Mão-cheia de livros… no sapatinho
Mais um Natal, mais um desafio. O que oferecer?
A resposta é simples: livros. E se 2022 foi profícuo foi na edição livreira, com opções para todos os gostos, idades e carteiras. Sejam autores portugueses, estrangeiros, estreantes ou nomes consagrados, o mais difícil é escolher o título certo para a pessoa em questão. Para facilitar essa tarefa, deixamos algumas sugestões.
Começamos pelos mais novos. Baseados nos episódios da série televisiva homónima, Bluey: Boa Noite Morcego, Bluey: Hoje é o Papa que Deita e Bluey: As Avozinhas vão fazer as delícias dos fãs deste verdadeiro sucesso internacional made in Austrália e que revela o quotidiano de uma família canina composta pela Mãe, Pai, Bingo e Bluey. Misturando curiosidade, brincadeira, humor e vida em família, com elevadas doses de uma peculiar pedagogia, estes livros são apaixonar crianças e pais. A edição está a cargo da Booksmile.
Ainda a pensar nos mais pequenos, Planeta Tangerina apresenta Desenha Tudo o Que Quiseres, de Madalena Matoso, é um convite à expressão de emoções, ideias, conceitos ou uma forma simples de pegar em lápis, marcadores ou afins, e dar asas à imaginação, seja desenhar uma casa, o seu interior, uma paisagem, com ou sem pormenores, com muitas coisas ou só uma. A liberdade é total, a diversão garantida.
Um dos best-sellers no festival Amadora BD e aconselhado a todos os fãs do Sport Lisboa e Benfica, Uma Chama Imensa, de Ricardo Venâncio, foi originalmente desenvolvido para a editora francesa Dupuis, numa coleção sobre clubes de futebol, sendo um notável exemplo de como é possível transpor a paixão do desporto para a banda desenhada. O argumento centra-se num jovem dos juniores ao longo do início da sua carreira e de um período difícil da sua vida.
Ainda no universo da BD, chegou recentemente aos escaparetes a mais recente aventura da dupla Blake e Mortimer, publicada pela editora Asa. Chama-se Oito Horas em Berlim e transporta o leitor para a primavera de 1963, algures nos montes Urais, no coração do Império Soviético, onde são descobertos sete caixões, no interior dos quais jazem cadáveres cuja pele do rosto foi arrancada. Paralelamente, em Berlim, um homem é morto ao atravessar o Muro que divide a cidade ao meio. Como vai decorrer a trama, é um segredo apenas revelado para os leitores, mas, mesmo assim, deixamos uma pista em jeito de peculiar palavra: Doppelgänger.
Para gente graúda, a oferta é também muito rica. Misericórdia, de Lídia Jorge, assume-se como um dos livros mais audaciosos da literatura portuguesa dos últimos tempos, sendo sublinhado pela habitual escrita cuidada e elegante da autora algarvia. A narrativa está envolta de ironia e esperança, mas também a crueza de uma vida que nem sempre é o que queremos ou esperamos, tendo como ponto de partida o diário de uma mulher que incorpora no seu relato o fulgor das existências cruzadas num ambiente concentracionário, e transforma-se no testemunho admirável da condição humana. Um lançamento da editora D. Quixote.
Cerca de um ano depois da estreia nas aventurais policiais, João Tordo regressa com Cem Anos de Perdão, Companhia das Letras, mais um excelente thriller que tem na dupla Pilar Benamor e Cícero Gusmão, os (anti)heróis que lutam em nome de uma justiça que nem sempre é o que deveria ser. Neste segundo tomo, continuam as histórias bizarras vividas a um ritmo muito próprio, tendo, desta vez, como foco uma seita devota a S. Dismas, “o bom ladrão” crucificado ao lado de Jesus Cristo, e várias camadas de fanatismo, momentos obscuros e sombrios, mas, acima de tudo, uma escrita apaixonada e apaixonante.
Dono de uma escrita singular, Gonçalo M. Tavares é um dos nomes maiores da literatura nacional e todos os seus livros são a tentativa de retratar um mundo que explora valores e princípios/conceitos universais, seja o bem e o mal, o medo e a coragem, a tranquilidade e a violência, o desconhecido e o familiar. É com base nesses prossupostos e vivido num lugar sem espaço ou tempo definidos e habitado por personagens onde o referencial é aquilo que nos vai sendo contado, que nasce O Diabo, um livro que se “socorre” de mitologias diversas para revelar a história de cinco crianças que apenas querem o que todos desejam: sobreviver enquanto crescem. A edição tem o selo Bertrand Editora.
Será a China for mais perigosa que a Rússia? A pergunta, pertinente, é um convite à reflexão sobre o atual mapa geopolítico de um mundo cada vez mais ameaçado pelas ditaduras mais ou menos camufladas, mais ou menos declaradas, mais ou menos assumidas, e o mote de A Mulher do Dragão Vermelho, Planeta de Livros, o mais recente livro de José Rodrigues dos Santos. Através de ritmo frenético, com capítulos alternados entre a tentativa de Tomás de Noronha salvar Maria Flor, sua mulher, raptada juntamente com uma mulher misteriosa de lenço preto na cabeça que se autointitula Dragão Vermelho na Índia, e as deambulações de Madina, uma uigur entusiasta e iludida pelo Partido Comunista Chinês, o leitor entra em rota de colisão com um mundo cada vez mais perigoso e à merce de ideologias que sobrevivem à base de uma filosofia dissimulada e alimentada pela discriminação, violência psicológica e completo desprezo pelos direitos humanos.
No que toca a autores estrangeiros, destacamos um dos livros que valeu a Annie Ernaux ter sido galardoada com o mais recente Prémio Nobel da Literatura. Trata-se de O Acontecimento, edição Livros do Brasil, uma obra em forma de diário autobiográfico que relata o drama do aborto ilegal em França na década de 1960 e as dificuldades de alguém, no caso uma jovem de 23 anos, estudante universitária, ou seja, a própria autora, em conseguir ajuda. Escrito de forma crua, por vezes dura, trata-se de um livro que reflete sobre a própria condição humana, principalmente no feminino, mas também sobre o desespero, a solidão a (in)justiça e uma dor que pode se transformar numa sobra omnipresente.
Escrito a quatro mãos, entre Camilla Lacberg, rainha sueca dos policiais, e o mentalista Henrik Fexeus, A Caixa, Suma de Letras, é uma das melhores surpresas do ano dentro do universo do thriller, sendo o primeiro tomo de uma trilogia que promete. Tudo começa quando uma mulher é encontrada morta numa caixa de madeira, com o corpo perfurado por espadas. Perante isso, a polícia de Estocolmo fica perplexa, sendo difícil saber se se trata de um truque de magia que acabou em tragédia ou um ritual macabro. Têm a palavra, a investigadora Mina Dabiri e o mentalista Vincent Walder.
Um dos grandes clássicos da literatura de todos os tempos tem uma nova, cuidado e especial edição disponibilizada pela Bertrand Editora. Trata-se de 1984, de George Orwell, e conta com prefácio de Francisco Louçã, conhecido economista, político e comentado, e ilustrações de André Carrilho, ilustrador, cartunista, animador e caricaturista galardoado com mais de 30 prémios nacionais e internacionais, predicados que dão outra dimensão a um livro intemporal.
Encerramos esta mão-cheia de sugestões com a primeira parte da saga história A Aldeia das Almas Desaparecidas, nascida do génio de Richard Zimler, que narra novas aventuras da família Zarco, um (quase) clássico da obra literária do escritor norte-americano radicado em Portugal. O livro tem como título A Floresta do Avesso e explora os efeitos devastadores da intolerância religiosa na aldeia de Castelo Rodrigo e povoações adjacentes, valendo-se de enorme pesquisa, factos e nomes reais para conquistar o leitor. A edição é da Porto Editora e promete ser uma das mais entusiasmantes de 2022.
Boas leituras e boas festas!
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