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The Hidden Cameras + Owen Pallett @ Culturgest (30.03.2023)

Foi uma digressão de reedições, envolvendo amigos de longa data, que o auditório da Culturgest acolheu na semana passada. Personalizando The Hidden Cameras, Joel Gibb prometia assinalar os vinte anos de existência do disco debutante “The Smell of Our Own”, ao passo que Owen Pallett se dedicaria a revisitar o seu catálogo mais profundo, num movimento embalado pelas novas edições dos seus primeiros álbuns e EPs. Como indicou o ex-Arcade Fire, em entrevista pré-concerto, esta reunião fez ainda mais sentido dado que os fãs de um e outro projecto serão bastante coincidentes, e assim deparam-se com um espectáculo cardápio bem apetecível.

O palco estava orientado em formato bem minimalista, com as guitarras de ambos os protagonistas, às quais Joel Gibb acrescentava um bombo de bateria, enquanto que na barricada de Owen reluzia o famigerado violino. O cabecilha de The Hidden Cameras é o primeiro a ser visto em palco, demonstrando quase de imediato a sua natureza de entertainer, completamente à vontade no palco, mesmo quando algum ligeiro detalhe falha na logística da actuação em regime one man band. Vestido de branco dos pés à cabeça, Joel Gibb quase parecia querer contrastar com as imensas cores que as canções do seu projecto emana incessantemente. Melodias viciantes, mesmo quando interpretadas num formato a solo, embora existissem algumas com o natural apoio de partes pré-gravadas, não esquecendo o brilhante momento de tubo harmónico.

Sensivelmente a meio do seu tempo de antena, Joel Gibb reclama a companhia de Owen Pallett, que vai introduzindo elementos vocais e de cordas, recordando o período em que foi parte integrante do colectivo de The Hidden Cameras. A sinergia é natural e bastante clara, como não poderia deixar de ser dada a intimidade duma amizade que ultrapassa as duas décadas de existência. A dupla incita a plateia a acompanhar vocalmente algumas das canções (como sucedeu em «Breathe On It», por exemplo), e inclusivamente a dançar, embora o local do concerto não puxe propriamente a essa modalidade. Joel vai ganhando pontos com as suas tiradas em português, repletas de teor gastronómico, não tendo Owen Pallett ficado atrás com a referência ao arsenal de queijo dos Açores que açambarcou na passagem da digressão pelo Festival Tremor.

Para a segunda metade do espectáculo, Owen Pallett nem saiu de palco, escusando-se a esse protocolo numa noite que tinha um evidente cunho íntimo. Simplesmente tomou um par de minutos para retocar pormenores logísticos e de afinação, e arrancou para uma dúzia de canções absolutamente imaculadas. Munido de violino e guitarra eléctrica, Owen recorre aos habituais pedais para não só acrescentar diferentes camadas às músicas, como também para as enriquecer, distorcendo e manuseando os sons que vai gravando ao vivo, dando azo a finais bastante poderosos e intensos.

“Has a Good Home”, “Heartland” e “Island” foram as principais fontes do alinhamento apresentado, embora revisitasse todos os discos que reeditou recentemente. Ao invés do que declaram diversos artistas, Owen Pallet não tem qualquer pejo em revisitar águas passadas, confessando que pensa muita vez que não conseguirá criar algo superior a “Heartland”. Merecem um destaque especial as interpretações de «I’m Not Afraid» e de «Lewis Takes Off His Shirt», com que rematou a sua presença a solo. Sendo que a noite terminaria com o regresso de Joel Gibb ao palco, para entoarem em conjunto um tocante «We Oh We».

Alinhamento Owen Pallett:
– Polar Vortex
– This Lamb Sells Condos
– The CN Tower Belongs to the Dead
– The Butcher
– I Am Not Afraid
– That’s When the Audience Died
– The Great Elsewhere
– Lewis Gets Fucked Into Space
– Fire-Mare
– E Is for Estranged
– This Is the Dream of Win & Regine
– Lewis Takes Off His Shirt
(encore)
– We Oh We (The Hidden Cameras)



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