SUPER BOCK SUPER ROCK 2017 | Dia 1 (13-07-2017)
Fervor controlado no primeiro dia do SBSR
Quem desembarcava na área do Parque das Nações, a meio da tarde, facilmente se depararia com inúmeras t-shirts com o símbolo dos Red Hot Chili Peppers já em trânsito pela zona, como se tentassem relembrar-nos das estrelas maiores da primeira noite da 23ª edição do Super Bock Super Rock.
Ao contrário doutros dias de edições passadas, o recinto apresentava já um número assinalável de festivaleiros, que fizeram questão de evitar eventuais confusões à entrada e rentabilizar os bilhetes aproveitando o cartaz do início ao fim. As hostilidades foram abertas por Alexander Search, o projecto liderado por Salvador Sobral e Júlio Resende, baseado no mundo dos heterónimos de Fernando Pessoa, com cada membro da banda a assumir um desses heterónimos, desde Augustus Search a Mr. Tagus. E que jeito dá um heterónimo a Salvador Sobral nos dias que correm, permitindo-lhe fugir dos fãs ad-hoc que surgiram nos últimos meses. Aqui pode dar largas à sua criatividade ao longo das composições magicadas pelos teclados e sintetizadores de Júlio Resende, num tom marcadamente indie-pop. O som acabou por soar demasiado disperso, causa talvez duma mesa de som ainda em aquecimento.
No palco EDP seguiu-se o colectivo brasileiro Boogarins, que granjeiam dum digno culto no nosso país, que apresentou um alinhamento bem disperso por toda a discografia, ainda recentemente alongada com a edição surpresa de “Lá Vem a Morte”. O psicadelismo da banda foi também prejudicado pelo som difuso que a esta hora era oferecido sob a pala do Pavilhão de Portugal. Ainda assim foram conseguindo pintar um arco-íris mesmo sem necessitar de chuva.
Era chegada a altura de estrear o Palco LG, onde pontificavam valores da música nacional, para apreciar a prestação de Minta & The Brook Trout. O colectivo liderado por Francisca Cortesão, recheado de caras já familiares, aproveitar para difundir temas do seu mais recente trabalho de estúdio, o EP “Row”, que prossegue no seu registo delico-doce a que já nos habitou, mas reservando sempre uma dose de frescura, mesmo nos temas mais antigos, como o sempre prazenteiro «Future Me». Uma sonoridade bastante agradável para escutar enquanto a tardinha se ia instalando.
Retornámos em seguida ao palco secundário onde já ecoava o som musculado dos garage-rockers The Orwells. Tratou-se duma performance em crescendo, com o som finalmente a melhor de qualidade e a incrementar o efeito do mesmo na plateia. As guitarras pujantes e a garra de Mario Cuomo fizeram com que temas como «The Righteous One» ou «Let It Burn» sacudissem o público provocando os primeiros momentos de real frisson.
Nova passagem pelo palco secundário onde Manuel Fúria e os Náufragos aproveitavam para desfilar os temas do disco lançado este ano “Viva Fúria”, que soam mais uma vez como um autêntico resumo da música nacional feita nas últimas décadas, sem que nunca deixe de ter o seu cunho pessoal. Além das melodias, as letras também nunca são deixadas ao acaso, retratando muitos costumes e temas que povoam o imaginário do povo português.
Quando nos instalámos novamente no palco EDP já Kevin Morby estava em palco, apresentando as suas composições sempre trabalhadas ao detalhe. Sempre bem apoiado pela guitarra de Meg Duffy (que na noite anterior tinha brilhado na Galeria Zé dos Bois, com o seu projecto Hand Habits), o músico ex-Woods mostrou em primeira mão os temas de “City Music”, editado há um mês, intercalando-os com os momentos maiores do antecessor “Singing Saw”, que já nos tinham sido oferecidos no último Mexefest. Falta agora um concerto em nome próprio, numa sala com um som que faça jus à filigrana musical do norte-americano.
A esta hora éramos confrontados pelo primeiro cruzamento de concertos em que teríamos que sacrificar uma das partes e, entre Capitão Fausto e Throes + The Shine, optámos pelo contagiante rockuduro. O quarteto formado por esta joint-venture é sempre uma aposta ganha, dado que a sua energia em palco, além da experiência musical, acabam por vergar mesmo o público mais reticente. Ao fim de um par de temas as ancas começam a abanar, como que pedindo independência do resto do corpo. A banda deu-nos batida a rodos dando o mote para uma enorme festa que estendeu-se às bancadas sitas em frente ao palco LG.
Dávamos finalmente entrada na MEO Arena, com alguma antecedência, por forma a garantirmos um espacinho na plateia, dado que encontrava-se bastante populada quase uma hora antes da entrada dos cabeças de cartaz em palco. E os Red Hot Chili Peppers retribuíram a lealdade dos fãs com uma entrada bombástica, tocando de enfiada «Can’t Stop», «Snow (Hey Oh)», «Dark Necessities» e «The Adventures of Rain Dance Maggie», após um improviso inicial para aquecer as unhas que tocam guitarra. O disco do ano passado, “The Getaway”, acabou por não ter um peso especial no alinhamento, que foi irmãmente repartido entre os álbuns dos vastíssimo catálogo dos californianos, ainda que tenha sido o trabalho mais representado com três faixas («Dark Necessities», «Go Robot» e »Goodbye Angels»). Flea foi o interlocutor de serviço, como é hábito, e que faz das cordas do seu baixo a batuta que guia o quarteto. A nível visual o espectáculo foi igualmente interessante, com o palco a apresentar sempre um design bastante chamativo. Ainda assim, apesar de uma prestação energética e pejada de êxitos, saímos com a sensação de que a loucura nunca se instalou plenamente no público, pelo menos ao nível das bancadas, que permaneceram demasiado sossegadas ao longo das 16 músicas do concerto. Algo que terá naturalmente contrastado com o fervor da multidão situada à boca do palco.
Após uma curta paragem para recarregar energias, a noite terminou no Palco Carlsberg com a sala praticamente lotada, para ver Xinobi + Moullinex carimbar mais uma actuação digna dos anais da Discotexas, que contou ainda com a presença de Marta Ren num dos temas.
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