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Super Bock Super Rock | Dia 2 (20.07.2018)

O dia de maior enchente e repleto de hip-hop

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Sexta-feira foi o dia de maior enchente no recinto do SBSR, graças à turma do hip-hop que, mais uma vez, respondeu em grande quantidade ao dia de festival dedicado a esse género. Na verdade apenas o palco LG, dedicado a projectos portugueses, teve projectos que não se inseriam na corrente do hip-hop, dado que a programação do palco principal e secundário era inteiramente preenchida pelo mesmo.

Arrancámos a segunda jornada com ProfJam no palco EDP e só à terceira vez é que o sistema sonoro aguentou a energia com que o MC português chegou ao palco. Após duas tentativas frustradas pelo material, e embora tenha custado um pouco a recuperar o ritmo (talvez tenha entrado mais contido para não estourar novamente com a electricidade), ProfJam pôde finalmente injectar a respeitável plateia com o poder das suas rimas. E, como é apanágio dos seguidores do hip-hop, as palavras estavam na ponta da língua, especialmente daqueles que se situavam mais próximo do palco, mostrando o apoio a Mário Cotrim, dono e senhor desta aventura musical.

Oddisee, acompanhado pelos Good Company, foi o nome que se seguiu ainda no referido palco. E que extraordinário concerto nos propositou o rapper de Washington, mercê das suas letras inteligentes e acutilantes, e de conseguir preservar uma interacção contínua com o público, desafiando-o recorrentemente, como por exemplo em «Like Really» ou «You Know Who You Are», com boa ajuda popular na cantoria. Digno de destaque é igualmente o poder vocal dos membros da Good Company que secunda Amir Mohamed (aka Oddisee), em especial do guitarrista Olivier Daysoul e do teclista Ralph Washington (que também deu mostras de grande perspicácia ao substituir o microfone do MC quando o mesmo teve problemas técnicos), chegando ambos a assinar um tête-à-tête estrondosamente aplaudido. Estivemos, sem sombra de dúvida, mais de uma hora em excelsa companhia.

Hora de rumar à Altice Arena e participar na coroação de Slow J, o homem que começou no palco mais pequeno, pulou no ano passado para o palco secundário, e fez para merecer a presença no palco maior do evento, o palco Super Bock. O músico sadino apresentou-se este ano com banda, guitarrista/teclista e baterista (viva o Fred!), ocupando-se ele mesmo da guitarra aqui e ali, além duma miríade de convidados como Richie Campbell, Nerve ou o aniversariante Carlão, além de Plutónio e Papillon em «Nunca Pares». E é logo por aqui que Slow J merece esta escalada anual, fazendo por trazer algo diferente, não ficando imóvel a gozar da maior popularidade que foi coleccionando nos últimos anos, não se deixando deslumbrar pela multidão que entoou as suas músicas da primeira à última palavra em 2016. Deslumbrou-se sim, e justamente, sempre que as luzes se acendiam e lhe permitiam ver a multidão que se tinha deslocado ao pavilhão para escutá-lo. Respirava fundo a cada momento desses. O céu será agora o limite.

Fugindo à estética musical do dia, fomos visitar Luís Severo ao palco LG, curado pela SBSR.fm. E é sempre um prazer escutar as baladas do homem que reside na Penha França (sabemos porque é algo que não dá para parecer), desta feita em formato banda, coadunando-se mais com um ambiente festivaleiro do que o seu pianinho, que tanto tem tocado nos últimos meses. De poucas falas, além dos usuais agradecimentos, Luís Severo optou por rentabilizar o tempo de antena sempre escasso nestes eventos.

Depois duma corridinha para jantar e para repôr as energias, seguimos para o palco Super Bock onde brilharia Anderson .Paak, um dos nomes mais interessantes e sonantes da cena hip-hop actual. Acompanhado pelos Free Nationals (Jose Rios, Ron Tnava Avant, Kelsey Gonzales, e Callum Connor), que transmitem toda outra dimensão à sua música, muito diferente do registo em formato MC/DJ, o músico californiano foi um verdadeiro entertainer neste seu regresso à Altice Arena, onde abriu para Bruno Mars em 2017. Anderson .Paak faz uso de todos os truques na sua manga, incluindo o seu número como baterista, que vale sempre como um dos mais interessante, na nossa óptica pelo menos, dadas as pinceladas mais jazzísticas que incute nesse segmento do espectáculo. A boa onda que transmite com a sua boa disposição ajuda certamente a que muitos abram os seus horizontes e recebam a sua música com ouvidos curiosos, que parece sempre um passe à frente do pelotão.

Voltámos às raízes para assistir a mais um projecto nacional, com a maquinaria dos bracarenses Ermo a tomar de assalto o palco LG. O duo formado pelos enigmáticos António da Costa e Bernardo Barbosa apresentou uma toada mais assertiva e portentosa que no festival MIL, onde actuaram em recinto fechado (Rive Rouge, no caso). Se a toada se demarcou ligeiramente, o arranque do concerto foi idêntico com os irresistíveis «Vem Nadar ao Mar que Enterrra» e «Ctrl+C Ctrl+V». Certos momentos há em que nos parece que Manuel Cruz tirou um curso de informática e desatou a compôr som digital, como sucede em «Futuro Frito», outro tema do aplaudido “Lo-Fi Moda”, e pelo qual continua a haver muito amor em PT.

Fotografia por José Eduardo Real



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