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SUPER BOCK EM STOCK 2009

Concertos memoráveis, algumas desilusões e milhares de pessoas na Avenida da Liberdade. Dois dias de descoberta no coração de Lisboa.

A 2ª edição do Super Bock em Stock (SBES) foi um sucesso! Durante duas noites (4 e 5 de Dezembro), a Avenida da Liberdade transformou-se no centro musical da cidade com milhares de pessoas a usufruírem das dezenas de espectáculos, divididos em 7 espaços, com alguns dos projectos mais interessantes da actualidade a actuarem pela primeira vez em Portugal.

Devido à especificidade do Festival, com concertos agendados para o mesmo horário em diferentes espaços, foi fundamental efectuar um planeamento. Esta característica torna este evento ainda mais interessante, possibilitando a cada um dos espectadores criarem o seu próprio Festival conforme os seus gostos pessoais. Sendo assim, os parágrafos que se seguem apenas abordam os concertos que tivemos possibilidade de assistir. Pedia a todos aqueles que lerem este texto que nos comentários indicassem o vosso trilho e o que mais gostaram.

Dia 1 – Uma desilusão bestial e uma onda surpresa

A nossa noite começou na Sala 2 do cinema São Jorge onde assistimos a alguns minutos da actuação dos Bass-Off, trio das Caldas da Rainha que venceu o Termómetro Unplugged 2008. Praticantes de um indie rock a cair para o pesado, a banda conseguiu arrancar alguns aplausos dos curiosos que a essa hora já tinham terminado o jantar.

Os Wild Beasts constavam como um dos pratos principais do nosso menu para a primeira noite de concertos. A banda inglesa, que faz parte do catálogo da Domino Records, editou no decorrer de 2009 um dos discos mais aclamados pela critica, “Two Dancers”, onde apresenta uma sonoridade única, apelidada por alguns como “dream pop”. Infelizmente, ao vivo, a banda esteve aquém das expectativas. A banda demorou muito tempo a encontrar-se e o falsete, muitas vezes utilizado por Hayden Thorpe, rapidamente tornou-se cansativo. A enorme agitação na sala poderá ter influenciado a primeira parte da actuação da banda que, mesmo assim, merece uma segunda oportunidade, em outras circunstâncias menos festivas.

Trinta minutos depois do inicio da actuação dos Wild Beasts, a nossa correria começou. Decidimos não assistir à aula de aeróbica que Ebony Bones iria apresentar no Tivoli (procurem na nossa galeria o Video da actuação no Festival Sudoeste) e rumámos ao Maxime onde o concerto dos Wave Machines já tinha arrancado. Embora o seu disco de estreia, “Wave If You’re Really There”, tenha passado um pouco ao lado ao nível promocional – Tim Bruzon (vocalista e guitarrista da banda) referiu isso mesmo durante o concerto – a banda de Liverpool foi uma agradável surpresa brindando o público com um concerto com alguns altos e baixos: excelente em temas que obrigam a alguns movimentos de anca – “I go I go I go”, primeiro single da banda é um excelente exemplo; um pouco mais aborrecidos quando optam por uma vertente pós-rock. A questão que colocam no tema “Punk Spirit” – ”Where is my punk spirit when I need it?” – é exactamente aquela que gostaríamos de lhes colocar. Se utilizarem a irreverência que possuem e que utilizam bem em palco, iremos ouvir falar muito deste projecto inglês.

De regresso ao agitado passeio da Avenida da Liberdade estava na hora de decidir o que fazer. Optámos por ir para o Hotel. Não fomos dormir mas sim assistir à actuação de Samuel Úria no 9º andar do Hotel Tivoli. Para alcançar o nosso objectivo foi necessário esperar um pouco porque como nos disse um dos empregados do Hotel, “a segurança é o mais importante” e a sala tem uma lotação reduzida. Depois de esperar alguns minutos conseguimos chegar ao nosso destino mas foi impossível chegar às imediações do palco. Pessoas sentadas, outras em bicos de pés a tentar ver alguma coisa. Optámos por  ficar sentados a beber uma cerveja enquanto ouvíamos alguns delírios criativos de Samuel Úria  (Beatles à mistura) e aclamação da audiência. Infelizmente só deu mesmo para beber uma cerveja porque os Voxtrot já se encontravam em palco no São Jorge.

Os jovens do Texas, mais propriamente de Austin, terra do South By Soutwest, festival que inspirou a criação do SBES, ganharam o prémio simpatia da noite. É importante salientar que os Voxtrot não andam nestas lides musicais à pouco tempo. Com três EP’s e um disco de originais editado, a banda apresentou-se cheia de energia, com um rock entusiasmante mas que rapidamente se tornou monótono. A receita é sempre a mesma: temas curtos com um vocalista que não pára quieto em palco e que no intervalo de cada música vai debitando umas piadas: “Adoro Lisboa! Alguém quer casar comigo? Não interessa se é homem ou mulher”. Num festival em que o objectivo é “girar” por todas as salas, os Voxtrot encaixam bem. Infelizmente ficámos muito tempo no São Jorge!

O tempo desperdiçado no concerto anterior teve como consequência assistir à actuação de Legendary Tiger Man no segundo balcão do Tivoli. Ladeado por dois ecrans gigantes foi complicado acompanhar o concerto de Paulo Furtado já que dezenas de pessoas que se encontravam no 2º balcão conversavam alegremente como se estivessem num qualquer café, de costas viradas para o palco. Mesmo assim, destacamos o dueto com Cláudia Efe e Rita Redshoes e o acesso de vedetismo já habitual, quando mandou a guitarra ao chão quando a projecção de vídeo falhou na altura do dueto “virtual” com Lisa Kekaula. Ficamos à espera do concerto perfeito que Paulo Furtado tanto procura e que já o merece.

Dia 2 – Os Strokes foram à praia no meio de canadianos

A nossa noite de Sábado começou com o sorriso de um canadiano. Mocky regressou a Portugal acompanhado por três músicos e proporcionou um inicio de noite jazzy bastante adequado ao horário e espaço que lhe fora designado. A intensidade e alegria da sua expressão facial, de quem parece estar a viver cada momento do tema como se fosse o último, contagiou q.b a plateia. Muitos foram aqueles que saíram sala alegremente a assobiar uma das suas melodia. E foi assim que atravessamos a avenida em direcção ao Tivoli.

A atravessar um excelente período, a dupla norte-americana Beach House, acompanhada ao vivo por um baterista, encheu o Tivoli e recebeu a aclamação do público. A pop electrónica, por vezes sombria, que a voz grave e volumosa de Victoria Legrand eleva para um nível muito para além do óbvio, foi capaz de agarrar praticamente todos os presentes até ao final do concerto (caso raro neste festival). Temas geniais como “Norway” (do disco “Teen Dream” que estará disponível brevemente) e “Gila” criam grandes expectativas relativamente ao futuro deste projecto. Em Março vamos ter a oportunidade de voltar a vê-los em Portugal. Nesse concerto, muitos daqueles que foram “às cegas” ver os Beach House não estarão presentes já que no final pudemos ouvir algumas expressões como “não era isto que estava à espera” e “foi um bocadinho parado demais”. Nós gostámos muito!

Depois de mais uma travessia pela Avenida da Liberdade, entrámos a meio da actuação explosiva do trio britânico The Invisible. O som quase ensurdecedor não ajudou a actuação do projecto que claramente necessitava de um espaço diferente para impor a sua música, baseada em linhas de baixo fortes, guitarras pesadas e uma postura mais virada para o clubbing. Nas primeiras filas ainda se juntou um pequeno grupo de fiéis fãs a dançar.

Ainda com um zumbido nos ouvidos voltamos a cruzar a Avenida da Liberdade para a actuação mais esperada de todo o Festival (obviamente que esta opinião é totalmente subjectiva). Os Little Joy formaram-se no verão de 2006 quando Rodrigo Amarante (Los Hermanos) conheceu, “com uns copos a mais”, Fabrizio Moretti (The Strokes) no Lisboa Soundz. A junção destes dois mundos não podia ser mais clara: temas com clara influência da sonoridade dos The Strokes (é impossível não imaginar Julian Casablancas a cantar) com um toque rítmico brasileiro e influências dos Beach Boys. A esta formula juntaram a voz de Binki Shapiro, que ao vivo não conseguiu ter o mesmo efeito que o registado em disco (talvez devido ao baixo volume do seu micro). Um concerto muito bom, onde todas as faixas do disco de estreia foram apresentadas e que deixa a sensação que, caso assim o queiram, podem ter um futuro bastante interessante.

Estaria Patrick Watson à espera de tocar para uma sala completamente esgotada? Talvez! Estaria planeada a ida à casa de banho a meio do concerto? Talvez! Será que a falta de energia que interrompeu dois dos seus temas e proporcionou os melhores momentos da noite (a cantar com um megafone) estava na setlist? Naaaa. Na realidade tudo isto aconteceu no regresso a Lisboa do prodigioso músico canadiano. Embora “Wooden Arms”, disco editado em 2009, não tenha sido tão bem recebido como o seu antecessor, “Close to Paradise”, ao vivo, as canções de Patrick Watson ganham uma outra dimensão devido à qualidade e empenho de todos os músicos que o acompanham. O final apoteótico foi servido com um “Shame” acapella, Para muitos terá sido a grande surpresa do Festival, para nós, que tivemos a oportunidade de assistir ao concerto a Aula Magna, foi mais um concerto de Patrick Watson.

CURIOSIDADES

1 – A chuva era um dos problemas que a organização poderia enfrentar. Felizmente, S. Pedro deu uma ajudinha é nem um pingo caiu do céu. Caso isso tivesse acontecido, iríamos assistir a uma marcha vermelha pela avenida da Liberdade porque a organização ofereceu a todos um impermeável, que fazia parte de um pack que continha a programação do festival e uma senha para uma cerveja.

2 – Devido à óbvia limitação de lugares, existia sempre a necessidade de saber se o local para onde queremos ir já está à pinha. Para que fosse possível ter essa informação em real time, a Vodafone disponibilizou uma aplicação (através de Bluetooth) que permitia saber quais os artistas que se encontravam em palco e qual a taxa de ocupação das salas. Infelizmente, a aplicação não funcionou em nenhum dos telefones que experimentámos.

3 – Foram muitos os artistas que durante as actuações referiram que “adoram Lisboa” e que querem mudar-se para cá. Fica sempre bem dizer isso e sem dúvida que um dia a passear por Lisboa pode enganar, mas sinceramente acho melhor encontrarem outros chavões para conseguir sacar uns aplausos do público.

4 – Pela primeira vez na história festivaleira nacional, um parque de estacionamento subterrâneo fez parte do cardápio. Uma solução feliz e original mesmo com cheiro a pneu queimado e um alto índice de CO2.

VEREDICTO

A organização de um festival com estas características é um enorme risco e obriga a uma operação logística complicada. É necessário portanto dar mérito a todos os que trabalharam para o sucesso do Festival que deu a oportunidade de conhecer um grande número de projectos. Esperamos que o SBES possa crescer. Deixamos três ideias: Três dias de festival; concertos a partir da hora de almoço; rotatividade de alguns projectos pelas salas. Se alguma delas for utilizada vamos reivindicar direitos de autor!



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