Temps d’Images 2005

A imagem abraça os palcos durante o mês de Outubro.

Criado em 2002 pela ARTE e La Ferme du Buisson, Scène Nationale de Marne-la-Vallée, o festival TEMPS D’IMAGES tornou-se uma verdadeira rede europeia para a circulação de obras e de artistas.

Esta rede tem por objectivo co-produzir e facilitar o encontro de artistas e a divulgação das suas obras, bem como partilhar experiências e desenvolver solidariedades, sem nunca perder de vista a proposta fundadora do Festival, ou seja, criar pontes inesperadas entre as artes cénicas e as artes da imagem.

Embora com um corte orçamental significativo, 2005 é o ano de consolidação do festival. A terceira edição conta com um leque muito respeitável de convidados e uma programação muito vasta e abrangente que promete animar a cidade de Lisboa durante os próximos tempos.

Para além da exposição de William Kentridge (ver artigo relacionado), destaca-se a aposta nos nomes portugueses e nos novos espectáculos dos coreógrafos Francisco Camacho e Rui Horta, bem como o regresso de Meg Stuart e da Damaged Goods com Sand Table, um work in progress iniciado em 2001 e apresentado em Maio deste ano, na Fundação de Serralves, no Porto.

De salientar também a apresentação de uma performance dos belgas Cie. Mossoux-Bonté, espectáculo situado nas fronteiras da dança e do teatro, e da primeira obra a solo concebida pela espanhola Maria Jerez.

Com carimbo nacional, apresentam-se ainda os espectáculos Senso, de Carlos Pimenta, Luciana Fina e Mónica Calle, Respirações de Inês, de Maria Emília Correia, no âmbito das comemorações dos 650 anos da morte de Inês de Castro, e MetaMorphis, um live act concebido por Alberto Lopes e inspirado em Franz Kafka.

Das terras frias da Noruega chegam as vibrações quentes do novo jazz, ao som do trompete de Nils Petter Molvaer, um concerto em interacção com as imagens manipuladas pelo VJ Jan Marten Vaagen. Para Nils Petter, o concerto de Lisboa é, dado o seu contexto, uma ocasião especial, e, por isso, será um desses momentos irrepetíveis, uma apresentação “fora de série” desta vez com toda a banda e uma “partitura de imagem”.

Pela sua natureza própria, o festival TEMPS D´IMAGES privilegia a aventura criativa, razão de ser dos chantiers/estaleiros, modalidade de espectáculo em que o resultado é fruto da colaboração entre artistas relacionados com áreas de criação distintas.

Este ano, o desafio foi proposto ao cineasta João Botelho que, na companhia da actriz Suzana Borges, construiu a sua primeira peça para palco, criação que considera “um divertimento” e a que chamou “Sonho de Verão”. Já o coreógrafo Filipe Viegas, cujo percurso está ligado à associação Bomba Suicida, apresenta na companhia de André Gonçalves, artista multifacetado, um trabalho de pesquisa que resulta num espectáculo de “retorno à coreografia”, no seguimento dos trabalhos anteriores de Filipe Viegas

Por fim, será ainda apresentado o Chantier/Estaleiro Nous les oeuvres d’Art, l’Anniversaire de Spinoza do espanhol residente em Bruxelas, Angel Vergara. Neste projecto, livremente inspirado no teatro de Robert Filliou, Angel Vergara apresenta uma miscelânea de canto, música e projecções vídeo feita a partir de textos de Spinoza. Obra de arte múltipla, verdadeira ópera/performance na qual o público tem um papel bastante activo.

Quanto às projecções, tal como nas edições anteriores, o festival apresenta uma selecção de filmes produzidos pelo canal franco-alemão ARTE, filmes esses que permitem testemunhar uma série de espectáculos em registo filmado ou criações originais de alguns dos mais relevantes artistas das artes de palco, nomeadamente da dança e do teatro contemporâneos. Nomes como Alain Platel, Lutz Gregor, Bill T. Jones e Rui Horta, entre outros, poderão ser vistos nesta edição do festival.

No que respeita ao ciclo “O Corpo é uma Projecção”, prossegue este ano, enquanto abertura de um espaço de contacto entre as práticas performativas actuais e os seus antecedentes históricos. O seu programa é composto por duas sessões dedicadas ao artista americano Robert Morris com uma mesa-redonda no final, uma outra sessão programada pelo filósofo e crítico de arte Jacinto Lageira, e um seminário de dois dias, centrado nas práticas curatoriais no âmbito da Performance Art, a ter lugar em Fevereiro, em datas a anunciar. Este será dirigido por RoseLee Goldberg, directora do centro “Performa”, em Nova Iorque, e autora de livros seminais para a história da Performance Art.

Finalmente, e em estreia mundial, destaque-se o filme “Margem Atlântica” da autoria de Ariel de Bigault. Esta obra conjuga diversas facetas do movimento artístico e cultural, moderno e mestiçado, que percorre Lisboa e conta com a participação da fadista Mariza, do escritor José Eduardo Agualusa, do autor e intérprete Kalaf e de outros nomes que reflectem os caminhos transfronteiriços da cultura lusófona.

O festival decorre entre os dias 6 e 16 de Outubro em Lisboa, havendo depois uma extensão para Faro, capital nacional da cultura entre 15 e 29.



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