Sundance Festival
25 anos a criar heróis independentes.
Entre 15 e 29 de Janeiro decorre em Utah, nos Estados Unidos da América, a 25ª edição do Festival de Cinema de Sundance. O Festival, que nasceu do instituto fundado por Robert Redford, já deu a conhecer realizadores como Quentin Tarantino e Sofia Coppola, prometendo continuar a ser o local privilegiado para as principais estreias do cinema independente mundial. Mas o que será que fez de Sundance o local de culto que se tornou? Não terá sido apenas a neve e o frio…
The Sundance Kid
A história do festival começou em 1969, ano em que Robert Redford protagonizou com Paul Newman o filme “Butch Cassidy and the Sundance Kid” e que catapultou a sua carreira em Hollywood. A clássica personagem de “fora-da-lei”, protagonizada por Redford serviu de mote para a criação em 1979 do Sundance Institute, uma organização que iria ajudar todos aqueles que trabalhavam fora do sistema cinematográfico norte-americano e que, por isso, não tinham oportunidade nem meios de divulgar o seu trabalho.
Na biografia não autorizada de Robert Redford, “The Sundance Kid”, escrita por Lawrence Quirk e William Schoell, a ideia da criação do Sundance Institute nasceu uns meses antes do lançamento do filme “Ordinary People”, em Novembro de 1979, quando Redford organizou a primeira conferência com realizadores numa estância de ski em Utah. A indústria cinematográfica começava a ser gerida pelos grandes estúdios e estava a ser desperdiçado muito talento, sobretudo mulheres e pessoas pertencentes a minorias étnicas.
Embora reconhecido ainda hoje como uma das maiores estrelas de Hollywood, “Ordinary Bob” (alcunha que foi dada a Robert Redford após a estreia e sucesso de “Ordinary People”) sempre esteve ao lado daqueles que necessitavam apoio para ter a sua obra divulgada. Para que o trabalho do instituto fosse reconhecido e divulgado, Redford sabia que teria que ser ele a dar a cara e o nome de “Sundance” seria aquele que mais rapidamente conseguiria penetrar nos media e indústria cinematográfica norte-americana.
Em Junho de 1981, um conjunto de novos realizadores teve oportunidade de trabalhar os seus guiões e os filmes que deles resultaram com alguns profissionais de Hollywood, “recrutados” por Redford. A primeira edição dos Sundance Labs, realizados em Utah na estância de ski de Redford (Sundance Resort) recebeu sete filmes. Embora estes laboratórios não tivessem sido criados com o intuito da comercialização dos trabalhos realizados, Redford foi obrigado a ceder tendo como objectivo a motivação dos autores. “Desert Bloom”, de Linda Remy e Eugene Corr, foi um dos primeiros filmes a estrear “em sala” em 1989, três anos após a sua passagem pelos laboratórios de Utah.
A constatação de que os filmes de Sundance necessitavam de mercado e distribuição, foi talvez o principal mote para a criação do Festival com o mesmo nome. Nascido do moribundo Festival de Cinema dos Estados Unidos que sofria de uma enorme crise orçamental, a primeira edição do festival ocorreu em 1985, em Utah, premiando “Blood Simple” de Joel Coen, como melhor filme de ficção. Embora sendo reconhecido como Sundance Festival, a designação “Festival de Cinema dos Estados Unidos” manteve-se até à edição de 1990.
O número de filmes exibidos no festival aumentou ano após ano, assim como as secções (com principal ênfase para as curtas, sendo que os documentários sempre tiveram presença garantida desde a primeira edição) e as estreias mundiais. Em 1989 o festival apresentou “Sexo, Mentiras e Vídeo” de Steven Soderbergh, filme que garantiu uma maior cobertura mediática e que foi galardoado com o prémio do público.
Desde o início do projecto “Sundance”, Robert Redford sempre foi bastante crítico em relação aos filmes que entravam nos laboratórios e mais tarde no festival. Na sua opinião, alguns filmes eram “demasiado feios” e nem encontravam “palavras para os descrever”. Redford sempre acreditou que a cinematografia independente deveria ter como principal tema a condição humana, a sociedade e a evolução do pensamento.
Na edição de 1992, Quentin Tarantino estreou no festival o seu primeiro filme, “Reservoir Dogs – Cães Danados” (após ter passado pelos laboratórios de Sundance). Para além de ter conseguido lançar a sua carreira e o culto em seu redor, Tarantino abalou a própria estrutura de Sundance. A abordagem violenta e sanguinária de muitos dos filmes estreados no festival, contrariavam a visão de cinema independente de Redford. “Após assistir a estes filmes só consegui comer qualquer coisa 24 horas depois. A violência deixa-me muito mal-disposto”, afirmou Redford. A sua visão de cinema independente, embora criticada por muitos, prevaleceu, e o festival seguiu o caminho do seu fundador.
Mais do que um festival de cinema, Sundance foi-se tornando o local privilegiado para realizar estreias mundiais e catapultar realizadores para a fama. Os irmãos Coen em 1994 com “The Hudsucker Proxy”; Richard Linklater em 1995 com “Before Sunrise”; Sofia Coppola em 2000 com “The Virgin Suicides”; Richard Kelly em 2001 com “Donnie Darko” e Christopher Nolan com “Memento” em 2001.
Em relação ao cinema de expressão portuguesa, o maior destaque vai para o realizador Angolano Zézé Gambôa que venceu o prémio para melhor filme estrangeiro em 2005 com “O Herói”.
Sundance 2009
Na 25ª edição do festival serão exibidos 118 filmes (foram submetidos 3661), incluindo 88 estreias mundiais, representando 21 países. Serão apresentadas 42 “primeiras obras”, 28 das quais em competição.
A secção competitiva da edição deste ano do festival contará com 64 filmes (1026 submetidos) divididos em 4 categorias: Ficção produzida no Estados Unidos, Ficção Estrangeira, Documentários produzidos nos Estados Unidos e Documentários Estrangeiros.
Das escolhas deste ano encontra-se “Carmo”, a primeira obra do brasileiro Murilo Pasta, primeiro latino-americano a realizar programas de ficção na BBC, incluindo “Casualty”, programa de maior audiência na TV inglesa.
Rodado no Pantanal mato-grossense, o filme narra o romance entre Carmo (Mariana Loureiro), uma bela jovem de 22 anos que anseia sair da cidade de Vila Bela, perdida na fronteira entre Brasil e Paraguai; e Marco (Fele Martinez, de Má Educação), um contrabandista espanhol preso a uma cadeira de rodas. Juntos, embarcam numa jornada de perseguições e fugas pelo Pantanal. No elenco, estão ainda Márcio Garcia, Seu Jorge, Rosi Campos e Thais Fersoza.
Uma das estreias mais aguardadas do festival está incluída na secção “Park City at Midnight”, onde são apresentados 8 filmes todos com o objectivo de entreter e surpreender. “Black Dynamite”, realizado por Scott Sanders, é ao mesmo tempo uma paródia e uma homenagem aos filmes de um período conhecido como a Blaxploitation, onde filmes com negros como actores principais e efeitos especiais de quinta enchiam as salas de cinema.
Michael J White interpreta “Black Dynamite”, um ex-agente da CIA, que luta kung-fu, dirige um carro caríssimo e é amado pelas mulheres. Este filme tem tudo para ser um grande sucesso. Espreitem o trailer que se encontra na página oficial do filme e vão ficar cheios de vontade de voar até Utah.
Existem muitos outros filmes que poderíamos destacar mas provavelmente será melhor descobrirem a programação do festival e todas as secções através do seu site oficial. Para além da programação podem encontrar muita informação sobre a história de Sundance e acompanhar ao vivo algumas conferências que se realizam entre 15 e 29 de Janeiro.
Existe 1 comentário
Add yoursPost a new comment
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Aqui está uma excelente “desculpa” para ir aos EUA!