Talbot | Entrevista

Talbot | Entrevista

A nova aventura de Paulo Romão Brás e Miguel Ferreira em discurso directo

Depois de outras aventuras musicais em conjunto, entre as quais sobressai o experimentalismo electrónico dos Low Pressure System, Paulo Romão Brás e Miguel Ferreira decidiram ultimamente embarcar numa nova aventura, concebida de origem para ser um veículo manifestamente pop; e daí nasceu Talbot.

Indagámos primeiro acerca do nome da banda. Paulo Romão Brás explicou:

“Tendo em conta o conceito pop que tínhamos acordado para este projecto, procurámos algo que personalizasse a ideia de orelhudo. Daí até à raça de cães Talbot, reconhecida pelas longilíneas orelhas, foi um brainstorming algo sinuoso, mas apreciámos o som da palavra”.

Mas nem sempre que o Homem sonha a obra nasce exactamente como foi pensada.

“A ideia inicial era fazer um som completamente pop, com letras em Português. Algo mesmo radio-friendly, mais fácil de escutar que os nossos trabalhos anteriores.”, informa Paulo Romão Brás.

No entanto, com o avançar do processo de composição, Talbot “acabou por resultar num cruzamento entre o nosso som anterior (Low Pressure System) e a ideia pop que tínhamos talhado originalmente para este projecto”, confessa Miguel Ferreira.

E esse facto é realmente comprovado ao longo deste disco de estreia, onde, por detrás do cuidado pop que acabou por resistir, encontramos omnipresente as experimentações obtusas que eram a marca registada do projecto anterior da dupla.

Miguel Ferreira comenta que “essa influência vinda dos tempos de Low Pressure System acaba por ser normal, visto que acabámos por usar algumas ideias sonoras anteriores que já tínhamos arquivadas na gaveta”.

Tendo em conta que não faz sentido sentirem-se manietados pelas suas próprias ideias, a dupla abraçou estas impurezas naturais que se foram intrometendo no conceito original, até porque foram gostando do resultado final.

Paulo Romão Brás e Miguel Ferreira concordaram quando comentámos que o disco de Talbot ganha força e homogeneidade a cada nova audição. Se à primeira audição parece algo complexo entender o que une as diferentes faixas, depois de mais algum tempo de convivência com o álbum tudo começa a fazer mais sentido.

“O nosso foco foi a música portuguesa dos anos 80, em especial aquela que misturava já algum pendor electrónico com sons mais tradicionais”, indicou Paulo Romão Brás. Durante a conversa foi igualmente unânime que o expoente máximo dessa ideia é o tema «Tyto Alba», que conta com a participação especial da guitarra portuguesa de M-Pex.

Pegando justamente na participação especial que ocorre na referida canção, é imperioso abordar a temática dos convidados, até porque trabalharam praticamente em todos os aspectos do disco, desde as vozes (Cláudia Efe, Lydie Barbara, por exemplo), ao grafismo (Cristina Couceiro), passando pelas letras (João Eduardo Ferreira, Charles Baudelaire, por exemplo) e vídeos (João Seiça). Gozando de liberdade criativa, dado serem todos relativamente conhecidos da banda.

A dupla afirma, no entanto, que nenhuma música foi pré-concebida a régua e esquadro a pensar em convidados específicos. Simplesmente tinham alguns já em mente.

“A Cláudia Efe era alguém com quem queríamos trabalhar já há uns tempos, por exemplo, mas a única ideia que tínhamos era entregar-lhe um dos temas mais pop, devido às características da sua voz”, adiantou Paulo Romão Brás.

“Outros temas ficaram para vozes convidadas porque não soavam bem cantadas por nós“, comenta Miguel Ferreira, que tinha trabalhado com Ana de Barros, outra das vozes convidadas, noutra banda.

De realçar que os Talbot contaram igualmente com a ajuda do amigo Armando Teixeira na masterização do som, que facilitou no limar de algumas arestas, especialmente em momentos durante os quais ambos os elementos estavam demasiado enleados nas diversas camadas sonoras que compõem as suas canções para tomar decisões assertivas.

Instados acerca da influência que os seus afazeres fora do estúdio teriam na música que produzem, Paulo e Miguel diferiram nas respostas. Miguel referiu que “sendo técnico de áudio é óbvio que a minha música será influenciada pela minha vida profissional”. Por sua vez, Paulo indicou que “é mais normal ser a música a influenciar as suas artes plásticas do que o inverso. Várias vezes uma canção leva-me a criar outra forma de arte”.

Relativamente aos tempos que correm, dominados pela corriqueira internet, quisemos saber quais seriam os possíveis prós e contras para a nova banda trazidos por essa poderosa ferramenta.

“Como não somos propriamente conhecidos, poderá ser positivo para difundir o nosso trabalho; por outro lado, no meio de tanta oferta, se não sobressairmos, as pessoas poderão esquecer-nos de imediato”, observou Miguel Ferreira.

Partindo deste mesmo ponto, Paulo Romão Brás adiu: “Tentámos com este propósito sonoro atingir um nicho de público, visto acharmos que não há muita oferta de pop misturada com sons tradicionais portugueses, como fizeram ou fazem bandas como Megafone ou Diabo na Cruz. Embora não tenha sido o principal mote para este trabalho, acabou por ser um dos desígnios envolvidos”.

Confessando que o som não foi minimamente concebido para tocar ao vivo, a dupla admite ensaiar para aquilatar se será possível efectuar uma outra apresentação do disco ao vivo. Porém, não pretendem perder demasiado tempo nessa tentativa, visto terem já outras ideias em mente que pretendem materializar, eventualmente sob outra designação que não Talbot.

Até lá, podem escutar, e eventualmente adquirir o disco, através do Bandcamp do projecto, e apreciar o vídeo do primeiro tema destacado do álbum, «Voo Circular», obra de João Seiça, e que esteve inclusivamente em concurso no International Music Video Festival.



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