Super Bock Super Rock|Dia 3 (21.07.2018)
Não foi o final desejado para um festival que não teve claramente a sua edição mais memorável, pese embora se contem vários concertos, espalhados por todos os palcos, que nos encheram as medidas ao longo dos três dias.
No último dia, ao contrário do que é normal, os concertos começaram ligeiramente mais tarde. O palco EDP arrancou às 17h30 com um festival de canções de Isaura, que se apresentou em boa forma. O seu electro-pop bem feitinho deu ainda mais cor à tarde, mesmo na sombra da pala do Pavilhão de Portugal. O concerto serviu essencialmente para apresentar o fresquíssimo disco de estreia “Human”, que chega após o ter-se dado ao conhecer pela mão do EP “Serendipity”. Dado que não é todos os dias que se participa num evento desta medida, Isaura trouxe dois momentos diferentes: primeiro chamou o convidado especial Diogo Piçarra, com quem disputou o Festival da Canção (entre muitos outros dignos concorrentes), tendo interpretado uma tríade de temas a duas vozes, entre os quais «Meu É Teu»; pouco antes da recta final do concerto, Isaura apresentou um segmento praticamente acústico (à excepção da guitarra), durante o qual se desprendeu da bússola electrónica, que não bastas vezes nos permite ver The XX no horizonte.
Baxter Dury era o senhor que se seguia, no mesmo palco secundário, também ele com álbum recente na bagagem. Todavia, e como habitualmente, abriu as hostilidades com «Isabel», tema repescado do seu trabalho de 2011, “Happy Soup”, e que fala dum suposto one night stand ocorrido precisamente em território português. A certo ponto da actuação, em mais um dos seus comentários sempre sarcásticos, disse que adoraria ser português. Mas o cerne do concerto seria mesmo “Prince of Tears”, o seu quinto disco, do qual apresentou mais de metade no SBSR, e que cobre um bom naipe de particularidades. Desde um «Letter Bomb» que soa quase a Sleaford Mods, ao estilo bem duryano de «Listen», passando pelo spoken word corrosivo a que também já nos habituou em «Oi», e desaguando na beleza do tema-título, onde brilham as teclistas Madelaine Hart e Leslie Bourdin nas vozes (como sucede em muitos outros refrões). Além da musicalidade e das palavras, as danças de Baxter valem sempre como um espectáculo dentro do espectáculo principal.
Outro britânico prendia já as atenções no Palco Super Bock. Stormzy quase parecia ter perdido o comboio do dia anterior, durante o qual reinou o hip-hop, mas mercê duma actuação bastante sólida conseguiu reter um público respeitável na Altice Arena. A música oriunda das ruas agarrou e abanou a plateia.
Enquanto Sevdaliza dominava a área do palco EDP, num registo mais festivo que o normal para os seus parâmetros, e que não nos atrai propriamente, breve passagem pelo palco LG onde os Keep Razors Sharp aproveitavam para debitar algumas das músicas novas que farão parte do registo de estúdio a editar em Outubro, entre as quais o avançado «Always And Forever». Bráulio, Afonso, Rai e BB promoveram mais uma vez o seu rock musculado, não deixando de revisitar temas pertencentes já ao cancioneiro geral como «The Lioness».
Subia então ao palco Super Bock o reverenciado Benjamin Clementine, cuja explosão aconteceu precisamente no recinto do SBSR em 2015. Desde aí a relação com o público português tem sido meteórica. Passou dum palco secundário a esgotar o Campo Pequeno, mesmo marcando recorrentemente presença nas salas nacionais. E, pela amostra do passado Sábado, o sentimento não mostra sinais de afrouxar. E sim, o concerto foi muito mais do que o dueto com Ana Moura, que foi o único momento salientado por muitos meios de comunicação. Benjamin Clementine muniu-se, desta feita, de um sintetizador (além do omnipresente piano) que atribui mais força e mais enquadramento às músicas mais recentes, dado que apenas recorreu ao referido instrumento em músicas pertencentes a “I Tell A Fly”. Obviamente que o furor foi maior durante temas como “Nemesis” ou “Condolence” (que mais uma vez se tornou num momento maior), terminado em apoteose com a descida à plateia do músico londrino para uma longa desgarrada com o público no derradeiro “Adiós”. A decisão de fazer música foi dele, mas a visão para adorá-lo desde o início foi nossa.
Nova visita ao palco LG para assistir à prestação dos míticos Pop Dell’Arte, uma excepção num palco dedicado a novos valores. A banda de João Peste e Zé Pedro Moura mostrou-se em grande forma, numa performance extremamente séria e sólida, onde não faltou a presença da «Funny Ana Lana», e que teve direito a encore, algo normalmente só ao alcance dos cabeças de cartaz.
O palco principal do SBSR aprestava-se para ser encerrado com a actuação dos Voidz, esperando-se um concerto que recompensasse um público que, em termos de números, ficou muito aquém doutros dias e doutras edições. Mas o tiro saiu completamente ao lado. Era previsível que não fosse uma missão fácil traduzir a sonoridade do projecto de Julian Casablancas para a sala da Altice Arena, mas estávamos longe de adivinhar que o resultado fosse tão paupérrimo. Entre técnicos que esbracejavam no perímetro da mesa de som central, o som da banda não passava duma novelo de som formado por nós cegos. Na falta de capacidade para encontrar uma solução para o problema que estava perante os seus olhos, a saída mais fácil foi subir o volume para níveis completamente insuportáveis para o ouvido humano. Ao fim de poucos segundos do terceiro tema vimo-nos forçados a abandonar o Palco Super Bock sob pena de contrair graves lesões auditivas. E não estamos a falar em termos figurativos, era mesmo impossível permanecer no interior do pavilhão.
Não foi o final desejado para um festival que não teve claramente a sua edição mais memorável, pese embora se contem vários concertos, espalhados por todos os palcos, que nos encheram as medidas ao longo dos três dias.
Texto por Álvaro Graça e fotografia por José Eduardo Real.
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