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The Advocate For Fagdom

A transgressão de Bruce LaBruce.

Às 22 horas estava a entrar na Sala Manoel de Oliveira no São Jorge para assistir ao documentário “The Advocate for Fagdom”. Momentos antes descubro que este será precedido por um videoclip realizado por Bruce LaBruce. Uma escolha nada inocente pois é sobre ele que o documentário se debruça. Faz todo o sentido portanto. O artista é Gio Black Peter e a canção, «Revolving Door (New Fuck New York)». Não estava mesmo nada a contar ver um vídeo musical pornográfico às 22h, principalmente um em que um homem a personificar um porco efectua sexo oral em outro que personifica o Papa Bento XVI. Não estava a contar porque não conhecia Bruce LaBruce, não fazia a mais pálida ideia de quem era este senhor. Se o videoclip tivesse passado depois do documentário podia ter sentido muita coisa, mas surpresa já não seria certamente.

Bruce LaBruce será para a maioria de nós, para mim era de certeza, um completo estranho, um total desconhecido. No entanto trata-se de um dos artistas mais transgressores do movimento Queer e apelidado por muitos como o líder do movimento Queercore.

Certos realizadores que se debruçam por temáticas Queer como Gus Van Sant, que participa neste documentário, atingiram hoje em dia um reconhecimento enorme e dispensam qualquer tipo de apresentações. LaBruce, que começou a sua carreira cinematográfica mais ou menos na mesma altura, jamais em tempo algum conquistará o mesmo tipo de consideração e mediatismo. Dois realizadores conterrâneos e amigos, dois caminhos totalmente distintos.

É certo que Van Sant tem uma carreira que se pode dividir em duas ramificações. De um lado um cinema mais experimentalista e do outro mais mainstream. Filmes como o “Bom Rebelde” foram sem dúvida alguma cruciais no seu reconhecimento, mas é em filmes como “A Caminho de Idaho” que é mais amado pela crítica. Van Sant consegue assim ter o melhor de dois mundos.

LaBruce por seu lado sempre se manteve um realizador infractor e insubordinado. Para além das suas mensagens políticas e da violência nos seus filmes, o maior entrave numa maior projecção da sua carreira é, sem dúvida alguma, a constante utilização de sexo explícito. Por mais qualidade que tenham os seus filmes, por mais geniais que pudessem ser, a quantidade de sexo presente nos mesmos nunca os deixaria passar essa “barreira invisível” que existe no Cinema de Hollywood (e não só).

Ao se manter fiel a si próprio durante toda a carreira continua a ser obrigado a filmar com baixíssimos orçamentos porém é essa mesma veia transgressora que também não o deixa passar despercebido. Para os mais entendidos no universo Queer, LaBruce é considerado um marco, um ícone.

The “Advocate for Fagdom” é a oportunidade perfeita para conhecer os seus trabalhos, bem como o homem por detrás deles. Com convidados muito especiais como o já referenciado Gus Van Sant, Rick Castro, Bruce Benderson e o mítico John Waters, que numa temática diferente é também um dos realizadores mais transgressores da História do Cinema, “The Advocate for Fagdom” foi possivelmente um dos documentários mais interessantes que passaram no Queer Lisboa deste ano, cuja presença fazia todo o sentido num ano em que o tema de foco era, precisamente, a transgressão.



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