The Last of Us

The Last of Us | Análise

Manual de sobrevivência num mundo pós-apocalíptico

Depois de “Crash Bandicoot”, “Jack and Daxter” e “Uncharted”, chega mais um título pelas mãos da Naughty Dog. “The Last Of Us” conta a história de sobrevivência de Joel e Ellie num mundo pós-apocalíptico. Com este título a Naughty Dog promete oferecer momentos emocionantes, cenários deslumbrantes, uma aventura inesquecível e a resposta à pergunta “O que estamos dispostos a fazer e o que estamos dispostos a sacrificar para garantir a segurança daqueles que queremos proteger?”  Será que a Naughty Dog deu um passo maior do que a sua perna com “The Last Of Us”, ou será que temos com este título um forte candidato a jogo do ano?

Para abordar a história preciso de ter o máximo cuidado para não deixar escapar nada que vos estrague esta fantástica experiência. Depois de uma intensa e absolutamente brilhante introdução ao jogo (da qual me recuso a falar porque não quero estragar rigorosamente nada) a acção do jogo salta para 20 anos depois do aparecimento de um surto provocado pela variante humana do fungo Cordycep que assolou e devastou os Estados Unidos. Assumimos o controlo de Joel, mas é complicado dizer que ele é o personagem principal desta história. Ainda assombrado pelo que aconteceu há 20 anos, ele segue em frente aceitando serviços de contrabando em troca de senhas de refeição, roupas, armas, tudo o que lhe permita ver o dia de amanhã. Sobrevivência é palavra que melhor define Joel. A dado momento Joel descobre que o que vai ter de contrabandear é uma rapariga, Ellie, e é aí que tudo realmente começa. Para onde e porquê, vão ter de jogar para descobrir.

Devo dizer que foi das melhores histórias que já tive o prazer de acompanhar num jogo e dá razão ao que se diz da indústria dos jogos de vídeo começar a superar a do cinema e de música. Intensa, pesada, emocionante e gratificante são algumas palavras que definem a “aventura” de Joel e Ellie e é fantástico ver e ouvir evoluir a relação entre estes dois personagens. Depois de tudo o que Joel já viu e teve de fazer para sobreviver é perfeitamente natural que ao início a sua personalidade de “durão” não seja muito compatível com a personalidade curiosa e rebelde de Ellie, que ao contrário de Joel já nasceu durante este período e pode apenas imaginar como seria o mundo que a rodeia antes do surto. No entanto, à medida que vamos avançando na história e depois de tudo o que vão enfrentando juntos, e das conversas que vamos ouvindo, vai sendo notória a progressão da relação entre estes dois personagens. Tudo dentro de uma incrível narrativa onde a sobrevivência fala mais alto e onde nada parece demasiado forçado.

A jogabilidade é de igual qualidade. Durante a história vamos deparar-nos com dois tipos de inimigos. Primeiro, temos os infectados, os Runners e os Clickers. Os Runners (corredores ou que correm) são semelhantes aos zombies normais sendo apenas preocupantes quando aparecem em grande número. Os Clickers, no entanto já são outra história. Os Clickers têm este nome devido ao som que produzem. Como são pessoas infectadas há mais tempo o fungo teve tempo de  desenvolver-lhes uma capacidade de Eco-localização semelhante à dos morcegos e como tal o silêncio é a chave para os derrotarmos ou passarmos por eles. Se eles nos encontrarem e agarrarem é Game Over. Existe ainda um outro tipo de infectado ao qual deram o nome Bloater, mas é tão “divertido” de enfrentar que não vos vou estragar a surpresa de o encontrarem. O segundo tipo de inimigo consiste naturalmente nos grupos de seres humanos que não são infectados mas que se revelam hostis ao encontrarem Joel e Ellie. Consistindo em grupos de caçadores e até mesmo canibais, estes têm o mesmo objectivo que nós, sobreviver, e para isso estão dispostos a tudo. Contra os infectados e grupos de caçadores humanos temos ao nosso dispor um arsenal bastante variado de armas e um novo estilo de jogabilidade chamado “dynamic stealth” (acção furtiva dinâmica). Este estilo oferece-nos um  vasto leque de estratégias e técnicas que podemos escolher em qualquer altura tendo sempre em conta os recursos que tivermos disponíveis. Isto permite-nos adaptar com maior facilidade às várias situações que forem surgindo e claro que para cada abordagem que escolhermos os nossos inimigos irão reagir de forma diferente. A Naughty Dog desenvolveu também um novo sistema de AI (Inteligência Artificial) chamado “Balance of Power” (Balanço de poder). Este sistema dá uma capacidade de reacção mais real aos nossos inimigos fazendo com que se escondam quando nos virem, que peçam ajuda caso precisem e até mesmo que tirem proveito dos momentos em que mais estamos vulneráveis (quando ficamos sem balas, quando estamos distraídos ou quando estamos a ser atacados por outros inimigos). Também para nos ajudar a enfrentar os vários perigos que vão surgindo temos também um sistema de Crafting. Este sistema permite-nos combinar os objectos que encontramos ao explorar os vários cenários do jogo e criar armas como bombas, Cocktails-Molotov e itens como Medi-Kits para nos curarmos. Cada situação é diferente e os objectos que criarmos têm um peso de escolha. “Será que uso os trapos e álcool para fazer um Medi-Kit ou um Cocktail-Molotov para atirar aos dois tipos que estão ali à frente?” Outra coisa que temos de ter em conta é que quando acedemos ao menu de Craft o jogo não para, por isso temos de ter a certeza de o fazer em segurança para que não nos apanhem desprevenidos.

Visualmente o jogo é deslumbrante. Os cenários são enormes, fantasticamente detalhados e cruelmente subjugados à natureza quase que implorando que os exploremos, independentemente do perigo que possamos encontrar. Percorrer os vários edifícios e casas e recolher o pouco que neles se encontra (os recursos são naturalmente escassos) transmite um verdadeiro significado à palavra sobrevivência e dá muitas vezes que pensar. É interessante ver que em todas as casas onde entramos as televisões e vários artigos que sem os quais hoje não sabemos como havíamos de sobreviver, tudo isso ficou foi deixado para trás e rapidamente perdeu importância. À medida que vamos explorando os vários cenários, além dos objectos que podemos utilizar no sistema de Craft, encontramos também notas e apontamentos deixados para trás por outros sobreviventes (ou não) que raramente encontramos e que nos mostram outras perspectivas de outros acontecimentos noutros locais. Na maior parte dos cenários e se os soubermos explorar temos acesso a várias conversas entre Joel e Ellie, onde Ellie muitas vezes questiona o passado de Joel e como era o mundo antes de tudo acontecer.

Toda esta história é também acompanhada por um incrível trabalho de som. O já galardoado compositor Gustavo Santaolalla fez um trabalho fantástico, bem como as pessoas que deram voz aos vários personagens que encontramos em The Last Of Us. A voz de Joel foi para mim a mais marcante, é sublime ver e ouvir a sua postura de “tipo rude” a tornar-se mais terna, quase que paternal, à medida que vai interagindo com a Ellie.

Além do modo história temos também um modo online chamado Factions. Aqui como o nome indica temos de escolher uma facção, Hunters (Caçadores) ou Fireflies. A história destes dois grupos é explicada no modo história. Neste modo temos dois tipos de jogos multiplayer à escolha ambos com o objectivo de fazer crescer o nosso clã à medida que vamos apanhando Supplies (mantimentos) espalhados pelos vários cenários. O combate é intenso, frenético, uma autêntica luta pela nossa sobrevivência.

The Last Of Us é uma experiência imprescindível para quem tem uma PS3. Uma narrativa fantástica, cenários deslumbrantes e um sublime trabalho de som, fazem com que este título seja talvez um dos melhores exclusivos da PS3 (se não mesmo o melhor) e um fortíssimo candidato a jogo do ano.



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