Teatro Rápido | Julho 2013
Um mês de malas aviadas e de boas viagens
O Teatro Rápido (TR) abre as portas a quatro projectos que, durante o mês de Julho, se mudaram de malas a bagagens para a Rua Serpa Pinto, 14. O tema deste mês é precisamente «de malas aviadas». Temos a oportunidade de rever alguns rostos que já passaram pelos «palcos» do TR (Rodrigo Saraiva; Anaísa Raquel; João Ascenso; Vicente Alves do Ó; Ricardo Barbosa e Márcia Cardoso ) e de conhecer caras novas (Sandra José; Ricardo Lérias; Pedro Simões e Bruno Rosa).
SALA 1 – C10H14N2 + info
Depois de uma passagem pelo TR em Abril deste ano, Rodrigo Saraiva regressa com o seu primeiro monólogo. O texto e a encenação encontram-se a cargo de Sandra José, que conhecemos do trabalho Não chove de baixo para cima. O cartaz é da autoria do Luís Covas.
Rodrigo veste o papel de um homem, vítima de cancro e de um grande desgosto de amor. E grande é, também, a sua interpretação, que nos toca e emociona. O olhar, os gestos, a «dança» com a luz e a ausência dela: Rodrigo encontra na cenografia o apoio para dar vida a um homem moribundo. É com certeza que afirmamos que esta peça lhe permitirá crescer (ainda) mais como actor.
A peça carimba-nos com a afirmação de que o amor mata. Entrar na sala 1 é o mesmo que comprar um maço de tabaco e ter acesso a uma série de avisos sobre o consumo do tabaco, numa metáfora transposta para o amor. E para a vida, no nosso entendimento.
“Fumar pode matar”. “Provoca morte lenta e dolorosa”. “Provoca envelhecimento prematuro.”
Amar pode matar. [Amar] provoca morte lenta e dolorosa. [Amar] provoca envelhecimento prematuro
Viver pode matar. [Viver] provoca morte lenta e dolorosa. [Viver] provoca envelhecimento prematuro.
O homem que encontramos na sala 1 tem no lado esquerdo do peito um cancro, porque o coração, esse, foi partido pela mulher que amou.
Fumar causa elevada dependência, não comece a fumar. Substitua o verbo fumar por viver. Ou amar.
Horário das sessões: 18h00 | 18h30 | 19h00 | 19h30 | 20h00
quinta a segunda | M/12 | 3€
SALA 2 – Não Há Culpa + info
Anaísa Raquel regressa ao TR num registo de humor que contrasta (e muito) com o Seis quase meia partilhado há um ano atrás com o actor Pedro Cunha. Desta vez, faz-se acompanhar por Ricardo Lérias, e ambos interpretam o texto de João Ascenso (responsável, também, pela encenação).
Entramos na sala de deus (sim, parece que afinal tudo acontece numa sala de estar) onde este e nossa senhora (aka mãe de Jesus) debatem a questão do… fim do mundo? Ao que parece, os humanos estão todos de malas aviadas para qualquer lado (caminhos que levam a lado nenhum, será?) e esse é o mote da conversa entre o todo poderoso e a mãe solteira mais (re)conhecida da cultura cristã.
Nesta peça a trindade é composta por deus, maria e o comando da televisão: a vida acontece no écran e deus é o único com poder para mudar de canal. Os humanos são os actores de um big brother onde todos acabam por ser expulsos. Sim, o mundo vai acabar.
Anaísa e Ricardo proporcionam-nos quinze minutos de boa disposição e revelam, ambos, uma interpretação deliciosa.
Horário das sessões: 18h05 | 18h35 | 19h05 | 19h35 | 20h05
quinta a segunda | M/12 | 3€
SALA 3 – Era Outra Vez… (um conto infantil para graúdos) + info
Era uma vez um texto que o Pedro Simões escreveu. Era outra vez esse mesmo texto transformado numa micropeça para teatro. Na companhia de Bruno Rosa, Pedro convoca os espectadores a questionar se devemos ou não acreditar. Há espaço para o sonho? Se não há, este desapareceu? Fomos nós que o matámos?
Era outra vez apresenta-nos uma viagem também ela visual, pois os pormenores presentes no cenário constituem-se eles próprios como um pretexto para visitar estórias da infância.
O texto de Pedro Simões funciona como uma espécie de post it para nos lembrar de que o sonho comanda a vida, como um dia alguém cantou. E que a vida sem sonho não nos garante uma viagem ou destino paradisíacos. Um dia, vamos sufocar na realidade e perceber que nunca deveríamos ter fechado a janela da inspiração.
Consideramos que a interpretação tem algum caminho pela frente, em termos de amadurecimento e conquista das personagens. Pedro e Bruno estão no bom caminho e sabemos que esta «viagem» pelo TR será uma janela que não mais se irá fechar.
Horário das sessões: 18h15 | 18h45 | 19h15 | 19h45 | 20h15
quinta a segunda | M/12 | 3€
SALA 4 – As Inbejosas + info
Vicente Alves do Ó, Márcia Cardoso e Ricardo Barbosa regressam ao TR, na companhia de Nuno Miranda, responsável pela cenografia. Entramos na sala e o espaço de cena, devidamente assinalado, está vazio de actores. Estes estão presentes, na maior parte do tempo de duração da peça, apenas via audio, num cenário que anuncia malas aviadas e uma viagem eminente.
A peça trata da arte, dos actores, do público, da inveja, do sucesso que se transpira e daquele que se subsidia. Dois actores, J (Márcia) e JJ (Ricardo) assumem posições diferentes sobre aquilo que é a a arte, a criação e as condições que se criam e que existem para que aquelas se possam manifestar. Mais tarde, esses actores dão lugar a dois espectadores que discutem as posições dos actores perante a arte.
As inbejosas apresenta-se como uma reflexão entre quem faz teatro e o seu público. A dada altura diz-se que o teatro só existe quando acontece com actores em palco e pessoas dispostas a conhecer o trabalho daqueles. Vicente, Márcia e Ricardo proporcionam-nos, acima de tudo, um momento provocatório com o qual já nos tinham brindado em Novembro de 2012 , mas que é, agora, aprofundado e focado no que ao teatro diz respeito.
Horário das sessões: 18h20 | 18h50 | 19h20 | 19h50 | 20h25
quinta a segunda | M/12 | 3€
*
Na visita que fizemos ao TR tivemos a oportunidade de conhecer, ainda, o décimo primeiro mandamento , que nos foi revelado por deus e nossa senhora: «É obrigatória a peregrinação do público, em Julho, ao TR.» Este é o local sagrado de criação e de partilhar para estes quatro projectos que nos permitem viajar para destinos bem diferentes.
Recordamos que em Julho e Agosto o TR interrompe a Programação para a Infância, regressando em Setembro.
Para ter acesso a toda a programação do TR sugerimos que acompanhe a página do facebook e/ou o blog
Fotografia de Mário Pires
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