A tradição contemporânea
Tiago Pereira apresenta-se no 13.º Festival de Cinema Luso-Brasileiro, na categoria Sangue Novo. Ao certame que decorre entre 6 e 13 de Dezembro, o realizador leva os filmes mais representativos do novo olhar, e musicalidade, que trouxe ao cinema português.
Chegada ao estúdio Golden Poney encontro Tiago Pereira a montar o som do seu próximo filme, que me explica “não podes fazer filmes de música montando a imagem primeiro”. Ao optar por este método diz ter “controlo absoluto sobre a musicalidade das coisas” já que, como continua, “há uma métrica musical que impõe a montagem dos filmes, que não acontecia se eu montasse primeiro a imagem”.
Tiago Pereira apelida-se de “visualista musical” ou de “vídeo-músico”, isto é, um realizador que “tem a mesma lógica de vídeo que um músico tem com os sons”. O visualismo, explica, é “uma nova corrente que vem do Vj’ing que por sua vez vem do Dj’ing” e é essencialmente “uma forma diferente de comunicar imagens e sons”. O realizador admite interessar-se sobretudo pelo “lado performativo”, já que a corrente supõe a apresentação do vídeo ao vivo, permitindo que o público veja o realizador “montar o documentário ao vivo e tal como os DJ’s a história muda conforme a audiência”.
Outro dos focos originais e distintivos dos seus filmes é que “fogem à narrativa e não explicam tudo”, embora em Portugal conta-nos existir “uma tendência das pessoas ainda continuarem muito agarradas à história”. O que pretende realmente transmitir no seu trabalho são o que apelida de “viagens sensoriais”.
Sobre a tradição e as referências ao passado presentes no seu reportório cinematográfico Tiago Pereira nega serem “um fetiche cinematográfico”, ou tão pouco se considera um “documentarista tradicional”. O seu objecto de estudo é “a representação visual da música” e confessa que “a única representação visual, hoje, que podes ter da música filmada em contextos outside é no campo, nestas velhas da tradição”. Os portugueses, explica Tiago Pereira, “negam as raízes do país e passam a vida a negar a ruralidade”, realidade que se sucedeu “a seguir ao 25 Abril” quando “o que era bom não era ser rural era ser urbano e então há um êxodo total para as cidades”. Aqui Tiago Pereira assume-se como “uma ponte e uma ligação entre a arte contemporânea e a arte popular” e admite não ter “vergonha do campo”.
Depois de mais de uma década de filmes, Tiago Pereira integra a selecção de filmes para a categoria Sangue Novo onde estão representados os que considera os seus filmes “mais musicais”. Sobre o visualismo que adoptou no seu trabalho e que conferiu uma nova dimensão cinematográfica à história dos filmes em Portugal, o realizador assume como objectivo “trazer um outro olhar para as coisas”. O realizador acrescenta que “difícil é construíres uma carreira, é construíres um nome e uma linguagem própria”. No futuro, Tiago Pereira continuará a explorar “as relações da contemporaneidade com a tradição e da contemporaneidade com a música e a representação visual da música na contemporaneidade”, que é sem dúvida o core do seu trabalho no cinema.
Tiago Pereira estará representado no 13º Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira, que decorre entre 6 e 13 de Dezembro, com os filmes “B Fachada – Tradição Oral Contemporânea”, “Arritmia”, “11 Burros Caem no Estômago Vazio” e “Aniki na Casa”.
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