Sweet home Europa © Filipe Ferreira (20)

SWEET HOME EUROPA | Teatro Nacional D. Maria II

Uma Europa not so sweet.

Será a Europa é um bom sítio para se viver? Qual será a ideia dos não-europeus sobre o modo de vida no velho continente? Provavelmente que não há conflitos, que se ganha razoavelmente bem, que as pessoas são hospitaleiras e simpáticas. Mas em Sweet Home Europa esta ideia não passa de uma utopia. Utopia cujas dicotomias são tão reais como em qualquer outra parte do mundo. O texto, da autoria do italiano Davide Carnevali, é essencialmente sobre o problema da integração.

Três atores interpretam personagens de diferentes gerações com histórias que se cruzam e se repetem na representação de uma Europa que parece ainda estar a em construção e principalmente, que está ainda a dar-se a conhecer ao mundo. João Pedro Mamede, para além de encenador, interpreta o Homem que vive desde sempre na sua comunidade e com determinado status, que usa para oprimir o Outro homem – o estrangeiro. Este Outro homem, interpretado por João Vicente, é aquele que terá de se adaptar ao país de acolhimento, que terá de perceber as mulheres por exemplo. A terceira personagem é, pois, uma Mulher (Isabel Costa) que ao mesmo tempo que procura o seu lugar na cultura ocidental, critica a oriental. Forma-se assim um triângulo amoroso, sem conflitos melodramáticos mas antes, intelectuais e com um ritmo de discurso que, por vezes, se assemelha ao de um jogo de ténis.

As dicotomias são várias, a começar pelo cenário que se contrapõe ao título. A utilização de pregos, para além de criar um interessante efeito de ótica em planos inclinados, confere um ar austero à questão da hospitalidade, como se a parte coberta de pregos representasse o que acolhe e a parte livre de pregos, representasse o espaço que o acolhido deve ocupar numa sociedade alheia à sua. Contrapondo-se deste modo, ao “Sweet home” do título e revelando assim, a sua ironia. Depois o texto dá conta de uma dicotomia entre pescadores e agricultores que remetem para as diferenças entre litoral e interior, fazendo com que a representação de uma unificação europeia inexistente, possa ter Portugal como exemplo.

A espetacularidade do cenário, a elegância dos figurinos e a sonoplastia (que podia ser somente o piano), deixam o texto pouco claro e esmorecem, em parte, o trabalho de interpretação que acaba por se prender mais à dramaturgia criada e às imagens auxiliadas pela cenografia e pelo som. A dinâmica do texto e o peso do vocabulário também ajudam na distração do entendimento, daquilo a que aqui se assiste. “Apotropaico” é a palavra que se repete e que causa mais estranheza, ao mesmo tempo que nos acende uma luz para a questão cultural que é aqui discutida.

Este é um espetáculo que, com apenas com três atores, representa a forma como a fragilidade das relações humanas se podem transformar num obstáculo político entre países. Para ver de 8 a 27 de Março no Teatro Nacional D. Maria II.

Sweet home Europa © Filipe Ferreira (3)

Texto: Davide Carnevali

Encenação: João Pedro Mamede
Tradução: Tereza Bento

com João Vicente, Isabel Costa, João Pedro Mamede
Música: Daniel Bernardes
Cenografia: Ângela Rocha

Figurinos: Gonçalo Quirino

Desenho de luz: João Cachulo
Sonoplastia e desenho de som: André Pires

Assistência de encenação: Catarina Rôlo Salgueiro

Produção TNDM II

M/14

Duração: 1h40 (aprox.)

 



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