Thievery Corporation @ Coliseu dos Recreios (15.02.2017)
Prolongava-se pronunciadamente a fila para entrar no Coliseu quando chegámos à Rua das Portas de Santo Antão, por volta das 21h. No entanto, tudo fluía aprazivelmente, sem tempo para quebrar a boa disposição de quem se preparava para desfrutar do regresso da dupla Rob Garza e Eric Hilton a solo luso. Até porque a animação começava logo no átrio do Coliseu, com DJ’s a oferecerem ritmo à fase preambular, enquanto os portugueses Lot iam entretendo quem já tinha alcançado a sala principal. A aventura musical de projecto de Pedro Sacchetti, José Evangelista e Rui Rodrigues fez bem o seu trabalho dado que antes da Thievery Corporation entrar em palco a temperatura já era bem elevada. Talvez por isso a espera por uma vaga no balcão do bar fosse também mais prolongada que o habitual, graças uma multidão já sedenta, que preenchia por completo a plateia e as galerias.
Tendo em conta que a actual digressão da Thievery Corporation tem como mote o mais recente disco, “The Temple of I and I”, e que o mesmo é uma homenagem ao legado da Jamaica, estava na cara que a temperatura iria continuar a subir.
Contudo, a actuação arrancou com os ouvidos apontados a outras latitudes, por meio de «Facing East» (tal como o próprio nome da faixa indicia), demonstrando que apesar do último álbum centrar-se numa ilha caribenha, Rob Garza e Eric Hilton já vasculharam pautas de quase todos os recantos do globo. Depois do passeio inicial pela Babilónia, ao terceiro tema o concerto vira então o bússola para a Jamaica, numa viagem que continuou a ter os seus oportunos desvios, aqui e ali.
As primeiras cinco canções vocalizadas apresentaram-nos cinco vocalistas diferentes, que acompanham Rob e Eric nesta tour pelo Velho Continente, imprimindo quase sempre um estilo diferente às palavras que vão ecoando, quase sempre como tiros certeiros em alvos bem prementes. Umas vozes com uma toada mais dócil, mais adequada ao dub relaxado, outras pertencentes ao universo ragga, ora mais festivas, ora mais ásperas, chegando a colar-se mesmo ao hip-hop. Em «Ghetto Matrix» e «Fight to Survive», ambas retiradas de “The Temple of I and I”, houve um trio de vozes em palco, emprestando ainda mais garra às mensagens político-sociais transmitidas pela maioria das faixas do disco.
Quando chegou a altura de abandonar brevemente palco e para regressarem ao fim de um par de minutos, a dupla brindou a multidão com a doçura electrónica de «Sweet Tides» (de longe o momento mais melódico do serão), o exotismo familiar de «Lebanese Blonde» e o som rico de «The Richest Man in Babylon». Porém, o público queria mais e mais, e durante alguns minutos tentou convencer os músicos a regressar manifestando-se ruidosamente, mas o objectivo seria apenas alcançado parcialmente: Rob Garza, Eric Hilton e companheiros voltaram mas apenas para uma merecida vénia à plateia.
Numa altura em que tanto se fala de erguer muros, a Thievery Corporation continua a derrubá-los por meio do caldeirão de influências que foram coleccionando por todo mundo, que lhes confere um passaporte cultural a transbordar de carimbos.
Alinhamento
– Facing East
– Until The Morning
– True Sons of Zion
– Letter to the Editor
– Culture of Fear
– Illumination
– Le Monde
– Love Has No Heart
– Weapons of Distraction
– Ghetto Matrix
– The Heart’s a Lonely Hunter
– Vampires
– Fight to Survive
– Warning Shots
(encore)
– Sweet Tides
– Lebanese Blonde
– The Richest Man in Babylon
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