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Super Bock em Stock 2023 – Dia 2 (25.11.2023)

Foi um dia marcado pelo pouco público, e todos os artistas o sentiram de uma forma ou de outra. É incontornável e será referido apenas neste parágrafo.

Directamente de Nova Iorque, para a Sala 2 do Cinema São Jorge chegam os Pons, para um concerto/performance, alicerçado em percussão garantida por duas baterias, uma guitarra e três elementos (Jack Parker, Sam Cameron e Sebastien Carnot) a transbordar loucura. O ritmo é frenético e mercado por constantes incursões pela plateia, onde ensaiam danças e coreografias entre algumas palavras. Ter uma atitude punk nesta terceira década no século XXI poderá passar um pouco por isto.

Jehnny Beth fez aquilo que sabe fazer melhor, entregar-se de corpo e alma, vivendo o momento, abraçando-o e isso torna tudo mais especial. As Savages há muito que são um capítulo (bonito) encerrado e arrumado. Agora as lutas são outras; para além duma portentosa carreira em nome próprio, há também o activismo, o femismo, programas de televisão e de rádio e até representação. A acompanhar a francesa em palco estão Johnny Hostile na guitarra teclados e Alexandra Dezzi nos teclados e programações. Há investidas pela plateia, pelo industrial e electro, sempre com o punk presente e uma raiva e determinação inabaláveis que embebem todas as palavras de uma força tremenda em canções como «Heroine», «Innocence», «More Adrenaline» ou um cover de «Closer», dos Nine Inch Nails. Adequadíssimo.

Seguiu-se uma curta deslocação à Estação do Rossio, para ver como corria o concerto dos Lip Critic, e assim que chegámos sentimo-nos embalados por uma nostalgia impregnada de Nu Metal, com os Limp Bizkit a virem desde logo à memória, fruto da mistura de géneros que se vao cruzando em palco. Com duas baterias e uma mesa repleta de portáteis e outras programações, os norte-americanos tentam acender o rastilho, mas o tempo húmido e frio não ajuda.

Anna Calvi tem uma voz incrível. Daquelas limpas e cristalinas. É fácil pensarmos nela e na sua guitarra como extensões de si em palco. «Suzanne & I» contínua a soar perfeita, belíssima e majestosa. Há muitos anos, quando os nossos caminhos se cruzaram, Calvi hipnotizou com a sua presença, com aquele olhar magnético. Isso continua válido hoje, mesmo que parca nas palavras, «Hunter», «Wish», «I’ll Be Your Man» ou «Desire» falam por si.

Decidimos fazer uma caminhada a passo acelerado do Coliseu até à Garagem EPAL, conhecida durante estes dias como Sala Tranquilidade, para apanhar a ponta final do concerto de Capital da Bulgária, nome do projecto de Sofia Reis. Apenas houve tempo para escutar duas canções, mas ficar com a clara impressão de que há aqui ideias para explorar e muito, mesmo muito para dizer, quer num sentido mais literal, quer num mais figurativo.

The Legendary Tigerman está em pleno processo de reinvenção. A premissa “Songs for Dancing, Sweating and Kissing”, deixava antever novidades. Logo a abrir, Jehnny Beth fez a perninha em «Everyone» e Sara Badalo deu-se a conhecer como a nova voz da banda que acompanha Paulo Furtado em palco. E é inegável que confere toda uma nova roupagem às canções, que em “Zeitgeist” também começaram a definir um novo rumo, com a electrónica a marcar uma presença muito mais vincada. A vontade de se reinventar e de procurar novos caminhos requer coragem e espírito de sacrifício, e por vezes não é bem aceite ou compreendida por muitos, embora não pareça – de todo – que este seja o caso. O fogo do rock’n’roll contínua todo ali; apenas arde de forma diferente agora.



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