Super Bock Em Stock | Dia 2 (23.11.2019)
O nosso segundo dia de festival começou da mesma forma, com uma subida ao terraço do Capitólio, também conhecido como Bloco Moche por estes dias, para aquecermos os motores ao som das músicas selecionadas a dedo pela dupla da SBSR FM, Ricardo Mariano e Tiago Castro. Era, aliás, a única opção durante a primeira hora do Sábado de Super Bock Em Stock (SBES).
Demasiado de mais esse agradável período nas alturas, descemos em direcção à Sala Santa Casa, que assentou arraiais na Garagem da EPAL, onde os Zarco se mostraram mais que prontos para debitar os temas que compõem o seu álbum debutante. Saídos da família Cuca Monga, e contado com diversas caras familiares doutras andanças, como os Ganso ou os Reis da República, os Zarco denotam marcas da casa-mãe, mas logrando ainda assim elaborar o seu próprio cocktail sónico.
Marissa Nadler era um dos nomes mais aguardados da nossa parte neste SBES 2019. Pesem embora as condições não ideias apresentadas pela sala Buondi no Palácio da Independência (ainda que melhoradas nesta edição, dado que no ano passado não existia propriamente um palco, dificultando ainda mais a visibilidade do público), a prestação desta diva da escuridão foi belíssima. Marissa fez-se acompanhar por dois músicos, algo que não acontece regularmente, e mesmo denotando alguma insegurança por eventual escassez de ensaios, encantou de forma profunda os presentes que praticamente lotaram a referida sala. De todos os temas, salientamos «Leave the Light On», por apenas existir em demo a nível discográfico, e que neste registo ao vivo fez sobressair especialmente a sua beleza.
Saímos em direcção ao palco Super Bock, e ficámos boquiabertos com a extensão da fila para ver Curtis Harding, que chegava praticamente à porta do Teatro D. Maria II situada na Rua das Portas de Santo Antão. Aguardámos pacientemente a nossa vez ao longo desta fila nunca vista num SBES, e ainda assistimos a uma digna fatia da prestação do vozeirão vindo do Michigan. Por entre os seus temas fortes, sempre recheados de Rn’B e soul quase sempre musculadas, houve igualmente tempo para uma versão de «To Love Somebody» dos Bee Gees. Merecia indubitavelmente maior foco, mas os horários e ademais limitações próprias de um festival não permitiram.
Seguimos em passo de corrida até ao S. Jorge, onde estava prestes a entrar em cena Helado Negro, com um dos discos mais apetitosos de 2019. O trio coordenado por simpatiquíssimo Roberto Carlos Lange interpretou de enfiada todo o alinhamento do referido sexto trabalho de estúdio, guardando a recta final para canções retiradas de registos prévios. Foi com um sorriso que abandonamos a banda da sala Manoel de Oliveira graças a canções que nos enamoram através da sua sensibilidade, como «Pais Nublado», «Running» ou «Todo Lo Que Me Falta».
Atravessámos posteriormente a avenida para chegarmos ao Teatro Tivoli BBVA, local onde Josh Rouse desfilava já os seus êxitos. Convocado em cima da hora devido ao cancelamento de Kevin Morby, o estado-unidense radicado na vizinha Espanha colocou o público em polvorosa, com várias filas das bancadas a abandonarem as suas cadeiras para darem largas ao groove omnipresente nas composições de Josh Rouse. Temas como «Comeback (Light Therapy)», «Hollywood Bass Player» ou «Slaveship» foram recebidas de braços abertos e ancas dançantes, sendo intercaladas por um ou outro número retirado do recente disco festivo “The Holiday Sounds”.
Foi em ritmo de TGV que descemos a Avenida da Liberdade até à Estação do Rossio para assistir aos sons incendiários dos Viagra Boys, que regressavam a Portugal após uma propalada presença no NOS Primavera Sound em Junho. Lamentavelmente, o grupo sueco viu os seus dotes lesados por um nível som limitado a nível de decibéis, por uma suposta exigência camarária (pelo que ouvimos no boca-a-boca in loco). De todas as formas, a rapaziada nórdica entregou-se de corpo e alma em palco, ainda que no fundo do recinto chegassem quase unicamente os sons saídos do baixo e do imparável saxofone. Merecem retornar em breve, de preferência num local capaz de abarcar as suas características sonoras devidamente.
A edição do SBES finalizou mais uma vez no Coliseu dos Recreios e, à imagem do que descrevemos em relação à primeira noite, voltámos a sair do palco Super Bock incompletos. A escolha dos Haute para colocar o ponto final no festival não pareceu, de todo, acertada. Além duma banda deveras desconhecida (pelo menos no panorama sonoro no qual nos movimentamos), a dupla francófona não mostrou trunfos suficientes para desempenhar tão prestigiado papel, não indo além de um ou outro tema mais diferenciados por entre um baralho de pop electrónica feita com um pé em ruas imberbes.
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