para o combate seguinte a custo de alguns dos pontos que vamos conseguindo. Estes variam entre um maior poder ofensivo ou defensivo ou até o restabelecer de uma pequena ou maior percentagem de vida. Tudo isto para que consigamos lutar mais tempo e amealhar mais pontos. Apesar de ser um modo pertinente, a ausência de um modo arcade é gritante, tal como a da hipótese de podermos simplesmente participar em combates de três rounds contra o computador e rodar as personagens a nosso bel prazer até que nos sintamos preparados para ir para o modo online. Antes Street Fighter agradava a todo o tipo de jogadores mas agora nem por isso.

Uma vez que o modo Challenge (que nos ensinava as várias nuances das personagens e que realmente nos deixava preparados para mais tarde tentarmos competir contra outros jogadores) só chegará no mês de Março se querem praticar terão de o fazer no modo de treino. Tal como está, Street Fighter V pisca os olhos aos veteranos online da série que não vão perder tempo a juntar-se nas salas para combates casuais, para posteriormente tentarem subir no Ranking Mundial. Se fizerem parte da comunidade mais competitiva, ou se tiverem amigos com quem jogar, mesmo localmente, certamente que logo à partida irão sentir-se em casa em Street Fighter V. Já o jogador casual como tenho vindo a indicar, terá de aguardar pelos meses que se seguem até conseguir desfrutar da experiência que este jogo terá para oferecer. Entretanto joguem e arrecadem Fighters Money para que possam adquirir todo o conteúdo sem terem de gastar um tostão para adquirir os futuros DLC. Apesar de todos os problemas que à primeira vista possa ter para muitos, há um aspecto que é inegável. Apesar de deixar uma sensação de estar incompleto Street Fighter V oferece uma jogabilidade impressionante e exemplar ao mostrar-se intuitiva o suficiente para receber de braços abertos os novos jogadores.



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