Super Bock em Stock 2023 – Dia 1 (24.11.2023)
O Salão Nobre da Sociedade é uma sala magnífica e no passado já serviu de palco ao festival. Este ano a sala é mais modesta e fica logo após a entrada no edifício, vizinho do Coliseu. A nossa viagem pelo Suoer Bock em Stock tem início aqui, para escutar Ela Li a apresentar na íntegra o seu álbum de estreia, recém-editado, “Choradeira”. Pop em português, atravessada pelo tropicalismo e bossa nova, numa voz doce, segura e com apontamentos interessantes.
No Capitólio algo desolador no que público diz respeito, os primeiros minutos da actuação de Carla Prata ficaram entregues à DJ que a acompanha, um pouco em jeito de tentativa de aquecimento. Uma tentativa válida, mas inglória. Com a entrada em palco de Carla Prata o brilho é outro, e ouvimos com atenção o hip hop e R&B intercontinental, com raízes alicerçadas em Portugal e Angola, mas com a naturalidade inglesa de Carla Prata a revelar uma influência forte na vertente R&B da sua música. Uma personalidade forte e uma voz cristalina, mas acutilante nas palavras que merecia uma sala mais composta ou, em alternativa, uma sala de menores dimensões, porque isso não deve ser de todo visto como uma desvantagem.
A história de amizade entre João Só e os Capitão Fausto é antiga como ficámos a perceber no serão que nos foi proporcionado na Sala Manoel de Oliveira, no Cinema São Jorge. Num registo descontraído, com as canções a serem sempre antecedidas de uma pequena introdução ou de uma história, ouvimos as canções de João Só e ficamos a saber que o pai é do Benfica e a mãe é dos Beatles. Nena fez uma aparição surpresa, para cantar um par de canções onde se inclui «Qualquer Dia Queres Voltar», lançada recentemente. A entrada dos Capitão Fausto (que se encontram em intenso processo de composição e gravação) em palco, trouxe as suas canções num registo diferente, com muitas cordas em palco, mas sem perder o brilho que as caracteriza como «Amor, A Nossa Vida» ou «Morro na Praia”. Não encheu as medidas, mas foi bonito estar ali.
Os Gilsons moveram a primeira grande multidão da noite, no Coliseu dos Recreios. A forte presença de público brasileiro garantia que a noite estava ganha para a banda. Nas suas canções é fácil reconhecer a influência dos nomes incontáveis da música brasileiro, ou não sejam três dos elementos da banda, filho e netos de Gilberto Gil. Há por isso aquele toque mágico que apenas os brasileiros sabem dar na sua música, em que qualquer palavra soa bem cantada com aquela jinga, no entanto parece que lhes faltou algo para descolarem para uma noite memorável. Quem já conhecia a música dos Gilsons continuou a gostar, com certeza, já quem os escutou pela primeira vez ficam algumas dúvidas se os revisitarão. Faltou sal.
O grande concerto da noite coube a Will Butler + Sister Squares, perante um São Jorge à pinha e a cada canção a envolver-se mais e mais no concerto que terminou numa verdadeira apoteose de corpos a dançar entre filas de cadeiras demasiado apertadas para o que o que vinha de palco exigia. Foram intensos, arrebatadores e transcenderam de longe o registo interessante q.b. que oferecem em disco. O espectáculo que oferecem está pensado ao milímetro, ao ponto de a ausência de uma equipa de apoio leva a que a banda torne a dinâmica da troca de instrumentos e de posições em palco, como uma parte integrante do concerto, dando-lhe uma fluidez fantástica. Junta-se a isso um sentido de falsa anarquia sonora, com as canções a mudarem de direcção e as Sister Squares a alavancarem muitas dessas mudanças, mas sempre com Butler no comando, indicando o rumo a seguir.
A fechar, o palco do Coliseu recebeu um delicioso B2B entre Batida e Bonga. Pedro Coquenão e Cota Bonga ofereceram música com um prazer imenso numa experiência, que da dada a riqueza e sonora ouvida, se torna justo dizer que ganhou contornos de serviço público.
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados