“Tenho de Saber” de Karen Cleveland
Família ou Pátria
Que decisão tomar perante uma escolha impossível?
Este é o tema primordial, em torno do qual girará este livro da autora Karen Cleveland, onde uma analista, da área de contra-espionagem da CIA, se depara perante a decisão mais difícil da sua carreira, que vai afectar a realidade tal como a conhece, Tenho de Saber (Planeta, 2018), é uma narrativa repleta de intriga, traição e escolhas complicadas.
Karen Cleveland utiliza como base para a sua primeira obra, os anos de experiência passados como analista da CIA, para criar toda uma atmosfera crepitante, num ambiente de cortar à faca.
Num tom sóbrio, uma linguagem direta, repleta de detalhes e sem sombra de ironia, a não ser a do destino, apresenta-nos um leque de personagens complexas, realistas e credíveis, com as quais o leitor se pode identificar, envolvidas em situações arriscadas, drásticas e extremamente dramáticas, que levariam o mais comum dos mortais à loucura; ao mesmo tempo que envolve o leitor num mundo de intriga, desconfiança e traição, simultaneamente, demonstra a dura e cruel realidade de gerir os vários aspetos da vida de uma mulher independente: carreira vs família, amor vs pátria, proteção vs sacrifício.
Existem alguns momentos em que tudo é bastante óbvio para o leitor, o quem e como, e arte do jogo de espionagem tornam-se um pouco menos discretos e mais estrondosos. Momentos esses, em que o leitor poderá sentir-se um pouco frustrado com a nescidade da personagem, esquecendo que o choque e a ligação emocional da personagem não lhe permitem avaliar as coisas de forma imparcial, como é possível ao leitor por estar a observar tudo do lado de fora, um espectador imparcial, logo mais analítico e crítico do todo.
Tudo isto, conduz, passo a passo, a um final que não é nem de todo imprevisível, nem completamente previsível.
Um desfecho, perfeitamente coadunado com o desenvolvimento da história, e das situações e interligações ao longo da mesma.
Estou habituada a estas frases em suspenso, às conversas evasivas na minha linha aberta. Presumo sempre que há alguém à escuta.
Para Vivian, este era um dia como tantos outros, uma mulher de família que sai de casa para o trabalho, deixando o esposo encarregue da casa e dos miúdos.
Ou assim o pensava. Seria um dia como tantos mais, se o seu trabalho não implicasse investigações ultra secretas e níveis de alerta e segurança ao mais alto nível.
Vivian é mãe de quatro filhos, tem um marido que adora, e um trabalho de caráter extra sensível, porém nem o seu mais intensivo treino de espionagem a tinha preparado para o choque que iria sofrer, e a dura realidade com que se iria deparar, quando após muito tempo investido no projeto Athena, composto por arquivos relacionados com os agentes russos “adormecidos”, ela encontra um rosto de alguém que lhe é muito próximo.
Continuo a busca, os olhos a saltar de ficheiro em ficheiro (…) Faço duplo clique na terceira imagem e outro rosto surge no ecrã. Um close-up. Tão familiar, tão próximo e natural (…)
O choque da descoberta, ainda muito recente, fá-la crer que tudo não passa de um erro, um mero engano, e quem está na foto, não é quem parece ser.
Mas após o efeito do seu estado de negação começar a dissipar-se, Vivian começa a pensar das diferentes possibilidades, pode não ser um agente infiltrado, pode ainda não ter ser sido recrutado e estar na lista devido à sua ligação a ela…
Mas eis que a negação dá lugar à raiva, à deceção, à incredibilidade da ridiculez da situação. Como poderia uma analista ser tão cega? Não ter entendido os sinais, não entendido de que tudo não passava de um jogo entre o gato e o rato, e ela, era o alvo pretendido.
Levo a mão à boca e apercebo-me de que estou a tremer.
Para os russos, não foi uma questão de sorte. Tinham preparado tudo. Todos os movimentos foram intencionais, planeados. Não se tratou de um acaso.
Essa raiva que vai tomando posse de si, leva-a a confrontar diretamente a pessoa em questão, mas nada a tinha preparado para a resposta.
-Só há uma coisa que podes fazer (…) – Denuncia-me.
Esta reviravolta inesperada, vai lançar Vivian numa espiral repleta de dúvidas e decisões, quiçá equivocadas, conduzindo-a a lugares, e levando-a extremos, que nunca tinha pensado em ir.
Ver-se-á forçada a proteger os seus e atraiçoar o País e os colegas, em especial Omar e Peter, um o seu orientador e outro o seu chefe, ambos amigos de longa data?
Ou tomará a decisão de denunciar o agente russo e sofrer as consequências do seu ato?
Ergue a arma.
Vejo e oiço o que se segue. Gritos. Uma chuva de balas. (…)
E gritos, a princípio um som abafado, e depois mais alto, quando recupero a audição, e só então me apercebo de que são meus.
Tenho de Saber, de Karen Cleveland, é um thriller intenso, um jogo repleto de manipulação, jogos da mente amplamente disfarçados, psicologia inversa e chantagem emocional, que vai tornar o leitor num analista amador, levando-o a decifrar mistérios e enganos, até um desfecho adequado e satisfatório, amplo o bastante para que possibilite um seguimento da história, uma sequela a este livro.
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