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The Legend of Zelda: Breath of the Wild | Análise

A maior aposta da Nintendo ao estilo de Hayao Miyazaki

O mundo dos videojogos e a crítica especializada rendeu-se a The Legend of Zelda: Breath of the Wild como um dos melhores jogos de lançamento de uma consola. As vendas da Nintendo Switch durante esta primeira semana reflectiram isso mesmo e no Rua de Baixo também não ficámos indiferentes, apesar de algumas reservas. The Legend of Zelda: Breath of the Wild é, sem sombra para dúvidas, um jogo muito bem conseguido, fenomenal visualmente e que permite uma exploração como poucos outros mas existem algumas mecânicas e opções de desenvolvimento que o retraiem.

Não obstante, há que ressalvar que até agora estou a adorar todos os momentos neste jogo. Não só já perdi algumas dezenas de horas nele, como ainda conto perder outras tantas a explorar este mundo que parece saído de um filme do Studio Ghibli. Ao mesmo tempo, também concordamos que este jogo é uma excelente adição e início para a biblioteca de jogos da Nintendo Switch, assim como para a série Zelda no seu todo. Apesar da narrativa não ser surpreendente, a forma como a Nintendo alterou o paradigma de exploração na série é de enaltecer, afastando-se da fórmula linear que ficou famosa com The Legend of Zelda: Ocarina of Time e Majora’s Mask. A Nintendo arriscou ao assumir uma vertente de exploração tão forte e tão livre e há que dar a mão à palmatória porque era precisamente deste ar fresco que a série precisava. Explorar esta nova aventura de The Legend of Zelda: Breath of the Wild é entusiasmante e sem dúvida merece a pena ser jogada por todos os fãs da série em específico e de RPGs no geral.

Como mencionei anteriormente, a narrativa não é surpreendente e segue os paradigmas habituais da série. Não o vou apontar como um defeito, porque afinal de contas são estes pormenores que nos fazem sentir em casa num título da série Zelda. Não obstante, o que devo apontar a The Legend of Zelda: Breath of the Wild é o facto das suas personagens principais raramente assumirem alguma profundidade ao nível daquilo que seria de esperar num título lançado em 2017. A Nintendo assume à partida que os jogadores já adoram estas personagens e isso pode ser perigoso, sobretudo porque começamos a ver cada vez mais novos jogadores a interessarem-se por estes videojogos. Felizmente, o mundo que envolve Link é mais do que rico, com várias personagens secundárias interessantes que nos vão cativando a curiosidade à medida que o vamos explorando e são elas que nos mantêm agarrados ao comando.

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Um ponto mais negativo que me aborrece em The Legend of Zelda: Breath of the Wild é o facto de, apesar da excelente banda sonora que acompanha este título, raramente darmos por ela senão em alguns momentos chave. O resto do tempo, Link vagueia no silêncio, ao som do vento e das corujas à noite. Parece-me que a Nintendo se inspirou de alguma forma em títulos como The Shadow of the Colossus e Dark Souls, em que a exploração é feita sem qualquer tipo de acompanhamento musical e o extâse acontece durante as batalhas com bosses, mas é algo que acaba por ir contra a essência da série. Não me lembro de qualquer outro título The Legend of Zelda em que, ao sair de uma casa ou dungeon, não tivesse vontade de explorar o mapa ao som da marcha habitual que compõe o tema do jogo. The Legend of Zelda: Breath of the Wild acaba por colocar apenas durante a exploração, e só em alguns momentos, alguns laivos leves de piano que reforçam a vastidão do mapa e o tempo que demoramos a atravessá-lo do ponto A ao ponto B.

Outro pormenor que me deixou desconfortável é a durabilidade das armas e os limites impostos no número de armas, escudos e arcos que podemos guardar no nosso inventário. Como é habitual na série e no mundo dos RPGs, quando encontramos um boss gigantesco – e de uma dificuldade extrema – ficamos sempre com aquela vontade extra de o derrotar porque sabemos que, no final, vamos conseguir um item especial que fará com que todos os esforços tenham valido a pena. Em The Legend of Zelda: Breath of the Wild a mecânica foi alterada e, na minha opinião, para pior. Mesmo que consigamos uma arma espectacular, o seu uso vai estar sempre limitado pela sua durabilidade (excepção feita à Master Sword que funciona de forma ligeiramente diferente). Assim que a durabilidade de uma arma expira, a arma parte-se e o jogador perde-a para sempre. Esta mecânica quase que obriga o jogador a fugir aos combates se quiser preservar a sua colecção de espadas, machados, mocas, martelos, lanças, boomerangs e afins. Isto acaba por ir contra o sistema de combate que sempre foi um dos grandes pontos de atracção da série Zelda e também contra o tempo que investimos no progresso durante o jogo e que deveria ser melhor recompensado, obrigando os jogadores a uma gestão extra que talvez não fosse necessária. Felizmente as armaduras que apanhamos ficam connosco para sempre e não sofrem efeitos de durabilidade.

Do ponto de vista técnico, The Legend of Zelda: Breath of the Wild é uma maravilha visual e é quase uma ilustração real daquilo que imaginava que o mundo de The Legend of Zelda: Link’s Awakening seria quando o joguei no Gameboy. Ao mesmo tempo, há aqui uma forte inspiração dos universos criados por Hayao Miyazaki no Studio Ghibli. Não só a nível visual, uma inspiração que é clara, mas também ao nível da temática e na forma como a natureza se relaciona com a tecnologia e no conflito que a partir daí se cria.

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The Legend of Zelda: Breath of the Wild é um jogo gigantesco e que quebra muitos dos standards da série, alguns para melhor como o afastar da progressão linear, e outros para pior como os que mencionei há alguns parágrafos atrás. Seja como for, este novo mundo incentiva-nos constantemente a partir à aventura, em qualquer direcção, para descobrir novas coisas. A vastidão muitas vezes parece querer absorver-nos demasiado mas, felizmente, existem alguns itens que nos ajudam a orientar-nos pelo mapa de uma melhor forma. O Sheikah Slate, o mais essencial dos novos gadgets, permite aos jogadores não só visualizar o mundo como se de uns binóculos se tratasse, como ainda permite assinalar no mapa vários pontos que consideremos ser de visitar ou guardar para mais tarde. Ao nosso dispor estão vários marcadores para que seja mais fácil interpretar os nossos apontamentos mais tarde. Alguns deles, aliás, distinguidos com várias cores diferentes, deixam ainda à vista uns pilares de luz que nos permitem alcançá-los ainda melhor fora do mapa. O Sheikah Slate permite ainda fazer o tracking às várias quests e sidequests que vão surgindo. Aliás, é delas que temos de falar a seguir, já que o grau de dificuldade, aliado à maneira como os objectivos nos são passados de uma forma quase criptográfica, dão uma sensação muito nostálgica e que está ainda ligada aos primeiros jogos da série. E esse é um excelente retorno ao estilo da velha guarda, obrigando-nos a puxar pela cabeça, ao contrário do aborrecido e cada vez mais habitual “vai para ali, apanha aquilo, trás de volta” sem grande essência por detrás.

A quantidade exagerada de coisas que podemos encontrar no mundo de Link é simplesmente estrondosa e, mesmo que tenhamos explorado ao máximo uma determinada zona, muitas vezes voltamos a passar por lá apenas para reparar que não tínhamos visto uma coisa ou outra. É muito fácil perdermo-nos durante tempo sem fim a explorar… Pelo mapa estão escondidas algumas mini-dungeons, os shrines, onde podemos recolher alguns itens de qualidade superior e orbs que depois ajudam a desenvolver os atributos da nossa personagem. Também pelo mapa vamos encontrando personagens fulcrais que nos ajudam a terminar missões e abrem o acesso a outras tantas, assim como inimigos que nos colocam à prova a cada instante. Nunca um Zelda foi tão desafiante como este e nunca o mundo de Hyrule apostou tanto na sobrevivência como um factor a ter em conta. O ambiente e as condições climatéricas são também eles algo que deve ser considerado a cada passo que damos. Não só temos que nos proteger do frio, como é preciso ter cuidado quando trepamos debaixo de chuva, assim como não devemos usar equipamentos metálicos durante uma trovoada. Também a stamina tem que ser bem gerida para que não sejamos apanhados desprevenidos quando não queremos.

Permitam-me ainda acrescentar que tudo o que aqui descrevi se replica na consola Wii U. Para aqueles que têm mais reservas quanto à plataforma onde melhor poderão desfrutar desta experiência posso assegurar que, apesar de uma muito subtil diferença a nível de grafismo, os possuidores de uma Nintendo Wii U – que ainda não tenham oportunidade ou que simplesmente não encontrem motivos suficientes para mudar para a nova consola da empresa nipónica – não se sentirão de todo defraudados com Breath of the Wild na sua consola. A experiência de jogo é toda ela tranversal à que poderão encontrar na Nintendo Switch. Devo no entanto salientar a pena que tive de, na Wii U, os jogadores não poderem desfrutar da conveniente funcionalidade que lhes permite manusear tanto o mapa como o seu inventário no ecrã táctil do comando. Apesar de conveniente, não deixem que a ausência desta funcionalidade deturpe a vossa experiência de jogo. O combate, a exploração, enfim…  A vossa viagem por Hyrule, bem como as fotos que quiserem tirar, através da Sheikah Slate para melhor a recordarem, tudo é igualmente espectacular na Wii U, pelo que não existem quaisquer desculpas para que esta incrível experiência vos passe ao lado!

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A Nintendo conseguiu produzir com The Legend of Zelda: Breath of the Wild um dos melhores jogos de que há memória num lançamento de uma consola. Este é um jogo repleto de excelentes momentos mas que também possui alguns defeitos. Não é um jogo perfeito, mas abre o cardápio da Nintendo Switch e fecha o da Wii U de uma forma excelente e deixa-nos ansiosos pelo que aí vem ainda este ano. A Nintendo arriscou, alterou os paradigmas, mas fez ao mesmo tempo um bom revivalismo de algumas das coisas que sempre fizeram parte da série The Legend of Zelda e que sempre nos fizeram sentir em casa. Por outro lado, estamos também a caminhar numa nova direcção com a série e isso também sabe bem para personagens que sempre fizeram parte das nossas vidas no mundo dos videojogos. Este pode ser o início de algo grandioso para Link e nós vamos estar por cá à espera no Rua de Baixo a jogar a mais um candidato a jogo do ano de 2017.



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