“The Call”, de Peadar O’Guilin
O inferno em três minutos
Há cerca de um quarto de século, a Irlanda foi assaltada por um turbilhão que deixou o país isolado do mundo. Aviões caíram do céu, os navios, quais fantasmas abandonados, encalharam nas águas revoltas. Os Sídhe, povo mitológico, jurou vingança sobre uma nação que os expulsou dos seus lares há milhares de anos e quer ver o inimigo sofrer. Assim, declaram que todos os adolescentes, entre os 11 e os 16 anos, serão chamados à arena da Terra Cinzenta onde a sua sobrevivência está à distância da fuga, luta e coragem. O relógio começa a contar e tudo se passa em 24 horas no universo Sídhe, que correspondem a três minutos e quatro segundos no nosso mundo. Muitos são os Chamados, poucos os que sobrevivem.
Estão assim lançadas as regras de The Call (Topseller, 2017), do irlandês Peadar O’Guilin, um livro que funciona com um soco no estômago e cuja narrativa, rápida e apelativa, deixa o leitor irremediavelmente rendido à sua voracidade. O’Guilin inspira-se na mitologia irlandesa e transmite os seus valores e desafios para a personagem de Nessa, uma destemida jovem presa ao destino da Chamada mas que acredita conseguir vencer qualquer prova e que centra a sua valentia no poder da amizade.
As comparações entre a obra de Peadar O’Guilin e aventuras como Os Jogos da Fome, de Suzanne Collins, ou Maze Runner – Correr ou Morrer, de James Dashner, são, digamos, inevitáveis, mas o conceito e ambientes de The Call está bem mais perto de Battle Royale, do japonês Koushun Takami ainda que a temática seja una a qualquer um destes títulos: o lado sombrio do medo e a linha ténue que separa a vida da morte.
Recomendado a amantes de aventuras que misturam ação, suspense e terror, The Call é um excelente exercício de catarse. O’Guilin imprime um assinalável ritmo, à boleia de uma grande coerência narrativa, especialmente na figura da já referida Nessa, jovem impulsiva com um perfil psicológico bem trabalhado e que encaixa no espírito mitológico em que se encerra toda a trama e que pode muito bem amenizar as almas que suspiram pela “ausência” de Katniss Everdeen.
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