TIGRALA + GATE @ ZDB
19 de Junho.
Tigrala
Norberto Lobo, virtuoso guitarrista flamejante e gélido em simultâneo, juntou-se aos fantásticos grooves e malabarismos sonoros de Guilherme Canhão dos Lobster e à enciclopédia rítmica e melódica ambulante de Ian Carlo. A Ian Carlo, podem apelidá-lo de percussionista, mas isso é apenas a ponta do icebergue. É acima de tudo um criativo. Um pensador de ritmos e melodias. Um explorador, que deixou a sua terra natal – o México – para estudar percussão em Portugal, participando em inúmeros projectos, dos mais variados quadrantes musicais.
Como se pode constatar, os Tigrala são um projecto constituído por uma mescla de artistas de correntes musicais, que à partida não sonharíamos ver juntas.
O aquário da ZDB rodava as suas ventoínhas em velocidade máxima, para tentar fazer esquecer o bafo infernal de Verão. As pessoas agarravam-se às suas imperiais com amor quase platónico. Uma enorme São Bernardo arfava de língua pendurada, estendida no fresco das escadas antigas. No palco, duas guitarras e a parafernália de Ian Carlo. Um xilofone, um djembé, guisos, chocalhos, uma mesa com uma lata em cima e, imagine-se, um guiador de bicicleta com campaínhas e bonecos buzina. Norberto Lobo começou o concerto com um instrumento que se assemelhava a um banjo. Canhão, do seu lado, abraçou-se à guitarra clássica com a sua usual concentração. A partilha do momento e a satisfação entre músicos transparecia nos olhares e sorrisos que trocavam. O público assistia sentado. Recebia a música como uma longa e pausada massagem sonora aos ouvidos. Ian Carlo decidiu pôr fim ao sossego. Como intro para a última música do concerto, improvisou com as mãos, os pés, a voz e o bater da lata enquanto os restantes membros da banda se aventuravam no xilofone.
Mais uma demonstração de que em Portugal há uma nova geração de músicos, que insiste em fazer música desprendida de imposições e baseada apenas no sentimento e na partilha de emoções verdadeiras. É o que a música deve ser.
Gate
Michael Morley, guitarrista e vocalista dos noise rockers neo-zelandeses Dead C, chega a solo ao palco da ZDB. De botas de cowboy pretas e segurando a sua Telecaster caminha até ao seu posto. Senta-se ao lado de um computador colocado sobre uma mesa e diante dos seus pedais de efeitos. O concerto começa e prolonga-se sem que ele balbucie uma palavra. Loops vão-se amontoando graciosamente, enquanto pessoas caminham lá fora de bebida na mão. O suor pinga-lhe testa abaixo.
Quando de súbito ligou a distorção, amaldiçoei a hora em que me sentei na primeira fila. Esta é uma noite de verdadeiro fritanço à boa maneira oldschool da ZDB. Décibeis estraçalham os tímpanos sem dó nem piedade, enquanto o Sr. Morley vai mexendo no seu laptop com ar convicto. Dão-se as primeiras baixas na audiência. Levanto-me para recuar um pouco e não sofrer tanto com o ruído e apercebo-me que, para além de mim, há mais nove ou dez pessoas na sala. Heróis.
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